Uma verdadeira transformação na educação praticada no país não deve ignorar um dos atos mais sublimes da humanidade: o pensamento livre e responsável
Por Simone de Nardi Grama*
Ler e escrever não são suficientes para perfilar a plenitude da cidadania.
Paulo Freire
Paulo Freire
Paulo Freire
O pedagogo e filósofo da educação pernambucano Paulo Reglus
Neves Freire (1921-1997) é, possivelmente, o educador brasileiro mais
citado no mundo. Seus livros Pedagogia da autonomia e Pedagogia da esperança condensam
em suas páginas os pressupostos de seu método Pedagogia do Oprimido, de
inspiração marxista, porém admirado até mesmo por pensadores de outras
vertentes por ser um método eficaz de alfabetização de populações
carentes. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), foi secretário de
Educação na gestão da prefeita de São Paulo Luiza Erundina. Saiba mais
no site www.paulofreire.org
|
Os problemas da educação no Brasil são vários: um País gigante,
marcado por enormes diferenças socioculturais, sobretudo pela pobreza e
pelo desinteresse dos governos no que tange a educação de seus
tutelados. Não é fácil resolver um problema assim, nem o desejamos ou
temos competência para tal, porém alguns problemas podem ser resolvidos
com o incentivo e a permissão da liberdade de se realizar um dos atos
mais simples que nos é permitido: o ato de pensar. O pensamento livre
gera, queiramos ou não, uma ação, e Sartre deixa claro que a única coisa
que não podemos fazer é não escolher, pois não escolher já é em si
mesmo uma escolha.
Hoje a educação tem conseguido chegar aos lugares mais
distantes por meio da internet, mas a verdadeira educação não é apenas a
transmissão de conhecimentos acadêmicos para esses alunos, e esses
alunos igualmente não precisam se abastecer dessa enorme quantidade de
conhecimentos apenas para retransmiti-las aos seus futuros alunos, em um
círculo vicioso que pode chamar-se de tudo, menos de um "processo
educacional".
O existencialismo nos diz que estamos todos realmente
condenados a "liberdade", pois "escolhemos" nosso destino e com isso, o
destino de todos aqueles que nos cercam, por isso nossa angustia, de
sabermo-nos responsáveis não somente por nós mesmos, mas por todo o
planeta. Mas essa nossa resignação, esse nosso conformismo com a
situação na qual toda a sociedade está mergulhada e que a nosso ver
parece-nos algo totalmente "natural nos permitiria ver que não somos
realmente livres, independente de nossas escolhas e de nossas vontades?
Essa é a importância de se discernir o que é e como deve ser a educação:
será que estamos mesmos libertos?
EXISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO
Jean Paul Sartre, em sua filosofia existencialista dizia que a existência precede a essência, ou seja, que o ser humano primeiro vai existir para somente depois disso se definir, escolher e agir conforme lhe aprouver, e não ao contrário como diziam os cristãos - que o ser humano já vinha com uma essência para ser bom ou ruim pré-definida por Deus - para Sartre, é o ser humano, e não Deus, que irá construir sua essência a partir de sua existência. Sendo assim, o ser humano pode escolher entre o bem e o mal, o que não lhe será possível é não escolher, pois mesmo não escolhendo já está agindo e nesse ato, acaba levando consigo a responsabilidade dessa ação, pois a condição humana é a de estar no mundo, de existir, de escolher ou não, de se acomodar ou de se redefinir dentro de seu projeto de vida, já que é o ser humano que se define e se torna aquilo que escolher ser: o ser humano é aquilo que é por sua própria decisão. E para construir sua essência, tudo que ele fizer dependerá única e exclusivamente de suas decisões, optando por tornar-se livre ou autêntico, ou simplesmente acomodar-se, permanecendo inautêntico, perdendo sua identidade em meio ao rebanho social, tornando-se o que Sartre vai chamar de homem de má fé, pois culpará a Deus e aos demais, pelo que sua essência se tornou, e sua covardia não lhe permitiu assumir o risco da liberdade. "Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade por sua existência." (Sartre, pg. 6).
Se, por outro lado, o ser humano quiser assumir tal risco,
enfrentará a possibilidade da morte, a finitude do ser, o nada, que o
levará a angústia diante do fato de reconhecer que tanto sua vida quanto
seus projetos terão um fim e por saber-se responsável, diante de suas
escolhas, não apenas por si mesmo, mas por todos os outros seres que o
cercam, porém reconhecendo nessa angústia o caminho que o levará a
tornar-se um ser autêntico, construidor de sua própria essência: "[...] o
homem ligado por um compromisso e que se dá conta que não é apenas
aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a
escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não
poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade".
(Sartre, pg.7)
Diferente do imperativo categórico de Kant, que diz : "Age
apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela
se torne lei universal", conforme é descrito no artigo de a Mauro Celso Destácio,
Sartre não universaliza a escolha do agir dessa ou daquela maneira, mas
coloca que esse ou aquele modo de vida pode ou não ser possível, mas é
cada um que deve escolher seu caminho, escolha o bem ou o mal estará
sozinho nessa decisão que envolverá os demais seres, se for bom para
ele, pode não ser bom para os demais, mesmo assim será uma escolha dele,
sendo que pode não ser bom nem aos demais e posteriormente nem mesmo à
ele, porém mais uma vez ele será o único responsável por isso, já que
for exercida sua própria liberdade no exato momento desse decidir, desse
agir em meio a sociedade, o que o levará a consequência dessa ação e a
novas escolhas e assim até autoconstruir-se.
