Imagem: Onça-Pintada |
Os olhos de Kerodon desceram pela figura trêmula de Falco. Ele havia perdido a robustez de anos atrás. Seu rosto envelhecia e seus cabelos branqueavam com o passar dos meses, mas ainda era o mais bravo guerreiro que Kruzada já havia conhecido. As cicatrizes espalhadas pelo corpo provavam a sua coragem. Cada um deles lhe devia a vida. Falco deveria ser o líder, não ele.
O Príncipe correu o olhar pelos poucos
guerreiros que lhe restavam. Nem toda a coragem do mundo os ajudaria a vencer
os Ycrons. Não havia chance para eles, mas ao menos as mulheres e as crianças
estariam a salvo.
Kerodon era um guerreiro decidido. Com
seus quase dois metros de altura, era ele quem decidira lutar ao invés de
entregar-se e servir ao exército de Gorgun. Não, jamais ele submeteria seu povo
a tal humilhação. Jamais os deixaria morrerem nas minas de Alderyon. Que
morressem todos os seus guerreiros, mas que o povo de Kruzada permanecesse
livre.
Livres para vagarem pelas florestas.
Livres para nadarem nos lagos perfumados de Betsaym. Apenas livres das
correntes negras dos Ycrons.
Kerodon fechou os olhos. Há três dias
que não dormiam, apenas lutavam. O exército inimigo era superior em armas e homens, embora os Ycrons
não pudessem receber a honra de serem chamados de homens. Eram na verdade seres
bestiais, uma raça de homens que se deixara levar pelo poder , pela ambição e
pela ganância. Que devastavam o mundo em busca de riquezas. Que matavam sem se
importarem com a vida.
Bem pouco
possuíam da forma humana que lhes dera origem. A cabeça desproporcional era
grande e ovalada, coberta por uma pelagem negra que lhes cobria até acima dos
lábios. Os olhos eram vermelhos e os
dentes eram como as presas de antigos animais selvagens. Possuíam três dedos
nas mãos e dois nos pés enormes e achatados. A pele, desprovida de pêlos, era
grossa e ressecada como as escamas de um peixe. Definitivamente eles não eram
mais homens, sua selvageria os haviam transformado nas bestas que eram hoje.
Tayassu aproximou-se do Príncipe e
sentou-se ao seu lado, sabia que teriam poucas horas de vida, mas não temia a
morte pois sabia que seu povo sobreviveria àquela batalha.
—
Lembra-se dos aromas
de Betsaym ?
—
Jamais esquecerei-
respondeu Kerodon abrindo os olhos e fitando o rosto do amigo.
Onça |
—
É verdade Tayassu,
mas nossa honra e nosso desejo de liberdade prevalecerão sobre os Ycrons.
—
E muitos deles irão
perecer antes que eu caia- falou Felis juntando-se aos dois amigos
Kerodon fitou-os com olhar cansado.
Felis era um poderoso guerreiro, seu cabelo amarelo-avermelhado chamava e muito
a atenção. Era pequeno, mas valente. A noite levava grande vantagem sobre os
inimigos, tal a sua astúcia e visão. Trazia um pesado machado numa das mãos e
garras poderosas na outra.
Gato |
Um rosto suave apareceu diante de seus
olhos. Columba, sua adorada esposa. A mulher que levava no ventre seu filho.
Despedir-se dela havia sido mais duro do que enfrentar mil Ycrons. Mas
precisavam morrer para que seu povo pudesse viver. Tinham que enfrentar o
inimigo por tempo suficiente para que seu povo pudesse escapar de Kruzada rumo
às terras desconhecidas ao Norte de Karan. Somente lá eles teriam uma
chance de reconstruir o povo soberano que Gorgun tentava aprisionar.
Lá eles seriam protegidos pela ordem
dos Sirenia. Manati, seu principal líder cuidaria bem de seu povo, ensinado-lhe
novos hábitos, até que pudessem se sustentar sozinhos naquelas terras
estranhas.
