segunda-feira, 12 de junho de 2006

Quando a crueldade humana terá um fim?



Alguns anos atrás, todos os animais foram embora. Acordamos uma manhã e eles simplesmente não estavam mais lá. Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou disseram adeus. Nunca conseguimos saber ao certo para onde foram. Sentimos sua falta. 


Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se acabado, mas não tinha. Só que não havia mais animais. Não havia gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia peixes nos mares, nem pássaros nos céus. Estávamos sós. Não sabíamos o que fazer. 

 

Vagueamos por aí, perdidos por um tempo, e então alguém observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudar nossas vidas. Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar detestar produtos que podem nos fazer mal. 

Afinal de contas, ainda havia os bebês. 

Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante. Fizemos bebês. E os usamos. Alguns deles, comemos. Carne de bebê é tenra e suculenta. Esfolamos suas peles e nos enfeitamos com elas. Couro de bebê é macio e confortável. 

Alguns deles, usamos em testes. Mantínhamos seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos neles, uma gota de cada vez. Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. Nós os prendemos com braçadeiras e plantamos eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos. Os bebês respiravam nossa fumaça e, na veias dos bebês, fluiam nossos remédios e drogas, até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais. 

Era duro, é claro, mas necessário. Ninguém podia negar isso. Com a partida dos animais, o que mais podíamos fazer?


Algumas pessoas reclamaram, claro. Mas elas sempre fazem isso.

E tudo voltou ao normal.


Só que...

Ontem, todos os bebês se foram. Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir. Não sabemos o que vamos fazer sem eles. Mas pensaremos em algo. Humanos são espertos. É o que nos faz superiores aos animais e aos bebês. Vamos bolar alguma coisa.



Neil Gaiman



4 comentários:

  1. Nossa, que texto maravilhoso, sensacional. Parabéns ao autor!
    Penso muito numa situação como essa e entro em profunda depressão, pois se isso viesse a acontecer, eu preferiria morrer, já que o mundo sem os animais seria ainda pior para se viver.

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    1. Olá Vitória
      É um caso a se pensar...
      Um mundo sem animais não teria razão para existir, talvez ele mesmo acabasse por nos eliminar.
      cada espécie tem um desígnio dentro do planeta, para o equilíbrio do Planeta, a nossa única função atgé hoje parece a de destruir todo esse equilíbrio não é?
      grande abraços a todos vocês

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  2. A crueldade humana não tem fim ? por que é isso que o autor esta dizendo..
    SIM ! Tem fim siim ! Chegará o dia que se julgará o assassinato de um animal, como hoje se hulga o assassinato de um homem, como disse Da Vinci.
    Quando nós querermos parar com essa crueldade, nos conseguimos, como disse Neil Gaiman, Humanos são espertos ! mas eu digo uma coiisa, humanos são sim espertos, mas são preguiçosos, não precisamos da carne para sobreviver, somos "espertos" o suficiente para procurar outras fontes de proteína para o nosso corpo, e finalizo com uma frase de Gabriela Toledo.

    "Não há crueldade pior que pensar e acreditar que os animais existem para servir ao Homem."

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  3. Você tem toda razão Eddie, humanos são preguiçosos, acreditam que as coisas mudam sem que ele tenham que agir, um capricho humano achar que do nada o mundo vai se tornar veg, não , é preciso deixar a preguiça de lado e reeducar-se.

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