domingo, 16 de novembro de 2008

Como nasce um racismo





É muito importante que se diga, logo no início, que a grande maioria das pessoas não se considera racista , sexista ou que tenha qualquer outro tipo de “racismo” para com o outro indivíduo, mas esse preconceito nasce nele de forma tão sorrateira que quando ele percebe, ele já é racista, já é sexista, já criou um preconceito sobre outros indivíduos e que, como geralmente ocorre, se nega a aceitar.


E a questão é:

Será que estamos vendo um novo tipo de racismo nascendo? Há bem pouco tempo tínhamos a escravidão, combatíamos o sexismo, etc ; fomos nos libertando (nem todos é verdade) aos poucos, avançamos moralmente e começamos a buscar o Direito dos Animais, começamos a apontar para quem não ligava para os animais e dizer que eram especistas, um racismo entre espécies, sobreveio outra cisão, vegetarianismo, veganismo, bem-estaristas, abolicionistas, e começamos a ouvir coisas que eu diria, são terríveis para uma sociedade que quer defender o Direito dos Animais. E antes que digam que também sou especista, quero dizer que eu apóio a causa, que faço parte dela, só não quero que nasça dessa luta, um novo preconceito, que por sinal, já se iniciou.

As conversas, em sua grande maioria se passam dessa forma:

“ O cara não é nem vegano, é hipócrita porque toma leite.”

“ O cara paga de bonzinho lutando pela paz mundial e come carne.”

“Aquele cara se diz vegano, mas é contra os atos da ALF”

“ O cara defende os animais, se diz vegano e come pizza de queijo, não gosto dele.”

Entre muitas outras frases que rolam pelos grupos.

E essas pessoas se esquecem que foram como aquelas que criticam, se esquecem que não conheciam a verdade e foram apresentadas a ela, tendo a opção de mudar ou não. Parabéns, mudaram, só que se esquecem que ainda hoje existem racistas, sexistas e especistas, e que ele, agindo dessa forma, só está contribuindo para que nasça, entre os homens, novos tipos de racismo: Entre veganos e onívoros e entre veganos e vegetarianos. Temos dentro de casa pessoas que não optaram pelo vegetarianismo (vale lembrar que alguns veganos chamam os vegetarianos de hipócritas, fase pela qual alguns deles também passaram). Vamos ter muita gente especista que não está nem aí para os animais, infelizmente essa é a realidade de um País, para não citar do Mundo, ainda mais numa terra onde um presidente acha que sal é apenas para churrasco e que o mar é salgado por causa da urina dos banhistas. "Por isso que água é salgada. É por causa do pré-sal? Eu pensei que fosse por causa do xixi(sic) que as pessoas fazem na praia no Domingo”.(http: //www1.folha. uol.com.br/ folha/dinheiro/ ult91u440643. shtml)

Cada vez mais filósofos se levantam para explanar sobre os Direitos Animais, e com tanta clareza que é difícil ficar indiferente quanto a isso, e não é por culpa deles que o movimento se trinca como vem acontecendo. Porque um cita Francione, outro cita Regan, muitos também não gostam mais de Peter Singer, mas a minoria é que compreende quando eles, embora não digam nos induzam a pensar, que não é a Guerra que vai salvar os animais,ao contrário, é a união, e isso em alguns grupos (espero que isolados) esteja longe de ocorrer.

A primeira coisa que deve ser compreendida é que, não bastam argumentos bons, o bom andamento da luta pelos Direitos Animais requer postura, e postura sem preconceito.

Não se pode, depois que se opta pelo vegetarianismo ou pelo veganismo, termos uma atitude discriminatória para com aqueles que ainda são, embora ainda em ato, onívoros, potencialmente vegetarianos/ veganos. Nem os veganos, terem tal atitude para aqueles que estão iniciando no vegetarianismo. Se conseguiram parar do dia para noite, parabéns mais uma vez, mas devem lembrar que muitos “Pararam”, e não que “Nasceram” veganos, cada pessoa evolui a seu tempo, é preciso aprender a respeitar isso. Tem gente que não consegue, tem gente, e já ouvi isso de veganos, dizerem que foram vegetarianos durante 5, 6 anos e depois viraram veganos, e hoje discriminam vegetarianos chamando-os de hipócritas!?! ?! Dois pesos, duas medidas, eu posso, eu me permito, você não. Isso afasta as pessoas, e o que precisamos é nos aproximar delas.

É claro que quando vemos a luz da verdade queremos espalhar o que descobrirmos para o Mundo, primeiro porque é bom saber a verdade e segundo porque essa verdade irá salvar milhares de vidas; mas a custo de discriminações? Acusações? Não parece estranho tanta preocupação pelos Direitos Animais e absolutamente nenhum respeito pelos semelhantes, sobretudo aqueles que também fazem parte das linhas de batalha pelos direitos animais?E deixando claro que, apesar da opinião de cada um, o respeito deve ser dirigido a todos, no geral.

Muita gente pode estar falando, isso não é verdade, é mentira. Será? Será que um amigo seu não reclamou do cara que se diz vegetariano e que ainda come peixe ou come queijo?Será que você mesmo, ontem carnívoro, hoje vegano, não reclamou do cara que toma leite, porque ele é, no mínimo, cego ao sofrimento das vacas leiteiras?

