Pessoas que defendem o uso de animais frequentemente argumentam que "na
natureza, os animais comem uns aos outros", usando esta "ordem
natural" para justificar os atos de dominação dos humanos sobre os
animais não-humanos. Os defensores dos animais, por sua vez, geralmente
respondem que, por possuirmos a capacidade para a agência moral (que os
animais não-humanos presumidamente não possuem), isto gera em nós uma
obrigação que não é gerada para eles. Essa resposta é suficiente para
colocar por terra aquele argumento. Contudo, encerrar a discussão com
esta resposta acaba evitando o debate sobre o problema do sofrimento e
morte causados pela existência da predação no mundo. No seu entender,
não haveria o dever de pesquisarmos formas de minimizar esse
sofrimento, mesmo que ele não tenha sido causado ativamente (mas sim
passivamente) por nós, e mesmo que os predadores não tenham culpa pelo
que fazem, analogamente ao dever que assumimos quando intervimos sobre
ações de outros seres amorais, como crianças muito pequenas? Ou o
limite da ética animal deveria ser a abolição dos males causados
ativamente por humanos?
Qual sua posição sobre o tema e respectivos argumentos para sustentá-la?
Sua posição sobre esse tema específico mudou ao longo do tempo? Se sim, quais argumentos o fizeram mudar?
Simone Nardi
Predador e presa. Vida e morte. Isso é tão antigo quanto o Universo. A
sobrevivência de um, em alguns casos, depende da morte de outros, faz
parte do equilíbrio não da ética ou da moral apenas, mas de todo um
equilíbrio que rege o Universo, e não foram os animais que quebraram
essa linha que suavemente equilibrava a Terra. Não podemos comparar o
que se passa em uma Savana, com o que ocorre numa grande Acrópole onde
existe uma gama enorme de alimentos que podem nos nutrir e de onde a
comida chega através de pedidos realizados via web .
E, numa única frase, conseguimos derrubar toda essa luta sobrehumana
para nos colocarmos acima dos animais e assumimos o posto "bestial"
daqueles seres de quem tanto queremos distância: os animais selvagens
que matam para comer. Nada mais nos tornamos do que : Seres inferiores e
selvagens, que não se importam em matar e quando o fazem, o fazem de
forma violenta.
A partir do momento que nos colocamos como iguais, o que temos agora acima deles, que nos permita maltratá-los então?
Nada.
Exatamente nada nos permite maltratar um animal não-humano, seja em
qualquer colocação que façamos, pois a lógica da situação nos impediria
de praticar esse ato brutal.
Primeiro porque se nos colocamos como seres racionais, deveríamos ter
em mente que somos literalmente obrigados a tutelar aqueles a quem
julgamos inferiores e tutelar significa proteger, nem matar nem mutilar,
mas proteger. A verdadeira inteligência superior deve, ou pelo menos
deveria, levar o homem ao bem, não o contrário.
Segundo, se nos colocamos como iguais, ou seja, porque eles matam nós
igualmente temos o direito de matar, estamos abrindo mão de sermos
então a "medida de todas as coisas", para sermos apenas "mais um", no
reino da criação. Só que não temos, tal como os animais, coragem para
atacar nossa presa, destroçá-la nos dentes (que muitos insistem em dizer
que são dentes de carnívoros) e comer-lhes as vísceras em busca do
nutriente vegetal, e não temos além de coragem, capacidade para isso.Já
passamos nossa fase animal, é preciso prosseguirmos na evolução.
Eles matam para sobreviver, e nós, matamos por qual motivo? Pela
Racionalidade? Seria ilógico pensarmos dessa forma, porque já vimos que a
racionalidade é algo que deve nos trazer o bem; se é para termos algo
que nos diferencie dos demais seres, mas que nada nos agregue de bom,
melhor seja então que nada tenhamos de diferente das demais criaturas.
Tentar resolver o problema da predação na Natureza também seria,
neste momento atual, violar, igualmente, os direitos a ela dispostos de
reger o equilíbrio do Planeta. Seria remexer um campo onde a humanidade
já mexeu e de certa forma, vem destruindo com sua invasão. Ainda nem
conseguimos vencer a "Nossa própria" predação , como então desejar
contê-la no seio da Natureza? Ainda não domesticamos a nós mesmos nos
mais simples atos diários, como querer então tornar seres, ainda em
evolução, mais perfeitos, éticos e morais?
O fato é que, nós temos opção de fazer ou não o mal, nós temos opção
de escolher uma alimentação isenta de crueldade, os animais selvagens
ainda não, o que não significa que sejam bestas irracionais, mas sim que
é o momento da evolução deles que lhes exige essa atitude de predação.
