terça-feira, 8 de julho de 2014

O homem é a medida de todas as coisas!



Imagem: Experimento Pavlov
Sim,  depois de ouvir tantas críticas, tantas ofensas, depois de ver pessoas se descabelarem literalmente , ao ver que um grupo de pessoas “estranhas” não pensam como elas e sendo assim não comem carne , resolvi buscar em Protágoras uma explicação, ao menos coerente, para que a massa tradicional puna com argumentos antigos e culturalmente arcaicos, as pessoas que defendem os animais não-humanos.


Protágoras dizia que:  “ como cada coisa aparece para mim, assim ela é para mim, como cada coisa aparece para ti, assim ela é para ti”, nesse contexto o homem, ou cada homem, seria então a medida de todas as coisas, para ele, não necessariamente para o mundo.


Aos veganos parece estranho confinar um ser senciente, alimentá-lo até que cresça e matá-lo para servir de alimento a seres que se consideram igualmente sencientes, superiores e racionais.  Assim é que para os veganos, tratar um ser senciente sem respeito deixa de ser sinal de superioridade para ser sinal de irracionalidade, já que comprovada a sensibilidade dos animais não-humanos, é difícil ficar indiferente a qualquer tipo de sofrimento que possa lhe ser infligido. Assim lhes parece incoerente com a racionalidade e superioridade, fazer outro sofrer somente porque há que se seguir um hábito alimentar baseado apenas na violência contra outra criatura. Assim nos aparece, assim é para nós.


Parece igualmente incoerente que as pessoas sofram diante da televisão com as imagens de dor que assolam o mundo em forma de catástrofes naturais ou guerras mundiais, se em seus pratos trazem igualmente uma parcela dessa mesma guerra travada nos abatedouros , mas pela qual nada sintam a respeito. Parece incongruente que as pessoas chorem  pelo outro humano, ao se colocar em seu lugar, porque sabem o que é dor, medo e desespero, mas ignoram a dor, o medo e o desespero daquela criatura morta em seus pratos. Por quê?


Porque não conseguem enxergar, porque ali, segundo a tradição cultural que foi passada , aquilo é apenas carne, de quem, de onde, nunca se questionaram, não faz parte da vida  delas questionar sobre isso. A elas parece normal, assim é para elas. Só se esquecem de um detalhe: a violência contra a vida é a mesma.


Para muitas pessoas matar outra criatura parece normal, porque elas são a medida de todas as coisas que fazem referência a elas, não aos demais e isso lhes parece normal porque simplesmente querem acreditar nisso. E a grande maioria é tão centrada em si mesma que se irrita ao ouvir alguém dizer algo que possa vir a contrariar suas crenças. Não lhe parece antinatural criar um animal senciente para a morte, não lhe parece anormal infligir dor, colocar em desespero, torturar, porque não lhe ensinaram que pode haver outros saberes que não aquele aos quais elas se prendem. Matar é algo normal, é assim que ela vê, é assim que ela sente, é assim que é para ela, desde que os veganos não lhe digam como o bife foi parar em seu prato.


Sendo cada um de nós, a medida de todas as coisas, cada um de nós pode sentir as mesmas coisas de formas diferentes. Alguns sentirão horror diante do abate de um animal senciente, seja humano ou não humano, outros serão frios diante disso. Alguns podem sentir compaixão por um animal abandonado, seja um animal humano ou não humano, outros podem querer se aproveitar fisicamente deles. Alguns podem sentir-se mal diante da tortura de um animal, humano ou não humano, outros serão aqueles que infligirão a tortura. Cada um é a medida de si mesmo, o problema é que, no tocante ao outro que sofre, essa medida pode surgir de forma boa ou ruim, em forma de vida plena, ou de morte cruel. Por isso Protágoras dizia : “ O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são, daquelas não são por aquilo que não são”. Cada pessoa representa o seu mundo e o mundo em si, representa todas as pessoas e todas as suas medidas. Os veganos não são conhecedores de todos os saberes, mas sabem do principal: é imoral e antiético fazer qualquer criatura sofrer, seja ela de qual espécie for. Ser a medida de todas as coisas implica muitas vezes em invadir a vida de outras criaturas, como vamos fazer isso é o que nos torna morais ou imorais.


Se somos a medida de todas as coisas, e agora é Schopenhauer quem nos diz,: “O mundo é representação minha” , e podemos fazer o mundo ser melhor ou pior , ser vida ou ser morte, luz ou escuridão. Assim como podemos ver e sentir as demais criaturas, elas igualmente podem nos ver e sentir, e podemos ser donos de um toque de suave compaixão ou a mão pesada do cutelo rasgando a carne. Podemos ser o acalento da dor ou o desespero do abandono, mas em cada ação, somos os únicos responsáveis por nós e pelo que acontece ao outro diante de nós.


Qual a certeza que resta disto?


Que cada um tem a sua verdade, e que essa verdade pode transformar para o bem ou para o mal, mas deve-se levar em alta conta que não vivemos isolados uns dos outros e cada ação nossa implica em uma reação do outro, ou dos outros. Toda vez que  consumimos  carne vermelha, nossa ação gera uma reação de maior degradação e fome. Toda vez que consumimos peixes, nossa ação gera uma reação que coloca em risco toda a biodiversidade marinha. São nossas medidas se voltando contra nós mesmos, pois não sabemos viver em harmonia, isso sem levarmos em conta o fato de estarmos matando seres sencientes , se olharmos por esse lado então, veremos que o prejuízo moral é ainda maior, pois aquilo que levamos por medida de todas as coisas, ou seja, nós e sempre nós, invade com desrespeito e violência extrema a vida de outras criaturas.


Floresta
O mundo não é apenas o seu mundo, mas é o mundo de todas as criaturas e dentro dele  todos nós, de todas as espécies nos relacionamos.  Não há outro mundo, não há outra saída. Quando nós vemos nesse mundo é que podemos ver que há opção em mudar ou não, em conhecer outra “verdade”, dentro de  outra medida, ou não.


Ocorre que a verdade que conhecemos e que nos torna a medida de todas as coisas é primeiramente aquela verdade subjetiva que tínhamos na infância e que foi apagada de nós por nossos pais ao insistirem que comêssemos a carne que recusávamos a colocar na boca, transformando essa verdade natural naquela na qual nos ensinaram a crer e que não nos permitia, até então, enxergar nos animais não-humanos nada mais do que meros objetos de consumo. Quando passamos a perceber o mundo ao nosso redor , conseguimos trazer essa verdade subjetiva a tona, nos livrando da “verdade” imposta pela tradição cultural da sociedade e mudando assim o rumo de “nossas” medidas.


Somos a medida de todas as coisas?


Devemos ser com sabedoria, pois qualquer ação que cause mal, que seja violenta ou cruel, nos torna imorais e nos fará, cedo ou tarde, prestar contas junto as demais criaturas. Se o mundo é nossa representação, basta termos coragem de encarar nossas ações diante do mundo, olhar como ele se encontra, olhar um matadouro ou uma granja, ver a verdade que se expressa nos animais diante da morte, diante da dor , não fugir diante de um animal que se debate para escapar ou que agoniza diante de nós. Não virar o rosto, não fechar os olhos e não tapar os ouvidos.


Será que estamos mesmo preparados para sermos a medida de todas as coisas, diante daquilo que ocultamos ou vamos continuar mentindo para nós mesmos?


Simone Nardi







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