quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sem sonho não há empatia - a dor do outro



Filhote de orangotango


Tecnicamente falando, empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro e, em imaginando o que ele está sentindo em determinada situação, emocionar-se com tais sentimentos, de forma negativa ou positiva, graças a essa projeção de consciência. 


Podemos nos ver refletidos no bonitão da TV que pega um monte de gatinhas com um estalar de dedos, ou no intelectual talentoso, que comove multidões com a profundidade de suas obras. Podemos ainda, à guisa de exemplo, imaginarmo-nos na pele do bombeiro destemido que, com suas ações heroicas, salva vidas diariamente. Ou mesmo nos projetarmos naquele atacante habilidoso – embora eles estejam cada vez mais raros -, cujos dribles, gols e jogadas incríveis levam ao delírio os torcedores. No entanto, tais exercícios de imaginação não constituem, essencialmente, processos empáticos, na exata conotação do termo, não obstante os primeiros possam ser entendidos, de certa sorte, como fenômenos psicológicos semelhantes aos segundos, haja vista terem em comum a exigibilidade da faculdade imaginativa para se processarem.

Quando sonhamos ser o galã da TV ou o craque famoso, descansando folgadamente na paradisíaca Ilha de Caras, cercados de mimos e mordomias por todos os lados, estamos, obviamente, fazendo um exercício de imaginação que pode satisfazer ou frustrar nosso ego de maneira momentânea mais ou menos demorada, dependendo do ângulo pelo qual o processo seja interpretado por nossa psique. (Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou ser o Brad Pitt ou o Bono, do U2.) Contudo, tais projeções, tanto num quanto noutro caso, representam a exteriorização pura e simples de nosso egoísmo, tendo em vista que, por meio delas, transportamo-nos para o lugar do outro apenas visando à satisfação de desejos particulares, que não implicam necessariamente o bem coletivo ou de outro indivíduo, além de nós mesmos. Daí sua diferenciação da empatia. 

A empatia é o componente psíquico de nossa personalidade que abala nossa zona de conforto e nos faz sentirmos a dor do próximo, imaginando-a em nós mesmos. A princípio, pode não parecer, mas a maioria esmagadora dos seres humanos a possui, latente, dentro de si. Exceção feita aos psicopatas, que são incapazes de sentir emoções desse tipo, apesar de conseguirem enxergá-las nos outros e simulá-las maquiavelicamente em seu dia a dia, segundo seus interesses mesquinhos, no teatro existencial. 

Tais propriedades singulares metamorfoseiam a empatia num elemento de suma importância para a higidez dos relacionamentos humanos, por constituir ela o móvel primário das ações mais nobilitantes realizadas pelos indivíduos dentro do organismo social. A solidariedade, a caridade e o amor ao próximo se tornariam mera letra morta no livro da vida não fosse esse dom sublime das criaturas de se enxergarem umas nas outras, absorvendo a aflição alheia como se fosse a sua. 

AMPLIAÇÃO DE HORIZONTES

Animal aprisionado
O curioso é que esse “transporte consciencial”, tão salutar, não deveria se verificar apenas entre os chamados seres hominais, mas, sim, abarcar igualmente os membros das demais espécies que habitam o planeta, tendo em vista que a única diferenciação entre os primeiros e as segundas é o grau evolutivo em que se encontram. De fato, como a própria ciência vem comprovando a cada dia, os animais têm emoções bastante similares às dos humanos e um nível de inteligência que se sobrepõe, em muito, ao mero instinto – este, por si só, aliás, já uma expressão intelectiva, em última instância. 

Via de consequência, faz-se imperativo que deixemos de enxergá-los como meros objetos, sujeitos a nosso bel-prazer, inclusive aos caprichos de nossa gula, e passemos a vê-los como nossos irmãos menores, necessitados de proteção e amparo. Precisamos ampliar nossa capacidade empática, a fim de que ela passe a englobar, mais do que o universo restrito dos homens, os infinitos reinos da natureza, em suas expressões multifárias. Faz-se necessário que passemos a vislumbrar em cada criatura que nos cerca um indivíduo detentor dos mesmos direitos à vida, ao respeito e à dignidade que nós. Somente quando isso acontecer estaremos realmente exercitando, em sua plenitude, nossa empatia.

É óbvio que, como há diferentes níveis de consciência e entendimento, essa dilatação conceitual ocorrerá aos poucos, conforme a capacidade assimilativa de cada um. O que não se pode fazer é deixar de buscar essa mudança íntima, mesmo que no nível mais mínimo, dia a dia. 

 

ELEMENTO INDISPENSÁVEL

 

Agora, se você teve a paciência de chegar até aqui, recoste-se na sua cadeira, ajeite seu notebook e resista mais um pouco, porque já está no finalzinho e eu vou lhe revelar um segredo que, no fim das contas, não é tão secreto assim: pessoas sem imaginação dificilmente desenvolvem a empatia. Pode acreditar: a capacidade imaginativa é um pressuposto básico para a ocorrência do fenômeno empático. Afinal, se você não consegue se imaginar no lugar do outro, consequentemente, não conseguirá sentir compaixão pelo seu sofrimento, já que as sinapses de seu cérebro não serão ativadas convenientemente, devido à ausência do tipo de estímulo adequado. 

Homem dando água a um coala, após incendio
Pode até parecer esquisito, mas, para sentir a dor do próximo é preciso romper os grilhões que nos ajudam ao nosso próprio interior. É preciso fugir de nós mesmos e procurarmos o outro, porque somente escapando de nossas próprias celas mentais arrancaremos dos tornozelos as incômodas correntes de egoísmo que nos atam à frieza e à insensibilidade perante as mazelas alheias. Mas, para isso, é condição sine qua non sonhar. Quem não sonha não sai de si mesmo. É estático, inerme, estéril. Paradoxalmente, apenas com o poder da imaginação é possível tornar tangível, palpável o quase sempre distante, abstrato e incompreensível sofrimento do próximo, seja ele homem ou animal. Sem sonho não há empatia.

Jones Mendonça , colaborador do Blog 

 

 

 

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