(Baseado numa história real)
Chácara
São José, interior de São Paulo. É hora do almoço. Algumas pessoas se reúnem em
volta da mesa comendo e mantendo uma conversa alegre e amistosa. Alguns sorriem
mais alto, outros falam sem parar, uma típica reunião de família.
De
repente Antônio, o dono da casa, leva as mãos a cabeça e começa a gritar a
altos brados:
— Minha Nossa Senhora! Minha Nossa Senhora!
Levanta-se da mesa e sai aos gritos para o quintal. Um dos familiares vai atrás dele enquanto a visita permanece assustada com a cena que se desenrola.
Dona Sara, esposa de Antônio levanta-se afim de acalmar as visitas. A voz, cansada pelos anos de trabalho, soa com clareza e inquietação.
— Minha Nossa Senhora! Minha Nossa Senhora!
Levanta-se da mesa e sai aos gritos para o quintal. Um dos familiares vai atrás dele enquanto a visita permanece assustada com a cena que se desenrola.
Dona Sara, esposa de Antônio levanta-se afim de acalmar as visitas. A voz, cansada pelos anos de trabalho, soa com clareza e inquietação.
— Não
se preocupem- diz ela- As vezes isso acontece. É um castigo, tudo por causa do
boi.
As
visitas trocam olhares curiosos.
Boi?
Mas de que boi a velha senhora falava?
Dona
Sara, compreendendo os olhares confusos resolve explicar o porque de um homem
tão lúcido como seu Antônio, enlouquecer de um momento para outro.
Voltemos
no tempo.
Quarenta
e cinco anos antes. Fazenda Santa Inês.
O
ranger do velho carro de boi enchia os ouvidos de Antônio. O sol quente do meio
dia lhe escaldava a pele, o suor lhe
banhava o rosto e a junta de bois empacava a todo momento sob o peso extremo
que puxava.
Sem
paciência, Antônio pegava o aguilhão e fincava no couro já todo ferido dos
bois, forçando-os a continuar a andar. Mais a frente, exaustos, os bois paravam
e Antônio novamente perfurava-lhes o corpo. As cangas, tão apertadas as cabeças
dos bois, também os castigavam mas o carreiro não se incomodava.
Bois
eram bichos ignorantes e burros, que só serviam para o trabalho pesado, arando
ou puxando carroças, era assim que Antônio os tratava, como criaturas que
mereciam o chicote e o arreio.
Durante
anos foi assim. Durante anos ele forçava os bois a carregarem um peso muito
além do que conseguiam. Maltratava-os até a exaustão, foi numa dessas vezes que
Antônio nunca mais voltaria a ser o mesmo homem.
O sol
abrasava a terra. O carro de boi quase se vergava sob o peso das toras de
madeira. Os bois, já envelhecidos pelos anos, não suportavam mais o trabalho e
pararam sem forças para prosseguirem.
Antônio
armou-se do ferro pontiagudo e cravou-o no couro de um dos bois porém, ao invés
de continuar a andar como sempre o faziam, o boi, sob o peso da canga, virou a
cara na direção de Antônio e fitou-o dentro dos olhos.
—
Pare de judiar de mim- falou o animal - Você nos maltrata demais...nós
carregamos todo o peso do carro, não reclamamos, fazemos isso por amor a você e
mesmo assim, você não respeita nosso cansaço.
Antônio
soltou o aguilhão de ferro e afastou-se do carro de boi, depois correu em
direção a sua casa contando, em pranto convulso, o que havia lhe acontecido.
A
mulher achava que ele enlouquecera. Como poderia um boi falar com uma pessoa?
Na certa o sol o deixara assim. Mas o olhos e as palavras eram tão intensas e
verdadeiras que ela não conseguia deixar de acreditar.
Passaram-se
alguns dias e Antônio, ainda que receoso, voltou ao trabalho. Agora era outro
homem. Colocava pouco peso na carroça e não levava mais o aguilhão de ferro
consigo. Os bois não era mais maltratados e o serviço rendia mais. No entanto,
a culpa que carregara durante tantos anos não lhe saía da cabeça e vez ou
outra, após a morte do velho boi que falara com ele, Antônio o via e
desesperava-se ao lembrar do que havia lhe ocorrido.
Dona
Sara calou-se contemplando o rosto das visitas. Alguns pareciam compreender,
outros continuavam achando que Antônio era louco.
Mas
apenas a criança que ali estava viu o enorme boi parado junto a porta. Ele
balançou a cabeça e saiu, o couro estava intacto, livre de ferimentos e
picadas. A imagem foi sumindo até desaparecer completamente da visão da
pequenina.
O
castigo não provinha do boi, mas da alma rude e acostumada as torturas de
Antônio que ao invés de ver o animal
são, ainda o via com o couro ferido
pelo ferro pontiagudo, tudo porque ainda não conseguira se perdoar.
Mas o
animal, esse sim já o havia perdoado, coisa que Antônio só conseguiria quando
perdoasse a si mesmo.
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2013
Que conto mais lindo! Pena que as pessoas são como Antônio e não como o boi. Lamentavelmente, o mundo ainda sofrerá em demasia até o ser dito humano aprender a respeitar seus irmãos. E o tempo para o aprendizado está se esgotando.
ResponderExcluirEsse conto, é um caso real, um tio do meu pai. Ele judiou a vida inteiro dos animais e no fim via cada um deles, e foi, bem dizer, enlouquecendo aos poucos. Sei de um caso, de uma colega minha, o pai dela afogou dez filhotes de cães, depois, sem explicação, as duas mãos deles ficaram deformadas...quem sabe aos poucos esse não seja o real castigo de nossa imensa desumanidade
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