sábado, 31 de maio de 2014

IRMÃOS ANIMAIS ?








S.N



Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar 





©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2014
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A missão pedagógica da Filosofia rumo a Libertação Animal


Coruja, símbolo da sabedoria e da filosofia


"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter,
e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com
os animais não pode ser um bom homem."
Arthur Schopenhauer


Sempre que relaciono Filosofia e Libertação Animal, recordo-me de duas grandes frases que ficaram gravadas em minha mente: "Aprender Filosofia ou aprender a filosofar"1, e a segunda de peso ainda maior, que foi dita pela filósofa Sônia T. Felipe durante uma palestra sobre o Estatuto Moral dos Animais, em meio a mestres, doutores e alunos de filosofia: "E o filósofo não pensa"2. Por aí vemos que uma relação muito forte prende as duas questões: Como pensar, senão através do aprendizado, e como aprender se não conseguimos pensar? É claro que para que o futuro filósofo pense acerca da Libertação Animal, é necessário que ele aprenda algo sobre esse assunto. Contudo, obras de filósofos que falam sobre a Libertação Animal permanecem distantes da grande maioria dos alunos de Filosofia, discussões acerca dessas questões, segundo alguns professores, serão tratadas mais adiante: "...quando aprendermos sobre o antropocentrismo e sobre o antropomorfismo"; porém, acredito que seja difícil dizer que alguns não saibam, mas aprendemos a ser antropocêntricos logo no primeiro dia de aula.

O Ser3 filosófico é Humano e o não Ser, é animal, ou seja, não existe, não possui valor moral nem pode ser encarado com respeito, afinal, inexiste. "A razão é o que separa os homens dos animais", nos disse Aristóteles. "O homem é a medida de todas as coisas", nos disse Protágoras, "das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são", ou seja, somos a lei, somos as tradições, violem elas ou não as vidas alheias dos que não nos são iguais, criamos e revertemos todas as regras conforme desejamos.

Homem como medida de todas as coisas
E a Libertação Animal permanece longe dos bancos catedráticos como se fosse um estigma a sociedade, como se não fosse importante, não fazendo parte de nada que se refira a Ética, como se fosse ético matar e como se fosse ético proporcionar dor. Por isso um dos conceitos mais importantes na formação da Filosofia para a Libertação Animal é a Pedagogia - caminho a ser trilhado -, pois esse processo educativo pode levar tanto a opressão como a libertação, podemos não acreditar, mas existem filósofos que não possuem qualquer respeito para com a Natureza e para com a vida dos animais, sem contar que a grande maioria é antropocêntrica, não se dedicando ao estudo da moral e da ética em relação aos animais. E a Filosofia busca a todo o momento, pela eticidade dos homens, esquecendo que fazemos parte de um círculo muito maior do que o dos "divinizados" seres humanos. Libertar o homem de sua "maldade", livrar o homem de sua mão opressora através da visão de Mundo, essa é a tarefa principal da Filosofia na busca por uma ética da Libertação Animal, e por Libertação Animal devemos compreender a "Nossa Libertação", pois que também somos animais e necessitamos dessa liberdade para enxergarmos a verdade; conduzir bem esse processo de modo a que possamos nos encaminhar a Libertação e não mais a opressão, é a real tarefa da Filosofia. Através do método pedagógico, de formação, através dessa troca de conhecimento, a Filosofia poderá apresentar ao aluno todas as facetas de uma ética desprovida do antropocentrismo e de qualquer vaidade filosófica, pois os professores, seus alunos, enfim, cada pessoa já é em si mesma, formadora de opinião. Somos todos seres influenciadores e seres influenciados, pois ao mesmo tempo que interferimos no Mundo, pedagogicamente, sofremos interferências dele, também pedagogicamente. Por isso a importância dessa mudança na visão educacional dentro da Filosofia, pois a formação da sociedade tem inicio no nascimento de cada indivíduo, onde somos forjados para marginalizar os animais, a explorar seres que julgamos inferiores, principalmente quando não fazem parte da mesma espécie a qual pertencemos; nossos pais,esses os primeiros pedagogos, foram ensinados a não verem nada além da existência humana, e passaram essas lições adiante.

