quarta-feira, 7 de maio de 2014

A Missão dos Anjos de Deus (conto)


Águia voando


Ariel olhava a imensa multidão sob seus pés. As lágrimas queimavam-lhe as faces alvas e abatidas. As Sirenes não silenciavam e mais carros de bombeiros chegavam a todo momento. O prédio estava cercado. O cheiro do medo invadia-lhe as narinas com uma força sobrenatural. Ela apertou o pequeno objeto na mão e fitou o chão lá embaixo. As pessoas pequeninas. O som estridente do megafone, as luzes, seu fim.

A morte era tudo o que lhe restara. Nela não haveria mais dor ou lágrimas, apenas o silêncio da eternidade. Ninguém no mundo a faria mudar de ideia.

— Eu poderia ajudá-la?

Ariel voltou-se assustada para o lugar de onde vinha a voz. Um homem alto a fitava com a destra estendida. Ela comprimiu com ainda mais força o pequeno objeto que estava em sua mão, depois voltou a olhar para as ruas. A queda dali seria fatal.

— A morte não é o fim.- tornou a repetir a voz.

A jovem balançou a cabeça, ainda chorava quando sua voz tremula ecoou no alto do edifício.

— A morte me trará paz. A paz que jamais senti.

— A morte só lhe trará mais dor. Acredite eu sei disso.

Ariel fitou-o .Os olhos claros pareciam sinceros. A voz era calma e acolhedora. Toda sua figura inspirava a paz.

— Afaste-se de mim ou eu vou pular- ameaçou ela vendo que ele caminhava em sua direção.


Jesus amparando o homem
Tudo que ela viu foi um sorriso surgindo no rosto dele, depois Ariel o viu sentar-se ao seu lado com as pernas cruzadas a maneira hindu. Havia algo nele que a fazia sentir uma calma que jamais sentira na vida.

— Quer falar sobre o que te aflige o coração?

Ariel fitou a rua, o cordão se isolamento, as inúmeras viaturas, o pedido incessante dos bombeiros para que ela não pulasse. Fechou os olhos e respirou fundo.

— Eu não tenho ninguém. Ele me deixou. Disse que me amava e me deixou.- ela correu a mão pelo ventre depois correu o punho pelo rosto secando as lágrimas.- Ninguém se importa comigo.

— Não diga isso. Há muita gente que necessita de você. Seus amigos por exemplo. Os clientes que a procuram. As pessoas que você ainda irá conhecer. A vida não é só isso. Não é só ele, nem só você. Pense na vida de um modo diferente. Não pense em ser ajudada, mas pense em auxiliar. Há tantas mãos estendidas em sua direção, tantas pessoas que possuem menos que você. Há bocas a serem alimentadas, crianças a serem acolhidas, feridas a serem limpas.

— Que me importa os outros? Estou sofrendo e...

— Para mim você faz parte dos outros, mesmo assim estou aqui- ele estendeu a mão e sorriu- Vens, aprendas a olhar o mundo com os olhos do coração e seus problemas não significarão nada. Penses em teu filho que ainda nem nasceu. Que chance de vida dará à ele se pular daqui. Se não deseja se importar com os outros, ao menos se importe com ele. Haverá um braço que irá acolhê-lo um dia?


Jesus salvando
Ariel abriu a mão deixando o pequeno objeto cair sobre o asfalto. Virou-se com cuidado e estendeu a destra segurando a do homem que com cuidado tirou-a do parapeito. Ele deitou-a com cuidado no chão e Ariel sentiu que ele osculava seus cabelos e afagava-lhe o rosto. A jovem tremia e fechou os olhos tentando acalmar o coração.

Sentiu que era erguida e colocada numa maca, quando abriu os olhos viu dezenas de rostos desconhecidos ao seu redor. Tentou sentar-se procurando pelo estranho mas nada viu além de policiais e bombeiros.

— Onde está ele?- gritou ela sendo levada para a ambulância.

— Ele quem? – perguntou um dos bombeiros que a acompanhava.

— Aquele homem, o que me tirou do telhado.

Os homens se olharam assustados.

— Não havia ninguém lá, meu bem.

— Havia sim. Um homem alto, de vestes claras e capuz. Foi ele quem me tirou do parapeito.

— Acalme-se , querida.

Ariel aquietou-se e fechou os olhos. Sorriu e passou a mão pelo ventre onde uma nova vida nascia.

Ao redor do prédio, os bombeiros se olhavam curiosos. Haviam levado mais de meia hora para arrombar a porta do último andar, trancada pela jovem desiludida. Ninguém conseguira falar com ela a não ser através do megafone. Porém, o que deixara-os ainda mais pasmos havia sido o fato da jovem apoiar-se no parapeito seguindo para a segurança do telhado e dizer depois, que um homem falara com ela. Na certa enlouquecera.

— O que acha que foi?

— Medo- respondeu um dos bombeiros, olhando para a chave que Ariel usara para trancar a porta e a qual ela atirara do prédio, sem a chave não havia como entrar, apenas se um deles soubesse voar - Ou a consciência dela.- finalizou ele.

O mais jovem olhou para cima, ainda ouvia a voz da jovem, parecia tão sincera e agradecida.” Um homem alto, de vestes claras e capuz”.

Os olhos do bombeiro correram pelo edifício. Havia um falcão enorme pousado sobre o parapeito. Suas asas se abriram e ele alçou voo. O bombeiro o seguiu com os olhos, havia uma mancha branca atrás de seu pescoço, como se fosse um capuz. O bombeiro sorriu, o medo fazia coisas estranhas com as pessoas. Ele afastou-se voltando para a viatura. Os anjos podiam tomar várias formas.



Rasgando o ar, o falcão iluminou-se e desapareceu na imensidão do céu. Seu trabalho estava sendo cumprida, era para isso que ele existia, para fazer com que a vida continuasse a progredir.

Essa era sua missão e a de todos os anjos de Deus.


Coruja voando








Simone Nardi












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