Puma |
Imediatamente Kerodon reuniu seus homens e olhou profundamente no rosto de cada um deles.
—
Kaneus irá nos
proteger. Àqueles que tombarem hoje, viverão
a fartura de Guenardy. Preparando o caminho para os outros que um dia os
seguirão. Lembrem-se que não lutamos por nós, e sim por um povo inteiro. Kaneus
esteja em vossos corações.
Quando Kerodon acabou de falar, eles já
conseguiam ouvir os gritos alucinados dos Ycrons que invadiam o
desfiladeiro. Era uma visão aterradora.
Milhares deles avançavam na direção do exército de Kruzada. Se passassem, em
menos de duas horas alcançariam as mulheres que fugiam para Sirenia.
—
Lembrem-se meus
amados irmãos, eles não devem atravessar o desfiladeiro. Pelo menos não até ao
amanhecer. Quando Manati já terá em segurança nosso povo. Lutem até o último
guerreiro e que Kaneus esteja com todos vocês.
Kerodon ergueu a espada que empunhava e
avançou contra o inimigo, numa luta em que só um lado poderia vencer.
Leão |
Gorgun, o chefe dos Ycrons, apenas
observava seu exército tentando esmagar um inimigo inferior, mas determinado.
Ele não notou a aproximação de Cereus. Tampouco viu Alouata disparar seu arco.
Seguia agora em direção a Kerodon, o
gigante que derrubava seus homens com um único golpe. Kerodon se mostrara um
guerreiro forte. Ao contrário do que imaginara. Eram uma raça que deveria ser
destruída ou destruiriam com aquela coragem e perseverança ,seu império de
terror.
Quando Gorgun ergueu seu machado contra
as costas de Kerodon, tudo o que sentiu foi uma flecha trespassando-lhe o
peito. Mesmo assim conseguiu atingir o Príncipe que caiu inerte sobre o chão
rochoso.
Arara |
Ao seu lado, Caiman e Ateles faziam seus ritos para o moribundo. Caiman
ergueu-se e fitou com olhos embaciados, o rosto de Falco que chorava a perda do
grande líder.
—
Escolha um
mensageiro. Diga-lhe que siga para Sirenia e conte a todos que Kerodon foi
levado por Kaneus, mas que vencemos a dura batalha. Mande-o dizer que nosso
Príncipe evitou o extermínio de nossa raça. Que os Ycrons foram derrotados por
um pequeno exército de guerreiros que lutavam por sua liberdade, e pela
liberdade de sua terra.
—
Que os todos cantem
canções – continuou Falco- onde alegrem seus corações pois que a morte de
Kerodon e seus guerreiros, trouxe vida à um grande povo. Que os Ycrons em sua
cegueira, destruíram a si mesmos. Que seu desejo pela destruição foi quem os
matou. Um povo não sobrevive sem o outro.
Falco afastou-se. Era quase noite
quando Kerodon morreu, mas não havia dor em seu rosto, apenas o sorriso
daqueles que nasceram para vencer.
Onça |
Ao seu lado, Manati baixava os olhos e
em silêncio se retirava. Todos sabiam o significado daquela estrela, e das
outras que já a aguardavam no céu.
Kerodon retornava à Guenardy, o paraíso
de paz que abrigava os filhos de Kaneus. Há horas que seu povo contava as
estrelas que subiam aos céus. Cada uma delas tinha um nome.
Pandion, Gueken, Blastocerus ,Wiedii ,
Piaya , Inia , Huika ,Auratsim, Didelphis, Alouata , Tayassu , Melro ,
Epicrates e Kerodon.
As estrelas dos guerreiros que haviam
morrido para salvar vidas.
Que o mundo viva em Paz.
Ekinate Kaneus
Sobre
o Texto.
Cada um dos personagens representa um dos animais abaixo, que os
homens(Ycrons), em sua loucura cega, tentam destruir .Cada um deles correndo
risco de extinção, por isso Kruzada, pela vida. Pela vida deles, pela nossa
vida, pela vida do Planeta.