Concordo que quem é do movimento pela defesa animal deva ser vegetariano/ vegano, não há outra opção, não há como fugir dessa realidade, ou você muda, ou o movimento não decola, porém, e vamos ser francos, vamos questionar os motivos desse pessoal pela dificuldade em mudar. Muitos não tiveram aquele insight, e precisam ouvir de outras bocas que é preciso mudar por isso e por aquilo, mas não vamos criar um racismo para com aqueles que não querem mudar. Falamos tanto de direitos e somos, às vezes, os primeiros a ignorá-los. Eu vou deixar de gostar da música de determinado grupo só porque o vocalista come carne!?!?!?Ah, eu não vou mais assistir a peça de teatro com aquela atriz porque ela vai à churrascaria! ?!?!? Vamos acabar tendo que virar: Cegos, surdos e mudos, pois embora o vegetarianismo esteja crescendo, não é todo mundo que vai mudar da noite para o dia. Tudo bem, nós podemos “boicotar”, sem problemas, mas vamos boicotar o Mundo? Vamos boicotar nossos pais e irmãos, nossos amigos e professores, parar de comprar livros,fechar a conta no Banco, vender o carro do fabricante tal e tal e tal...? Ou vamos tentar nos aproximar deles e ir, semeando dia a dia na mente de cada um, a visão dos Direitos Animais, que vai ocorrer querem eles queiram ou não? Isso é fato, a sociedade um dia não irá mais explorar animais, se está perto ou longe não importa agora, mas vai ocorrer.

Racismo não é sinal de inteligência, é prova da falta de conhecimento, é algo irracional, é a falta de um raciocínio fundamentado na razão que faria com que entendêssemos o que se passa com o outro, pois o que se passa com o outro hoje, já se passou conosco (salvo quem já nasceu vegano). Porque somos, todo mundo tem a obrigação de ser, e quando não éramos? E quando comíamos carne, queríamos alguém que nos ofendesse ou alguém que nos ensinasse?O que fazemos hoje, ofendemos ou ensinamos?Nossa palavra é lei? Mas nossa palavra era lei também quando comíamos carne, e não mudamos? Não eles também, chance de mudar se nos esforçarmos mais?

Às vezes questionar deixa algumas pessoas mais nervosas do que quando damos nossa opinião, porque o fato de questionarmos as força a pensar, não há necessidade de dizer “é assim”, não, é mais fácil questionar, “por que é?”, ou “o que diferencia?”, ou “o que você faria?”,”ou porque você se permitiu?”, “o que o torna tão puro para que não entenda o que o outro ainda vê?”...

Como então encarar esse racismo alimentar que está se formando nos dias de hoje?

Sei que muita gente tem deixado os olhos bem fechados para isso que está ocorrendo em determinados grupos, e esse é exatamente o perigo, criar atrito entre pessoas que buscam a mesma coisa. Temos todos que ser veganos? Temos sim, é a obrigação pacifista de optar por uma vida livre de crueldade animal, mas não é através de acusações, de lutas internas que esse pacifismo vai crescer; como a palavra mesmo prega, pacifismo, paz, e que paz vamos ter ao nos digladiarmos entre nós mesmos?

Schopenhauer afirmou que era destino das verdades passarem por 3 estágios:

1º Ridicularização

2º Oposição Violenta

3º Aceitação( da verdade, o que não significa que devemos esmorecer em nossas argumentações , quando coloco “aceitar” não significa que devemos deixar de lado, e sim, não “acusar” por determinado indivíduo pensar diferentemente do modo como pensamos hoje )

Gostaria que todos aqueles que lutam pelos Direitos dos Animais realmente estivessem, para com seus companheiros de luta, na terceira, porém sabemos e é inegável, nos encontramos entre a primeira e a segunda, infelizmente.

Vale a pena refletirmos em nossas atitudes, eu tenho refletido nas minhas, isso não é vergonha, nem fraqueza, refletir no que fazemos é caráter, percepção, talvez a reflexão seja o verdadeiro caminho para a libertação animal, não apenas dos animais não humanos, mas a libertação animal dos animais humanos.

Ou paramos para refletir, ou vamos nos tornar algo ainda pior do que o monstro com o qual lutamos hoje.



Simone Nardi






Simone Nardi









Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão  Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.







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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Bem aventurados os que são Misericordiosos

O Natal vem chegando, aquele espírito natalino toma conta de nossos corações, começamos a ver tudo com outros olhos e passamos a ser ainda mais caridosos e misericordiosos.E por falar em misericórdia, li um texto maravilhoso uma vez, na Crônica do Internauta sobre os misericordiosos.

E ao ler cada linha, notei que, apesar do esforço de muitos de nós, não somos tão misericordiosos quanto deveríamos ser, principalmente no Natal. Nós sentimos o coração pulsar pelos irmãos que passam necessidade, e essa frase me lembra Jesus: "Quem é meu pai, quem é minha mãe, quem são meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade do Pai".