Imagem: Experimento Pavlov |
Protágoras dizia que: “ como cada
coisa aparece para mim, assim ela é para mim, como cada coisa aparece para ti,
assim ela é para ti”, nesse contexto o homem, ou cada homem, seria então a
medida de todas as coisas, para ele, não necessariamente para o mundo.
Aos veganos parece estranho confinar um ser senciente, alimentá-lo até
que cresça e matá-lo para servir de alimento a seres que se consideram
igualmente sencientes, superiores e racionais.
Assim é que para os veganos, tratar um ser senciente sem respeito deixa
de ser sinal de superioridade para ser sinal de irracionalidade, já que
comprovada a sensibilidade dos animais não-humanos, é difícil ficar indiferente
a qualquer tipo de sofrimento que possa lhe ser infligido. Assim lhes parece
incoerente com a racionalidade e superioridade, fazer outro sofrer somente
porque há que se seguir um hábito alimentar baseado apenas na violência contra
outra criatura. Assim nos aparece, assim é para nós.
Parece igualmente incoerente que as pessoas sofram diante da televisão
com as imagens de dor que assolam o mundo em forma de catástrofes naturais ou guerras
mundiais, se em seus pratos trazem igualmente uma parcela dessa mesma guerra
travada nos abatedouros , mas pela qual nada sintam a respeito. Parece
incongruente que as pessoas chorem pelo
outro humano, ao se colocar em seu lugar, porque sabem o que é dor, medo e
desespero, mas ignoram a dor, o medo e o desespero daquela criatura morta em
seus pratos. Por quê?
Porque não conseguem enxergar, porque ali, segundo a tradição cultural
que foi passada , aquilo é apenas carne, de quem, de onde, nunca se questionaram,
não faz parte da vida delas questionar
sobre isso. A elas parece normal, assim é para elas. Só se esquecem de um
detalhe: a violência contra a vida é a mesma.
Para muitas pessoas matar outra criatura parece normal, porque elas são a
medida de todas as coisas que fazem referência a elas, não aos demais e isso
lhes parece normal porque simplesmente querem acreditar nisso. E a grande
maioria é tão centrada em si mesma que se irrita ao ouvir alguém dizer algo que
possa vir a contrariar suas crenças. Não lhe parece antinatural criar um animal
senciente para a morte, não lhe parece anormal infligir dor, colocar em
desespero, torturar, porque não lhe ensinaram que pode haver outros saberes que
não aquele aos quais elas se prendem. Matar é algo normal, é assim que ela vê,
é assim que ela sente, é assim que é para ela, desde que os veganos não lhe
digam como o bife foi parar em seu prato.
Sendo cada um de nós, a medida de todas as coisas, cada um de nós pode
sentir as mesmas coisas de formas diferentes. Alguns sentirão horror diante do
abate de um animal senciente, seja humano ou não humano, outros serão frios
diante disso. Alguns podem sentir compaixão por um animal abandonado, seja um
animal humano ou não humano, outros podem querer se aproveitar fisicamente
deles. Alguns podem sentir-se mal diante da tortura de um animal, humano ou não
humano, outros serão aqueles que infligirão a tortura. Cada um é a medida de si
mesmo, o problema é que, no tocante ao outro que sofre, essa medida pode surgir
de forma boa ou ruim, em forma de vida plena, ou de morte cruel. Por isso
Protágoras dizia : “ O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são
por aquilo que são, daquelas não são por aquilo que não são”. Cada pessoa
representa o seu mundo e o mundo em si, representa todas as pessoas e todas as
suas medidas. Os veganos não são conhecedores de todos os saberes, mas sabem do
principal: é imoral e antiético fazer qualquer criatura sofrer, seja ela de
qual espécie for. Ser a medida de todas as coisas implica muitas vezes em
invadir a vida de outras criaturas, como vamos fazer isso é o que nos torna
morais ou imorais.
Se somos a medida de todas as coisas, e agora é Schopenhauer quem nos
diz,: “O mundo é representação minha” , e podemos fazer o mundo ser melhor ou
pior , ser vida ou ser morte, luz ou escuridão. Assim como podemos ver e sentir
as demais criaturas, elas igualmente podem nos ver e sentir, e podemos ser
donos de um toque de suave compaixão ou a mão pesada do cutelo rasgando a
carne. Podemos ser o acalento da dor ou o desespero do abandono, mas em cada
ação, somos os únicos responsáveis por nós e pelo que acontece ao outro diante
de nós.
Qual a certeza que resta disto?
Que cada um tem a sua verdade, e que essa verdade pode transformar para o
bem ou para o mal, mas deve-se levar em alta conta que não vivemos isolados uns
dos outros e cada ação nossa implica em uma reação do outro, ou dos outros.
Toda vez que consumimos carne vermelha, nossa ação gera uma reação de
maior degradação e fome. Toda vez que consumimos peixes, nossa ação gera uma
reação que coloca em risco toda a biodiversidade marinha. São nossas medidas se
voltando contra nós mesmos, pois não sabemos viver em harmonia, isso sem
levarmos em conta o fato de estarmos matando seres sencientes , se olharmos por
esse lado então, veremos que o prejuízo moral é ainda maior, pois aquilo que levamos
por medida de todas as coisas, ou seja, nós e sempre nós, invade com
desrespeito e violência extrema a vida de outras criaturas.
Floresta |
Ocorre que a verdade que conhecemos e que nos torna a medida de todas as
coisas é primeiramente aquela verdade subjetiva que tínhamos na infância e que
foi apagada de nós por nossos pais ao insistirem que comêssemos a carne que
recusávamos a colocar na boca, transformando essa verdade natural naquela na
qual nos ensinaram a crer e que não nos permitia, até então, enxergar nos
animais não-humanos nada mais do que meros objetos de consumo. Quando passamos
a perceber o mundo ao nosso redor , conseguimos trazer essa verdade subjetiva a
tona, nos livrando da “verdade” imposta pela tradição cultural da sociedade e
mudando assim o rumo de “nossas” medidas.
Somos a medida de todas as coisas?
Devemos ser com sabedoria, pois qualquer ação que cause mal, que seja
violenta ou cruel, nos torna imorais e nos fará, cedo ou tarde, prestar contas
junto as demais criaturas. Se o mundo é nossa representação, basta termos
coragem de encarar nossas ações diante do mundo, olhar como ele se encontra,
olhar um matadouro ou uma granja, ver a verdade que se expressa nos animais
diante da morte, diante da dor , não fugir diante de um animal que se debate
para escapar ou que agoniza diante de nós. Não virar o rosto, não fechar os
olhos e não tapar os ouvidos.
Será que estamos mesmo preparados para sermos a medida de todas as
coisas, diante daquilo que ocultamos ou vamos continuar mentindo para nós
mesmos?
Simone Nardi
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