A difícil missão da Filosofia é agora:


1° - Libertar-se do preconceito e da vaidade

2° - Passar adiante a verdade, tal como ela é, sem espelhar-se em sua "opinião pessoal", deixando que o aluno considere o que lhe é mostrado, que problematize e compare o que aprendeu desde a infância, com aquela nova revelação que lhe surge

É certo matar animais? Por quê? Baseado em quê? Pode-se viver perfeitamente saudável sem a ingestão de vísceras de animais? Se sim, por que nos ensinaram o contrário? 

Boi
Quem lucra com a matança? Qual a ligação entre o abate de animais e a fome mundial? 

É possível mesmo acreditar na existência de uma ética que continue privilegiando uns e oprimindo outros?

Essa á função da Filosofia, fazer o futuro filósofo se questionar, buscar respostas, criar novos sistemas filosóficos não mais antropocêntricos. Privilegiar a Vida em nome da Ética e a Ética em nome da Vida.

"A vontade de poder-dominação define o perfil do ser humano das sociedades modernas". (Nietzsche).


A Filosofia ainda está presa a muitas tradições, dominada pelo antropocentrismo filosófico dos grandes homens que a fizeram nascer, existe uma ética do corpo, porém de corpos humanos, enquanto corpos de animais se avolumam num holocausto bárbaro sem fim. Mas, "o filósofo não pensa", e precisa recomeçar a pensar, pois é assim que a verdadeira Filosofia deve ser trabalhada, estudada e praticada.

"Aprender não é o bastante, é preciso praticar". (Bruce Lee)


É dever da Filosofia, através da pedagogia, "bem" dirigir os indivíduos rumo a uma ética que liberte animais humanos e não humanos, eis aí o caminho para a verdadeira Libertação Animal.




Referências Bibliográficas

FELIPE, Sônia T. - O estatuto dos animais na comunidade moral humana - Projeto Kairós- Umesp.2008
RAMOS, Cesar Augusto - Aprender a filosofar ou aprender a Filosofia: Kant ou Hegel?
BARNES, Jonathan - Filósofos Pré-socráticos.



NOTAS
1 Artigo de Cesar Augusto Ramos, onde ele traça um paralelo entre os pensamento de Kant e Hegel, diante do ensino da disciplina de Filosofia.
2 Colóquio Kairós-Umesp
3 Referência casual a Parmênides e ao Ser.Segundo ele o Ser é(existe), o não Ser, não é (não existe) e não se pode falar sobre algo que inexiste.





Simone Nardi









Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão  Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.







Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
FALE CONOSCO 
Nos Ajude a divulgar 
Twitter 
Facebook 
Enviar por email




©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2014
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2014


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Verdades Animais - Banana Pop

BANANA POP

 

 

 




Autora: Mariana Valentim é publicitária e desenhista, formada na ESPM, escola Superior de Propaganda e Marketing.





Site da autora dos Quadrinhos: Banana Pop





Descrição dos quadrinhos para DVs (BLOG);


Banana Pop, menina vestida de calça azul, camisa, tênis e gorro rosa, está empurrando um carrinho de supermercado com um Piu Piu amarelinho sentado dentro e diz para uma outra garotinha no supermercado que está vestida de tênis azul , camiseta azul e sainha rosa.

_  Olha, você ganhou o mascote da empresa de nuggets, deixa eu ver.

E a menina com o mascote branquinho nas mãos diz:

_ Piu Piu amigo.

Banana Pop  prossegue:

_ É. Eu também tenho um Piu Piu amigo, só que amarelinho.Quer saber por quê o teu é braquinho?

E a menina pergunta:

_ Por quê?

E mais que depressa Banana Pop responde:

_Porque ele é um fantasma, porque ele está morto! Moooooooorto!

A menininha sai correndo e gritando .

_ AAAAAAHHHH...

