Animais |
Os inflexíveis adeptos de Nossa Amada Doutrina Espírita, que não
admitem a mudança de uma só vírgula em seus postulados, que me perdoem, mas...
Não me convém essa discussão secular e improfícua sobre a
existência ou não de uma alma nos
animais; se dispõem de um princípio inteligente, fluido vital, percepções ou
instinto; se deliberam, arbitram ou não; se permanecem na erraticidade após a “morte”
ou são encaminhados a nova existência quase imediatamente; se aparições de
animais são verdadeiras ou formas pensamento, projeções mentais ou ainda
alucinações de mentes humanas desequilibradas.
Não valorizo o tempo despendido em lucubrações filosóficas,
científicas e/ou religiosas com o respaldo ou não de professores no assunto “interação animal, mais ou menos
significativa com a espécie humana”.
Priorizo porque comprovo que: ELES SOFREM!
Gato amarelo |
SOFREM, submetidos a prolongadas e ininterruptas torturas, a fim
de que o produto X ou Y, em futuro próximo, ocupe as prateleiras da vaidade
humana livre de reações adversas, comprometedoras da saúde de sua derme.
SOFREM sem culpa no estreito corredor da morte, sentenciados por
algozes cruéis a se transformar em comida, carimbada de “saudável” pela
fiscalização, embora fluidos deletérios de horror e desespero nela estejam
entranhados, camuflados por temperos mil, quando chegam, fumegantes, à mesa das
majestades humanas.
Cão abandonado nas ruas |
ELES SOFREM (e, muito) enquanto autores famosos autografam obras
de relevância espiritual, entre efusivos abraços e saudações cordiais, cujo
contexto especula as emoções mais
sagradas do Reino Animal, denominando-as INSTINTO, apenas.
Enquanto arautos da Nova
Era polemizam nas tribunas importantes, os pequeninos anônimos estão a
gritar sem voz todas estas faculdades inerentes a uma Alma: tristeza, saudade,
decepção, inconformismo, desespero, amor e medo, manifestações invisíveis mas
presentes em todos nós, inclusive nos humanos, com o nome de princípio
inteligente ou que outro nome seja inventado, já que admitir uma alma nos
animais parece mais desprezível do que aceitar que ela exista em humanos sem
alma.
Estas vozes pequeninas clamam, para os que não tem ouvidos de
ouvir, pelo socorro e pela chance de
viver em paz, mas racionais, sem olhos
para ver, estão ausentes, indiferentes aos clamores de proteção e ajuda porque
já deveriam mas não aprenderam o nobre sentimento da Compaixão.
Em nome de não sei qual
deus, viramos as costas para seres criados por uma Divindade do Bem
enquanto rogamos bênçãos nos templos de
pedra,sem nada para oferecer-Lhe em nossas mãos vazias a não ser o sangue dos
inocentes.
Pudéssemos ouvi-los e vê-los, porque “lá” estão eles, os pobrezinhos
e injustiçados de Assis, arrastados à força de seus lares na floresta, por mãos
humanas, mais selvagens do que suas patas, plumagem ou penas. Que pena...
Boi para o abate |
Furtamos das aves tudo o que era a sua felicidade porque, imersos
em sombras, julgamos pouco o tesouro
de ter um ninho chamado lar e nada, nada além de todo o céu da floresta para
vivenciar nas horas de claridade.
Não fôssemos tão inteligentes, audazes, espertos e sábios, quem
sabe, poderíamos amar como “eles” amam, sem astúcia ou falsidade.
Não fôssemos tão “criativos”, concebendo quitutes
“mirabolantes”, extravagantes e caros à custa dos animais e a fome saciada no
mundo haveria de saciar também a nossa própria fome de justiça e de paz.
Fôssemosmenos e serìamos MAIS!
O que eu sei é que as baleias SOFREM no mar de sangue em que se
agitam atingidas mortalmente por engenhocas humanas que as foram caçar em seu
habitat... em nome de qual deus?!
Não houvéssemos inventado instrumentos torturadores de seres
indefesos e teríamos, talvez, uma alma capaz de, à semelhança do Criador,
conduzir-lhes os passos errantes e perdoar-lhes os tombos, assim como Ele
costuma fazer conosco, quando caímos.
Não me cabe comprovar se os animais tem uma alma mas me pergunto
se ainda resta no ser humano algum princípio
inteligente capaz de capacitá-lo a sentir e a amar com a mesma pureza dos
animais.
Pergunto-me se ainda existe um ponto de contato ínfimo com a
compaixão, que o motive a proteger a Natureza, como os animais a respeitam,
dela extraindo o necessário para a vida, sem destruí-la.
Não sei se um dia atingiremos esse patamar ideal em que estagiam
alguns animais, protegendo o mais novo e o mais velho, o mais triste e o mais
doente, doando-lhes, bondosos, o melhor naco do alimento, em abnegável
RENÚNCIA!
Pergunto-me se esse princípio inteligente ainda vibra em nós,
mesmo que abafado pelo fragor de batalhas inúteis.
Se ainda há tempo de entender de que maneira os animais
descobriram os caminhos de DEUS sem nunca
terem ouvido falar DELE.
Diante dos estragos que já deixamos após nossa passagem pela
Terra, me pergunto se já não é muito tarde para voltar e curar todas as patas
quebradas, juntar os ossos desconfigurados, as asas dilaceradas, os corpos
mutilados, refazendo-lhes a integridade como num filme ao contrário, limpando o
sangue e lavando as ulcerações, a fim de caminharmos juntos, sem ameaça ou
medo, para o tão sonhado mundo de Regeneração!
Absolvidos e perdoados, enfim, devolvendo ao CRIADOR as vidas
sagradas confiadas às nossas mãos, agora limpas, conscientes do dever cumprido,
de SALVÁ-LAS!
Então, todos os animais compreenderão, sem palavras, que humanos
tem, sim, sem sombra de dúvidas – um CORAÇÃO, como eles também.
Sandra, autora e colaboradora do Blog
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