A casa era pequena, antiga e com muito a fazer.A família era pequena, só
três e trabalhavam para valer.
Foi assim que tudo começou, uma pequena Pastor Alemão a corda da vida
puxou.Vieram outros então:
A Doberman, a Rottweiler, o Akita, esse então que decepção, ao invés de
um gigante, tornou-se um anão.
Guará- SRD |
Foi daí que começou a confusão.
Não parava mais de aparecer cão!
Era alto, era baixo, curto, comprido, gordo, magrinho, preto, branco e
até uns malhadinhos. Os antigos canis, outrora vazios se encheram de vida novamente
e onde colocar tanto cachorro indigente?
Não havia solução, o certo era agora, endurecer o coração. Mas eis que
aparece um pobre coitado, pela sarna tão maltratado.Passa remédio, oferece
água, ração, vai embora o bastardo em busca de alguém que possa lhe estender a
mão.
Passa um dia. Passa outro.Lá vem aquele mesmo cão, mas traz ao seu lado
um amigo.É mais um cão desvalido.Talvez seja essa a nossa missão.
Mas não pára aí. Agora surge uma fêmea. Oh coitadinha, tão feia, vem
silenciosa e se posta diante do portão, não arreda o pé, como a pedir em oração:
“Hei você, quero uma pouco de ração!”
Mas como ela sabe?De onde veio?Quem a mandou?E por que logo em frente a
minha casa, essa danada parou no portão?
Não sei responder, seu prato de ração está lá fora, ela está a comer.E
segue o dia, passa o dia, é a mesma situação.Um ou outro cão, sentado ou na
esquina, ali, parado, aguardando o “Bandejão”.
Vem de longe as criaturas, andam por ruas e ruas.Almoço e jantar.Só um ou
outro é que ousa falhar.
Tem os que latem insistentes:
“Hei estou com fome, não me viram
aí, oh gente?”
Tem os que ficam calados, aguardando um anjo avisar:
“Hei, tem um cão lá fora, parado,
saias para o alimentar!”
Outros disfarçam, caminham de um lado para o outro dizendo:
“ Hei, será que alguém aí está me
vendo?”
E assim é que prossegue, dia a dia o "Bandejão".Como eles sabem? Não sei,
mas sabem que aqui têm ração. E dos olhos seus, confesso, vejo brotar
gratidão.Um abanar de rabo, um latido, sei que meu dever está cumprido.Ouso
falar, meu irmão, de um certo caderninho que Deus tem guardado no céu e onde
com certeza, o meu nome e o de tantos
outros, ali estão escritos.
Simone Nardi
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