Não sendo a predação dentro da Natureza o maior causador do sofrimento
animal, e sim a nossa influência Irracional sobre os corpos animais, daí
a predação humana ser mais perigosa para os animais do que a predação
natural dos mesmos dentro da Natureza. Nós devemos influir na vida
somente quando tivermos Absoluta Certeza de que nosso envolvimento irá
causar o bem para está e para as futuras gerações, doutro modo, qualquer
influência nossa, mesmo revestida da mais pura boa intenção, poderá no
futuro, causar um desequilíbrio ainda maior do que aquele que já
causamos até aqui.
Predator
and prey. Life and death. This is as old as the Universe. The survival
of one, sometimes, depends on the death of other. It’s part of the
balance, not ethics or moral only, but a whole balance that rules the
Universe, and were not the animals that broke this soft line that
equalized the Earth. We cannot compare what’s happening in
a Savannah, with what happens in a big city where are huge sum of food
that can nourish us and where food can be purchased online.
There
is so much contradiction in the words of people who argue that “in
nature, animals eat each other, so we also have the right to do so”, as
are in those that insist in saying that vegans are evil people only
because they eat vegetables. And as you can imagine, the contradictions
that broke with the world balance is in humanity. Human being
constantly fights to put himself over the non human animals, creates
differences, makes philosophical systems, all to be away of said
“Bestiality” he believes enfold the animals; Philosophy hits its chest
and tells us “humans are rational animals” because he has
superior intelligence; science folds that we are rationally superior
because we have articulate language; psychology praises us by saying
that we are rational because we can elaborate abstract concepts;
anthropology places us above all other animals saying that we are what
we are thanks to our ability in tools and equipment making; and all
them together believe we are the “measure of all things” because we
have a complex social life.
And,
with one line, we put down all this hard fight to get us above animals
e take the “bestial” place of those beings that we want so much
distance from: the wild animals that kill to eat. We are nothing more
than inferior and wild beings that doesn’t mind killing, and when we do
so, we do it violently.
From the moment we place ourselves as equals, what do we have above them, that allows us mistreat them?
Nothing.
Absolutely
nothing allows us mistreat a non-human animal, whatever statement we
use, because the logic would stop us from practicing this brutal act.
First
because if we place ourselves as rational beings, we should keep in
mind that we are literally bound to guard those we judge as inferior
and guard means protect, not kill or mutilate, but protect. True
superior intelligence must, or should, drive man to goodness, not
otherwise.
Secondly,
placing ourselves as equals - meaning, they kill, so equally we have
the right to kill – we’re giving up being the “measure of all things”,
to be only “another one” in the creation kingdom. Only we don’t have,
unlike the animals, courage to strike our prey, rip it in our teeth
(that many insist in saying are carnivore teeth) and eat its viscera in
search of vegetal nutrient, and we are not capable to do it. We have
been through our animal fase, we must go on with evolution.
They
kill to survive. And us? We kill for what reason? Rationality? It
would be illogical to think this way, because its proved rationality is
something to bring us wellness; if it is supposed us to have something
to apart us from the other beings - only nothing to gather us good
things – it would be better to have nothing different from them.
Trying
to solve the predation problem in nature would also be, in this very
moment, to violate, equally, the right given to it to rule the balance
of the Earth. It would be like messing up with an area that humanity
have already messed up and, someway, have been destroying with its
invasion. We couldn’t even win “our own” predation yet, how then wish
to keep it in nature’s heart? We haven’t domesticated ourselves yet in
the most daily acts, how are we supposed to want to become the most
perfect, ethic and moral – yet in evolution – beings?
The thing is we have the option to do or not to do evil. We can choose a cruelty free subsistence,
wild animals not yet. That doesn’t mean they are irrational beasts,
but that is the moment of their evolution that demand them such
attitude. As natural predation is not the greatest cause of animal
suffering, but our irrational influence over animal bodies, human
predation is much more dangerous to the animals then the natural
predation of themselves. We must influence life only we are absolutely
sure that our involvement will only cause good to this generation and
the following ones. Otherwise, any human influence, even if filled with
the best of intentions, can, in the future, cause an imbalance even
bigger than that we have already cause up to now.
Simone Nardi |
Escritora pós graduada em Filosofia, é autora deste blog e do blog Consciência Humana,
colunista do Site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz), e
fundadora do Grupo de discussão espírita Clara Luz, que discute a alma
dos animais e o respeito a eles.
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