E Banana Pop grita para ela que se distancia.

_ Frangalitos não crescem em pés de nuggets! Pergunta pro papai e pra mamãe de onde eles vem!

Enquanto isso o Piu Piu amarelinho no carrinho de compras  interrompe Banana Pop.

_ Mas você é uma besta mesmo. Traumatizou a garotinha.

Banana Pop se vira para o amiguinho e continua.

_ Pinto, não seja ingrato.Estou fazendo um favor para a menina.Ela tem que saber desde cedo que está mastigando animais disfarçados de comida.

E o Piu Piu amarelinho relata:

_ Ela está espancando os pais com um pão italiano.

E sorrindo Banana Pop fala.

_ Hehe, isso não é nada.Imagina quando ela descobrir que Papai Noel não existe?

De longe, fora do quadrinhos, lemos a menina gritar...

_ O Quê ?...



Fim

 

 

 

Gostou desta receita?
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar 





©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2014
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2014

 


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Ética , Liberdade e Alimentação

Calvin desesperado e cheio de dúvidas,desenhista Bill Watterson


Quando iniciamos o Blog não esperávamos tantas dúvidas partindo dos leitores, aliás, até esperávamos, mas não tantas referentes as mesmas questões; estudamos o espiritismo de uma forma não dogmática, bem como não temos ídolos dentro deles e assim podemos falar e comentar livremente sobre qualquer assunto abordado pelos mais diversos oradores.

Não somos contra o Espiritismo, ao contrário, somos contra aqueles que tem dogmatizado o espiritismo em favor próprio. Somos contra aqueles que em pleno século 21 - como eles mesmos colocam - no alvorecer de grandes mudanças, permanecem presos ao um passado antropocêntrico.Prometem um mundo de regeneração, mas não querem se regenerar.

Heis que recebemos de um leitor uma outra palestra do grande expositor espírita Raul Teixeira, sim, ele mais uma vez tocando num assunto que parece desconhecer e não reconhecer.

Veja que não desmerecemos em nenhum momento o excelente trabalho de divulgação que Teixeira faz do espiritismo, mas percebemos certo ressentimento em suas palavras toda vez que ele se refere ao vegetarianismo, o motivo? Somente ele sabe.

Vamos a fala e posteriormente iniciaremos nossos estudos:


Allan Kardec

Raul Teixeira



"É muito importante aprendermos a viver numa sociedade plural, onde as pessoas são como querem ser. Desde que elas não desrespeitem ao status quo, aos direitos dos outros, cada um viverá como sabe, como pode.Há pessoas que são vegetarianas, outras são macrobióticas, muitas são lacto-ovovegetarianas, lacto-ovofish-vegetarianas, outras são carnívoras. Qual é o problema?Há mercado para todos, há lugar para todos, há espaço para todos. Mas quando não sabemos viver na relação social saudável, quem é vegetariano começa atormentar o outro que come carne: Como você come carne? Como você carrega um cemitério na barriga? Como você sacrifica os bichinhos?Da mesma maneira que o outro que fala tem a língua ferina. As liberdades. Imaginemos se a criatura quer impor a sua vontade a terceiros. Não permitimos que o mal do outro nos alcance porque estaremos vincados na frequência do bem, estaremos atrelados à frequência do bem.Quando vivemos uma relação saudável na sociedade, o mau exemplo dos outros não pode servir de exemplo para nós se somos pessoas do bem."




"É muito complicada essa questão da escolha, mas temos que escolher, é opção nossa.Quando pensamos no alimento que desejamos para cada dia, que tipo de refeição queremos fazer, a escolha é nossa.Se escolhemos alimentos de graxa, alimentos condimentados, alimentos leves, vegetarianos, escolha nossa."






Raul Teixeira, em seu primeiro texto, dá a impressão, em determinados momentos de sua mensagem, que é somente o vegetariano que atormenta o carnívoro, como se o inverso não ocorresse: "O que , mas você não tem pena das alfaces? Nossa vai ficar descorado se não comer carne. Ai você tem pena dos bichinhos, um bifinho só não fará mal..."

