Imagem: Coruja, símbolo da Filosofia |
Há uma frase de Ricardo Timm que sempre surge em minha cabeça quando lembro do significado da Filosofia para mim e os motivos que me levaram a escolher essa disciplina:
"Entrei na Filosofia para combater o sofrimento, e os animais sofrem muito. O homem trata o animal como objeto, pois para ele o tempo não existe para os animais".
Uma frase forte, de coragem e mais do que tudo, consciente do real significado do que seja Filosofia.
Graduando
nessa disciplina e estagiando em escolas do Ensino Médio, me deparei com certas
incongruências no meio acadêmico, ou seja, nem sempre o que era dito, era
realizado. A palavra “Alienação” parece ser o tema preferido de alguns
professores de Filosofia ao indicar o motivo pelo qual essa disciplina acabou
sendo obrigatória no Ensino Médio. A Formação do ser humano, que os
merloypontianos adoram dizer “a formação dos corpos na sua topologia”, no
entanto seguem o mesmo método instrumental que dizem, não deve ser seguido; a
cartilha alienante são as mesmices cotidianas, dos problemas cotidianos nos
quais a Filosofia se debate há séculos sem nunca conseguir auxiliar as demais
disciplinas na solução destes problemas.
Os professores, alguns, até criam estratégias mirabolantes para fazer o aluno aprender e reter aquele aprendizado a que ele se propôs a ensinar, os métodos sãos os mais diversos, porém mais uma vez, a Filosofia na mão da grande maioria dos professores, não consegue enxergar a raiz do problema. Grande parcela de professores de Filosofia entende bem da antropologia filosófica , além disso, poucos são os que se propõe a realmente questionar dentro de uma disciplina que tem em si a ação do pensar , do ato reflexivo . Poucos questionam de onde surge nossa falta de ética para com o Outro. De onde nasce nosso preconceito? Qual a verdadeira raiz da miséria, sempre subjugada por aqueles que desejam permanecer na riqueza.
A
desigualdade social nasce no momento de nosso parto ou nasce quando iniciamos
nosso aprendizado, quando damos nossos primeiros e inseguros passos na
construção do nosso conhecimento ?
Criar
uma estratégia educacional é algo extremamente importante, mas uma questão
ainda mais profunda se oculta por detrás desses processos didáticos, sobretudo
na disciplina de Filosofia: O questionar.
Embora
se acredite no meio acadêmico que não se possa prender o ensino de Filosofia
somente a sua História, muito embora ela seja necessária para alavancar o
trabalho de ensino do professor, o problema é que perguntamos sempre as mesmas
coisas e ensinamos, sempre as mesmas coisas. Infeliz do professor que tentar escapar disso.
Falamos constantemente sobre a
alienação, que nem notamos que estamos alienados ao perguntar sobre ela
há anos sem fim e pedir uma liberdade do pensar que não nos permitimos.
Questionamos a dominação a qual nos sentimos expostos pelos Aparatos
Ideológicos do Estado, mas nos esquecemos de questionar sobre a dominação que
fazemos a Outros, pois também nos tornamos aparatos humanos e ideológicos de
dominação. Questionamos sobre a violência a que os seres humanos estão expostos
e mais uma vez omitimos a reflexão sobre a violência que praticamos com aqueles
que colocamos como “diferentes do perfil filosófico tradicional” e
antropocêntrico. Falamos da fome “dos humanos”, da dor “dos humanos”, da
miséria “dos humanos” e nos ocultamos da dor e do sofrimento que causamos todos
os dias aos não-humanos. Não questionamos esse fato porque ao descobrirmos que
somos os maiores culpados por nossa própria dor, teríamos que mudar e mudar é
algo extremamente dolorido para seres que se julgam acima dos demais.
Alienação, ser humano manipulado |
Como
aceitar que nossa razão, que nossa intelectualidade, que nossa capacidade de
linguagem, nossa capacidade de lidar com inúmeros problemas, de reter na
memória o que julgamos importante, como aceitar que todo esse complexo racional
não conseguiu durante tantos e tantos séculos enxergar algo tão simples?
O
Direito à Vida, Direito esse que pertence a todas as criaturas vivas.
Já
dizia Georges Ripert “ Quando o direito ignora a realidade, a realidade se
vinga, ignorando o direito”. Tudo que fizemos até esse momento foi criar leis e
regras com base em nosso direito, ignorando o direito e a realidade a nossa
volta. Hoje a realidade está se vingando desses seres intelectuais,
mostrando-lhes que seus pseudos direitos podem igualmente ser ignorados por um
Outro mais forte e esse Outro mais forte de hoje é a Terra.
Não
há como a Filosofia ignorar esse vasto campo de estudo que ela tem deixado
passar despercebido dentro das escolas e universidades. A cada ano são levadas,
para dentro das salas de aulas, as mesmas questões, elas são trabalhadas,
reestudadas sem que nunca se chegue a raiz do problema: A dominação violenta do
ser humano sobre a natureza.
A
esmagadora maioria dos TCC’s versam sempre sobre os mesmos autores, sobre os
mesmos assuntos, poucos são os que se debruçam sobre a realidade, poucos são os
que se importam com ela, tudo se transformou numa questão acadêmica do bem
falar e do bem escrever, quanto mais intelectual o trabalho melhor, não é necessário
que ele traga luzes à realidade, mas que verse bem sobre esse ou aquele autor,
de preferência alemão, o trabalho da Filosofia não é esse pensar o agora, dizem alguns.
Talvez
seja isso que falte a Filosofia Brasileira , ressignificar seu significado, ter
a coragem de proclamar o que a Filosofia significa para cada um e assim começar
a construir uma nova Filosofia mais próxima da realidade, mais próxima da raiz
de um dos grande problemas da humanidade, tão temido e ignorado pelos “grandes
mestres”, a terrível anomalia chamada de “Movimento de Abolição do Sofrimento Animal”,
chegando a essa raiz, chegaremos a verdadeira coragem filosófica de questionar
e sobretudo, desmistificar.
Os animais não-humanos não podem mais esperar, é
preciso coragem de seguir esse caminho e
mais do que isso, é preciso coragem para vencer esses preconceitos
filosóficos...
Cavalo com pata quebrada |
Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.
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