Espiritismo
O assunto relacionado ao consumo humano de carne é, frequentemente, motivo de controvérsias dentro do movimento espírita. Isto ocorre porque, em um primeiro momento, ao ler "O Livro dos Espíritos" (L.E.), parece que os Espíritos aprovam, sem restrição, a alimentação carnívora. Entretanto, as duas respostas de “O Livro dos Espíritos” (L.E.) que abordam o referido assunto deveriam ser estudadas com mais cuidado.
De fato, a frase "a carne nutre a carne", utilizada pelos Espíritos superiores para responder a uma destas questões não entra no cerne propriamente dito da questão levantada pelo Codificador, pois o principal problema não é a questão nutricional, mas sim o problema moral. É claro que podemos discutir os aspectos positivos e negativos da carne, do ponto de vista nutricional, mas o problema principal não é esse. Kardec poderia questionar se seria lícito fazer uso de bebidas alcoólicas, ou de excesso de algum outro tipo de alimento, e não o fez. O Codificador elege como questão mais relevante a discussão sobre a alimentação carnívora, provavelmente devido à questão moral relacionada à antiquíssima dúvida: é correto ou não matar animais para comer?!
André Luiz |
É importante
ressaltar que é lícito discutir a eficácia nutricional da carne como alimento e
se é imprescindível ou não à nossa saúde física, mas a principal questão ,
sobretudo do ponto de vista filosófico-religioso, diz respeito ao fato de
termos de abater os animais. Isso seria eticamente aceitável?! Seria moralmente
elevado tal hábito?!
Em suma, a
qualidade da carne como alimento e o nível moral da atitude de se matar animais
para alimentação são duas questões importantes, mas a segunda é a mais
relevante do ponto de vista espírita. Se admitirmos a hipótese da atitude de se
matar animais para a alimentação ser reprovável do ponto de vista moral, a
relevância nutricional da carne não serviria de justificativa para contrapor o
erro moral do abate dos animais. Esse subterfúgio seria ainda menos aceitável
se houverem alternativas nutricionais que possam substituir a carne.
Criança desnutrida |
Se os
Espíritos da falange do Espírito de Verdade, em L.E., aprovam totalmente o
consumo da carne, como alguns confrades sugerem, então Emmanuel, André Luiz e
Humberto de Campos, entre outros, erraram completamente. Pois eles realmente
têm posicionamentos marcantes sobre o assunto, que não corroboram a
interpretação pró-consumo de carne das duas questões de L.E.. André Luiz tem
afirmações contundentes a favor de, no mínimo, minimizarmos o consumo de carne
tanto em "Os Mensageiros" como em "Missionários da Luz". Emmanuel
também tem uma resposta bem explícita a favor da diminuição do consumo
carnívoro na obra “O Consolador”.
Autores
espirituais importantes para a Doutrina Espírita como Emmanuel e André Luiz não
poderiam errar tantas vezes, e com tamanha ênfase. Então, o que estaria
acontecendo?!
A problemática
questão parece envolver o momento histórico da publicação de “O Livro dos
Espíritos”. À época, estávamos, por exemplo, muito longe de eliminar a
escravidão no Brasil, (mesmo no chamado "Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”). A escravidão acabaria no Brasil somente em torno de 28 anos após a
publicação da segunda edição (edição definitiva) de “O Livro dos Espíritos” (em
torno de 31 anos após a publicação da primeira edição de “O Livro dos
Espíritos”). Nos Estados Unidos, iria começar a Guerra da Secessão, que também
era motivada, entre outros fatores, pela questão da escravidão. Ora, se o ser
humano, em países civilizados, ainda escravizava outros seres humanos por causa
da cor da epiderme, o que aconteceria se o Espiritismo levantasse, naquele
tempo, a bandeira da alimentação sem carne?! A Doutrina Espírita seria ainda
mais perseguida do que foi, mais ridicularizada do que foi, pois era uma
discussão ainda precoce para a esmagadora maioria dos habitantes da crosta.
Portanto, seria um desgaste desnecessário e contraproducente ao desenvolvimento
do movimento espírita assumir tal posição naquela época.
Emmanuel |
Alguns autores, visando simplificar a questão, afirmam que Chico Xavier comia carne. Na verdade, essa informação necessita de maior contextualização sobre os hábitos de vida de Chico Xavier. Em todo caso, é bastante curioso tal argumento ser utilizado com tão frequência, pois três autores espirituais, dentre os principais que escreviam pela mediunidade de Chico Xavier, induzem a, no mínimo, diminuir tal comportamento. Quem, portanto, está com a razão: Os mentores e autores espirituais da obra de Chico Xavier (que consiste no principal legado de sua vida, pois é obra para ser estudada através dos séculos. Tanto é que Emmanuel dissera em uma famosa reunião de materialização, na qual Chico Xavier era o instrumento mediúnico: “A tarefa do Chico é o livro!”) ou aqueles que afirmam, de forma simplista que Chico Xavier comia carne. Chico Xavier tinha por hábito tentar ser simples e humilde e, na medida do possível, não constranger as pessoas que não tinham a elevação dos seus hábitos e, indiretamente, não criar uma idolatria exagerada sobre a sua pessoa, o que, apesar de seus esforços, acabou, em alguns casos, acontecendo.
Chico Xavier |
Afinal, o primeiro passo é o estudo doutrinário; o segundo é a conscientização do que é correto perante as Leis de Deus; o terceiro é a conscientização da necessidade de modificar para melhor os nossos hábitos, procurando a harmonização com essas Leis; o quarto consiste em traçarmos estratégias e iniciarmos o esforço de transformação efetiva de nossa personalidade; o quinto seria perseveramos no esforço iniciado para efetivarmos a médio ou longo prazo uma efetiva mudança para melhor.
Emmanuel afirma:
“Começar é fácil; Perseverar é muito difícil; Concluir a tarefa é raríssimo!”
Reflitamos na
necessidade de aprofundarmos o estudo doutrinário e o intercâmbio de ideias,
sem preconceitos, para que cada vez mais “nos aproximemos da Verdade para que
ela nos liberte”.
Leonardo Marmo Moreira, Centro Espírita Caminho da Paz
Para ler mais:
A carne precisa da carne?
Desconhecimentos e Desentendimentos Sobre Vegetarianos
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