Sem contar que alguns carnívoros comparam vegetarianos a nazistas, fazem piadas irônicas de quem defende animais e criticam tais pessoas a todo momento em seus livros e em suas palestras questionando sempre: "Mas e as criancinhas??"

A relação dele com os vegetarianos igualmente não parece tão saudável como ele deseja colocar, já que por diversas vez coloca o vegetariano como o lado ruim dentro de uma relação social. Seria medo de encarar a verdade? Só ele novamente é quem pode dizer.Mas é perceptível a aflição que ele sente em relação a este assunto.

A pergunta dele é:

Qual o problema em ser carnívoro?


Nenhum problema.

Isso se desconhecemos totalmente tanto as palavras do espiritismo em relação a essas questão e ainda mais se desconhecermos o que ocorre com os animais que irão servir de bife para os carnívoros. Se desconhecermos tudo isso com certeza, ser carnívoro não acarretará mal nenhum;Mal nenhum a pessoa , o que não significa que não faça mal nenhum ao irmão animal, que deveria ser o cerne da questão vegetarianismo X carnivorismo, mas que é sempre deixado a deriva.

E ficamos na dúvida:

Seguimento do abate, o rico explora o pobre que explora o animal
Raul Teixeira realmente sabe o que ocorre com os animais antes de virarem "bifinhos"?

Se sabe e não se importa, ser carnívoro já denotará outra preocupação.A de conhecer e se posicionar do lado de algo que gera mal, ainda mais quando ele trata das pessoas de bem.Uma pessoa de bem não pode gerar o mal.

Se não sabe, não lhe fará mal, porém pensamos: Tão estudioso do espiritismo e não reconhece os animais como irmãos??? Será mesmo possível?

De qual língua ferina ele estará falando?

Da língua do vegetariano que lhe fala a verdade sobre os animais embora ele não queira ouvir ou da dele que trata os vegetarianos quase como inimigos?

Essa também é outra questão que somente ele poderá responder.

Interessante ler que ele zomba, não apenas dos vegetarianos , mas de um escritor espírita respeitado : Irmão X, já que foi quem escreveu sobre o cemitério na barriga.Imaginemos se aceitarmos a imposição de Teixeira no que se refere a alimentação a base de corpos de irmãos animais...


Realmente, nós "Não permitimos que o mal do outro nos alcance porque estaremos vincados na frequência do bem, estaremos atrelados à frequência do bem." Evitando a morte de irmãos que estão neste planeta para evoluir, e falando algumas "verdades" que muitos não desejam ouvir. Viver uma relação saudável com a sociedade é não consumir água em demasia como sabemos que ocorre para a fabricação de 1 quilo de bife. É evitar a contaminação do solo e da água com detritos que provenham dos corpos de animais que foram mortos para saciar o paladar e não a fome.

No segundo texto ele fala sobre liberdade de escolhas, mas vejamos onde ele tropeça , mais uma vez:

Segundo o filósofo Mário Sérgio Cortella:

"É impossível falar em ética sem falar em liberdade.Quem não é livre não pode, evidentemente, ser julgado do ponto de vista da ética."

Se somos livres para escolher podemos assim , sermos julgados por nossa ética. 

Mas o que é ética?

Recorrendo novamente  a Cortella teremos que:


"Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para decidir as grandes questões da vida e definirmos nossa conduta. As questões fundamentais são: Quero, Posso e Devo. Tem coisas que eu quero, mas não posso; Outras que eu posso, mas não devo e; Que eu devo, mas não quero."

Segundo o Filósofo, todos temos paz de espírito quando aquilo que queremos é aquilo que podemos e que devemos. A ética está ligada a liberdade e aqui diremos mais, ao livre arbítrio, lembrando sempre que a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória.


Como é possível então termos paz de espírito se matamos animais para saciar a gula?

Vejamos :As questões fundamentais são: Quero, Posso e Devo.  