Kerodon
Ruprestis-(Mocó) Pequeno
roedor, quando ouve algum barulho, fica tão imobilizado que é difícil
percebê-lo. Conhecido como Mocó, sua presença indica que o ambiente está
preservado.
Cariama
Cristata –(Seriema)É arisca se
perseguida, poucas vezes voa, mas corre tão ligeira que só um cavalo a alcança.
A noite descansa em árvores, onde constrói seu ninho de ramos e barro.
Didelphis
albiventris – (Gambá) Mamíferos dos
mais antigos do planeta. Com bolsa como o canguru, onde os filhotes se
protegem. Tem hábitos noturnos e se alimenta de frutas . Enrola-se nos galhos
das árvores.
Alouata
Caraya ( Guariba) – Corpulento
e ágil. Macho é barbado. São pretos e a fêmea amarelo escura. Vivem em bandos,
guiados pelo macho mais velho.Uivam ou roncam, no topo das árvores. Alimentam-se de brotos
, folhas e frutos.
Tayassu Tajacu ( Caititu) – Porco do mato, vive em grupos com mais de cem. Come frutas, raízes e talos.Alguns animais pequenos também. É muito caçado. O Caipora vive montado no último caititu para evitar sua morte.
Felis Concolor ( Onça-vermelha) Ou Suçuarana. Seu pelo é amarelo-vermelho, caça a noite e não é atrevida. Não ataca o gado e foge do homem.
Falco Rufigularis- (Falcão)Ou gavião coleirinha, por causa da coleira branca abaixo do pescoço. Valentão de 30 cm de comprimento. De visão aguçada. Usa os rochedos como ninho.
Epicrates Cenchria ( Salamanta) Serpente sem veneno, conhecida como cobra de veado. Em contato com a luz, suas cores mudam. Vive nos troncos e chega a dois metros.
Cereus- (Mandacaru) Cactus
Pilocereus Gounellei- Xiquexique- Cactus
Melro( Turdus) Pássaro Preto, canta ao anoitecer
Columba Picazuro(Asa Branca) Ave que possui uma faixa branca na asa. Familia dos pombos.
Sirenia- Peixe-boi ou Manati
Pandion- águia-pesquira
Blastocerus dichotomus- cervo do pantanal
Caiman latirostris – jacaré do papo amarelo
Tayassu Tajacu ( Caititu) – Porco do mato, vive em grupos com mais de cem. Come frutas, raízes e talos.Alguns animais pequenos também. É muito caçado. O Caipora vive montado no último caititu para evitar sua morte.
Felis Concolor ( Onça-vermelha) Ou Suçuarana. Seu pelo é amarelo-vermelho, caça a noite e não é atrevida. Não ataca o gado e foge do homem.
Falco Rufigularis- (Falcão)Ou gavião coleirinha, por causa da coleira branca abaixo do pescoço. Valentão de 30 cm de comprimento. De visão aguçada. Usa os rochedos como ninho.
Epicrates Cenchria ( Salamanta) Serpente sem veneno, conhecida como cobra de veado. Em contato com a luz, suas cores mudam. Vive nos troncos e chega a dois metros.
Cereus- (Mandacaru) Cactus
Pilocereus Gounellei- Xiquexique- Cactus
Melro( Turdus) Pássaro Preto, canta ao anoitecer
Columba Picazuro(Asa Branca) Ave que possui uma faixa branca na asa. Familia dos pombos.
Sirenia- Peixe-boi ou Manati
Pandion- águia-pesquira
Blastocerus dichotomus- cervo do pantanal
Caiman latirostris – jacaré do papo amarelo
Chrysocyon
brachyurus – lobo guará (Nomes
Indíginas: Gueken, guelken, huika(tehuelche septentrional). Indios Kamaiuras
(alto rio Xingu)o auratsim.Tupí-guaraní:
guará
Ateles geoffroyi - macaco aranha
Tinamus solitarius – macuco
Felis wiedii- maracajá
Piaya cayana- Alma de gato
Polyborus plancus- Carcará
Ekinate
Kaneus
Deus
o proteja
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