Cortela coloca que:

Tem coisas que eu quero, mas não posso

Quando sabemos que vamos prejudicar o Outro, pensamos assim, eu quero fazer determinada coisa, porém não posso pois  vai prejudicar não somente a mim, mas ao meu próximo. Então eu, de acordo com minha liberdade de ação, Não Faço.

Outras que eu posso, mas não devo 

Eu até poderia me alimentar dos corpos de animais, não há mal em comer carne, mas não devo, porque para que eu coma carne é preciso que uma outra pessoa mate , e que um animal morra. Então não devo.

Que eu devo, mas não quero.

Aqui uma coisa engraçada, eu sabendo do fato dos animais morrerem de forma cruel para virarem carne, deveria virar vegetariano, mas não quero.

Ou seja, nós usamos a nossa liberdade como ela nos deixa feliz, não de acordo com a necessidade de vida do Outro, parece-nos que Raul teixeira está sempre muito preocupado com seu paladar e com a de outras pessoas, mas nunca com a vida dos animais. A liberdade dele gira apenas em torno dos seres humanos, sem que ele se preocupe como é que a carne se transforma em carne, ou melhor, como o irmão animal se torna um ser morto num prato.

Desenho : Boi
Então o Quero, Devo e Posso, para este orador funciona somente quando se trata de outra pessoa, jamais de outro Ser Vivo que merece também, respeito e misericórdia, ou seja, ele não reconhecendo os animais como seres de valor, é simples permanecer defendendo o carnivorismo.

A escolha é dele, concordamos, mas que ele a faça consciente de que seu ato implica em morte para o Outro, mesmo que ele se recuse a reconhecer esse Outro.




 

Simone Nardi



Fonte do artigo em questão: Raul Teixeira



Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar 






©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2014
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2014
      

terça-feira, 27 de maio de 2014

A morte dos deuses

 

"Deus está morto", bradou Nietzsche em sua feroz crítica ao cristianismo, ao passo que o declínio da tragédia, também detectado pelo filósofo alemão, representou também uma passagem do pensamento mítico para o lógico...

por Simone Nardi Grama*





Os gregos foram os responsáveis por espalhar pelo mundo a sabedoria acerca da ciência e da religião. Para eles a Grécia era o centro da Terra, e o Monte Olimpo , na Tessália, era a morada de todos os deuses, de onde eles comandavam a bel prazer o destino dos homens. Havia um deus para cada ato, para cada sentimento dos filhos da Grécia. Ares, deus da guerra; Eros, deus do amor; Afrodite , deusa da beleza; Apolo, deus da música; Dionísio, deus do vinho, entre tantos outros deuses que faziam parte e regiam a vida grega.
O mundo grego era sagrado. E essa estreita ligação com os deuses igualmente permitia uma profunda união com a natureza, propiciando o que seria para eles uma vida harmoniosa e equilibrada, graças a duas potências cósmicas: Dionísio e Apolo. Porém, ocorreu um distanciamento em algum ponto da história grega, que acabou por causar o que Nietzsche chamaria de decadência do modo de viver grego, a tragédia havia sido esquecida, a morte precoce da Filosofia teria sido então anunciada, segundo o filósofo , por culpa da dialética socratiana. Nietzsche expõe claramente em suas obras esse conflito e esse distanciamento entre homens, deuses e natureza, dois mundos artísticos e antagônicos que uniam homem e natureza, cada um em seu mundo, um de sonhos e de beleza onírica , outro de uma profunda realidade. No entanto um deles havia morrido para o mundo.

Monte Olimpo
Mais alta montanha da Grécia, com 2.917 metros de altitude, o Monte Olimpo ao qual se refere o texto fi ca próximo ao Mar Egeu, na Tessália, local que, de acordo com a mitologia grega, seria a morada dos principais deuses do panteão. No entanto, o nome é comum na Grécia e há diversos lugares com essa denominação. E até o planeta Marte tem o seu Monte Olimpo: em 1971, a sonda espacial da NASA Mariner 9 detectou um vulcão extinto em Marte, o maior do sistema solar, que sendo batizado com o nome Olympus Mons.

Afrodite
Amor, beleza, sexualidade... Eis os atributos, para a mitologia grega, de Afrodite, a deusa de tantos amantes. Em outras tradições míticas e culturais, há deusas com características análogas, como a Cypris (no Chipre) e Hátor (Egito), além, é claro, da deusa romana Vênus.

Mas, seria possível relacionar a ideia da “Morte de Deus” em Nietzsche com a morte do deus grego e, consequentemente, da tragédia na Grécia, buscando na passagem do pensamento mítico para o pensamento lógico um dos pontos principais e que teria sido o causador da decadência dos deuses gregos, já que parece ocorrer uma perda maior na crença em Dionísio nessa transição, tal como se o autor dissesse que a metafísica platônica do mundo sensível e o mundo das ideias, que subjetivamente iremos comparar a Apolo e Dionísio ou da necessidade de um deus, houvesse perdido qualquer sentido de existir dentro de uma nova racionalidade que, para Nietzsche, havia sido decretada por Sócrates?

DEUS ESTÁ MORTO, A TRAGÉDIA ESTÁ MORTA!

Essa importância dos deuses na Grécia é narrada em o Nascimento da Tragédia, que foi publicado em 1872, nele Nietzsche fala sobre a oposição entre o apolíneo e o dionisíaco, entre a razão e a emoção, dois deuses cultuados pelos gregos, duas pulsões cósmicas poderosas e diferentes entre si. De um lado, Dionísio, deus do vinho, inebriador dos sentidos humanos, tomando-os de prazer e libertando-lhes os instintos, o coro da tragédia grega, no entanto, libertos de Dionísio, retornariam os homens ao estado apolíneo, da razão cotidiana. Apolo, deus da música e da arte que, diferentemente de Dionísio, é um deus mais racional, intelectual, estético e moderado. A dialética entre esses dois deuses é que permitia aos gregos viverem em equilíbrio. Toda a vida grega era retratada nesse modo de viver equilibrado, na alternância das pulsões cósmicas desses dois deuses, o que teria permitido o surgimento da cultura trágica na sociedade grega, sendo que essas duas potências transitavam na ética, na estética e na religião dos gregos.

Para Nietzsche, os seres humanos eram a ligação entre essas duas potências e jamais deveriam ter se afastado delas. Foi esse afastamento que teria causado o desequilíbrio dos dias atuais, muito mais ligado às ações racionais do que às ações inebriantes, para ele o culpado desse afastamento teria sido Sócrates, que teria feito com que a natureza acabasse por ser humanizada e racionalizada ao extremo. “(...) A grande tragédia grega se apresenta como característica do saber místico da unidade da vida e da morte, nesse sentido, constitui uma ‘chave’ que abre o caminho essencial do mundo. Mas Sócrates interpretou a arte trágica como algo irracional, algo que apresenta efeitos sem causas e causas sem efeitos, tudo de maneira tão confusa que deveria ser ignorada [...] Segundo Sócrates a tragédia desvia o homem do caminho da verdade: ‘uma obra só é bela se obedece à razão’”. (Pensadores,1999,p.9)

As antigas religiões gregas, bem como seus deuses, desapareceram ao deixarem de ser cultuados pelos seres humanos, a razão socrática venceu, os deuses morreram.

Vejamos como Nietszche anuncia em seu aforismo 125, A Gaia Ciência , a morte divina:

O Insensato – Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs- -se a gritar incessantemente: ‘Procuro Deus! Procuro Deus?!’ – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou- os com seu olhar. ‘Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fi zemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fi zemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘em baixo’? Não vagamos como que através de um anda infi nito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele ainda mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodreceram! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e o mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer digno dele? Nunca houve um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa deste ato, a uma história mais elevada que toda a história até então!’ Nesse momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles fi caram em silêncio, olhando espantados para ele. ‘Eu venho cedo demais’, disse então, ‘não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a mais longínqua constelação – e, no entanto, eles o cometeram!’ – conta-se também que no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas, e em cada uma entoou o seu Requiem aeternam deo. Levado para fora e interrogado, limitava-se a responder: ‘O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de Deus’?


A Gaia Ciência
Lançado em 1882, A Gaia Ciência (Die fröhliche Wissenschaft) foi escrito no estilo aforismático característico de Friedrich Wilhelm Nietzsche. Nessa obra, Nietzsche mencionou pela primeira vez Zaratustra, o profeta persa, personagem central de seu livro mais famoso, Assim Falou Zaratustra.

Não se deve compreender o aforismo acima através de uma visão ateísta, mas deve-se compreendê- lo tal como é analisado por Nietzsche a morte dos deuses gregos, na verdade a morte dionisíaca, o afastamento da emoção pela razão extrema, o desequilíbrio entre homens e natureza, a perda do equilíbrio entre duas pulsões cósmicas que permitiam e forneciam aos homens a vontade de viver. O que teria de semelhante a morte desses deuses com a morte do deus nietzscheniano?

A princípio pode-se questionar: Quem anuncia no aforismo a morte de deus? O Insensato, o homem louco, aquele que estava mais próximo à natureza, que ainda consegue ver em tudo o verdadeiro conceito do realmente sagrado, do trágico. Quem questiona sobre a morte de deus bem pode ser o homem dionísico, com seu lado desmedido e cheio de uma vontade de viver embriagante, aquele mais ligado a Physis que conhecia e não temia os trágicos momentos do existir, assim como a religiosidade em torno deste que bem poderia ser o epicentro da religião grega, Dionísio havia morrido, o Deus que havia igualmente sido morto e enterrado pelos homens era igualmente procurado por ele, pelo insensato, pelo louco.

Se Dionísio trazia em si, como refere Nietzsche, aquela potência que permitia aos homens arrebatar-se pelo êxtase, transformando-os muitas vezes em algo para além de si mesmos - do homem do dia a dia, com suas elucubrações e deveres – sua morte seria inevitável diante da racionalidade apolínea, tal como o deus morto. Tal como a racionalidade socrática matou os deuses, a racionalidade humana havia matado Deus, não havia mais espaço para a divisão entre o mundo das ideias e o mundo sensível, por isso o anúncio “deus está morto”.

Se Nietzsche teve coragem de proclamar que Deus estava morto, teve ainda mais coragem de dizer que a decadência da Filosofi a e dos seres humanos havia ocorrido no exato momento em que ele, o ser humano, decidira romper com o equilíbrio entre ele e a natureza. Esse rompimento com a natureza é de onde viria a verdadeira força vital dos seres humanos segundo Nietzsche, era expressa na visão de Tragédia, responsável pela unidade entre vida e morte e com o qual os gregos viveram durante anos.

E assim como o louco que diz: “‘Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu.’” (Nietzsche), podemos dizer que para Nietzsche, a superação da razão encontrada na pulsão apolínea matou não somente os deuses gregos, mas o deus morto por Nietzsche ao separar Mythos e Logos, e esse ato trágico é bem claro na frase do louco que mais uma vez questiona: “Que fi zemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós?” (Nietzsche).


SEPARAÇÃO ENTRE APOLO E DIONÍSIO

Que fizeram os seres humanos ao separar o dionisíaco do apolíneo? Ao matar aquilo que era mais sagrado e que, nas mãos dos seres humanos, sangrou? Seria necessário reaprender a viver com o peso desse assassínio, já que nos afastamos, por opção, do equilíbrio com a natureza. A verdade que buscávamos no Logos, com a morte de deus virou ficção e sequer nos apercebemos disso. Assim também, a morte dionisíaca não nos levou à verdade que Sócrates esperava, mas acabou por nos levar a viver uma farsa de uma natureza que não nos pertence: “Abolimos o mundo verdade: que nos restou? O aparente, talvez?... Não! Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente”. (Nietzsche). Um mundo meramente aparente que carregamos como um mundo verdadeiro, não morrem apenas os deuses, mas morre também a natureza trágica humana, não apenas a grega.

Preciso é também, nos atentarmos a quem o louco, o insensato pergunta sobre deus: “E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros” (Nietzsche).

O louco pergunta por deus àqueles que não mais acreditavam nele. Nós que aqui estamos, não mais acreditamos em Mythos, nos habituamos ao Logos como se fosse ele nossa única razão de viver, nosso único modo de vida. Temos medo de experimentar o dionisíaco, de nos deixarmos ser o que realmente somos, por isso somos todos razão, questionados por um louco sobre nosso equilíbrio com a natureza, equilíbrio este que antes existia, mas que nossa razão fez desaparecer e dia a dia enterramos os deuses, ao manter essa cisão: “Com tua espada de fogo, despedaçaste o gelo da minha alma, e esta já corre ao mar da alta esperança como corre a torrente impetuosa... deslumbrante de alegria e liberdade.” (Nietzsche).

O culto dionisíaco deixou de existir na Grécia, sua ação inebriante que exaltava o lado humano, considerado por Nietzsche o mais puro e o melhor, foi esquecido e enterrado, o mito sucedia assim à lógica. O que no leva a relembrar o aforismo 124 de Nietzsche em A Gaia Ciência:

No horizonte do infinito – Deixamos a terra firme e subimos a bordo! Destruímos a ponte atrás de nós, e mais, destruímos todos os laços com a terra atrás de nós. E agora, barquinho, toma cuidado! Junto a ti está o oceano, é verdade que nem sempre ele ruge; e estende-se às vezes como sede e ouro, e um sonho de bondade. Mas, virão horas em que reconhecerás que ele é infinito e que não existe nada que seja mais terrível que o infinito. Ah, pobre pássaro, que te sentias livre e que esbarras agora contra as grades desta gaiola! Pobre de ti se fores dominado pela nostalgia da terra, como se lá tivesse havido mais liberdade... agora, já não há mais “terra” ! (Nietzsche,2007,p.115)

A morte de deus é mais uma vez a superação da metafísica, pois a compreensão de deus como Arché e Telos de todas as coisas, e tal como a separação entre o que era apolíneo e dionisíaco, a morte de deus ou no caso dos gregos a morte da tragédia, deixou a todos nós sem um rumo a seguir, não há mais a mesma estabilidade de outrora ou fundamentos que nos permitam enxergar mais adiante, sua morte roubou nossa referência.

Arché
Arché é a expressão utilizada pelos filósofos pré-socráticos para designar a origem das coisas, ou melhor, o princípio que rege o início e o desenvolvimento da vida. Tales de Mileto considerava a “água” o arché; Xenófanes, a terra etc.

A morte de deus em Nietzsche é uma clara crítica ao cristianismo platônico, porém a morte da tragédia é também a morte a Dionísio e a sua pulsão na natureza humana. A tragédia, ao contrário do que dissera Sócrates, não tinha a função de iludir os homens, mas de mostrar-lhes toda a profundeza do mundo no qual existiam, para que percebessem a verdadeira natureza, fosse ela maravilhosa ou terrível dentro da existência dos homens, o certo é que ela só era possível se houvesse equilíbrio entre o apolíneo e o dionisíaco, sem um ou outro, a tragédia se findaria: “Eis a nova contradição: o dionisíaco e o socrático, e por causa dela a obra de arte da tragédia grega foi abaixo”. (Nietzsche).

Com o fim da ideia platônica de mundo sensível e mundo das ideias, a morte de Deus igualmente havia sido decretada, não havia espaço para ele na realidade humana, tal como não havia mais espaço para a tragédia e para Dionísio na vida dos gregos, os deuses assim vencidos pela razão humana, morreram.


*Simone de Nardi Grama é graduada em Filosofia e especialista em Filosofia Contemporânea e História pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).



Fonte Filosofia: Conhecimento Prático










Simone Nardi









Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão  Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.







Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
FALE CONOSCO 
Nos Ajude a divulgar 
Twitter 
Facebook 
Enviar por email




©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2014
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2014