Mauro Celso Destácio
Formado em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), o
professor, jornalista, revisor de textos e divulgador científico Mauro
Celso Destácio leciona na Legulus Cursos de Difusão Cultural.
|
Por isso o existencialismo de Sartre nos diz que educar é
possibilitar a construção dessa essência humana por meio da liberdade,
transformando o ser humano de um ser inautêntico para um ser autêntico,
desde que ele escolha isso, tirando- o da massa social cheia de
determinismos e dogmatismos, fazendo-o correr o risco de tornar- se
diferente dos demais e de ser muitas vezes punido por isso, de
angustiar-se diante disso, mas possibilitando-o de construir a si mesmo.
Se, por outro lado, a educação for mera reprodutora, for
dogmática e impositora de antigos conceitos sem respeitar a liberdade
dos seres, tal educação não serviria para Sartre, pois manteria os seres
humanos nessa massa social submissa da qual a escolha pela liberdade
poderia arrancá-los.
Para o existencialismo a educação deve ser aquela que irá
libertar os seres humanos dessa moral de aceitação e submissão onde a
sociedade se encontra presa, permitindo que cada ser humano se construa a
si mesmo, pois optando pela liberdade tal ser humano já demonstra
coragem, atitude e mais do que isso, responsabilidade não apenas por si
mesmo. E deve ser, para o existencialismo, a educação que deverá mostrar
esse caminho de escolhas e decisões, que deverá mostrar que a liberdade
de cada um dos indivíduos está vinculada a responsabilidade pelos
outros, já que para o existencialismo o ser humano, como ser individual,
ao escolher não é responsável apenas por si mesmo, mas responsável
frente suas escolhas por toda a humanidade, o que só pode ocorrer dentro
de uma educação libertadora, que incentive o pensar e a reflexão, que
ouça e que troque com outros seres, novos saberes, novas verdades,
possibilitando que os seres humanos possam escolher, agir e construir
cada um, sua própria essência.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Educação não doutrinária Somos todos doutrinados socialmente, para vivermos como a sociedade assim o deseja, cada qual dentro do seu papel, mas será que isso é o correto? Temos oportunidade de saber qual o papel de cada um ou isso já vem da antiguidade? O certo é que temos, desde que assim queiramos, a opção de mudarmos e com isso, transformar igualmente a sociedade. |
Como podemos compreender a Filosofia da Educação? Primeiro devemos nos lembrar de pensar separadamente o que significa uma e outra, reconhecendo que a resposta será diferente dependendo da variação da resposta que as questões "O que é Educação" e "O que é Filosofia?", nos trouxer, mas podemos de certa forma, afirmar que filosofia é questionamento, reflexão e análise crítica das coisas, um pensamento que pensa sobre si mesmo, um novo discurso analítico sobre o discurso. É do ato, da ação da Filosofia, o refletir. Educação não é apenas a repetição de saberes, mas a informação que visa despertar o interesse pela reflexão. Sendo assim, podemos de certa forma também compreender Filosofia da Educação como aquela que incentiva a liberdade da reflexão, a investigação dessa disciplina de educação, clarificando os conceitos do que possa ser a educação, palavra que todos falam, mas poucos sabem o que é.
O que é então Educação? Repetição de saberes, formação de
profissionais, formação de seres humanos, desenvolvimento de
habilidades, domesticação, manutenção de pessoas pré-moldadas pela
sociedade ou uma forma de libertar para refletir e agir? A educação está
dentro de todas essas questões e de muitas outras mais, porque ela
envolve relações humanas de respeito, tradições culturais, mudança de
valores, capacitação e formação moral e ética para proporcionar uma
convivência social no campo do ensino e da aprendizagem. E aqui é
preciso frisar que nem sempre o ensino está atrelado à aprendizagem,
pois o ato de ensinar pode não preencher as lacunas do aprendizado,
sendo o ensino, apenas a repetição de normas, saberes, verdades
paradigmáticas que não correspondem com a situação acadêmica, seja
consciencial, individual e social dos alunos. Eles podem ouvir o
professor falar durante duas horas, porém isso não significa que o
entendam e mais que isso, que aprendam algo a respeito do que o educador
fala.
Normalmente pode-se entender ensino como a necessidade de
repassar para os alunos, valores que são considerados pela sociedade, de
grande importância, porém os valores da sociedade, e nós somos a
sociedade, mudam constantemente. Como então repassar permanentemente
esses valores aos alunos? Podemos exemplificar alguns casos da mudança
de valores que as escolas ainda rejeitam trocar com seus alunos: hoje o
veganismo é um valor crescente dentro do âmbito mundial, a cada dia seu
número aumenta provando que é possível ao ser humano sobreviver sem
alimentos de origem animal, porém dentro do ensino educacional, muitos
professores ainda repetem aos seus alunos a pirâmide alimentar onde a
carne, segundo a visão secular e dogmatista, ainda é necessária ao
organismo e que sem ela a alimentação se tornaria deficiente. Não há o
acompanhamento da realidade do dia a dia que nega tal fato e o educador,
aprisionado pela retransmissão de valores que a sociedade exige e da
qual igualmente foi vítima, acaba por aprisionar mais alunos nessa mesma
visão, evitando a troca de saberes entre ambos, evitando o olhar para a
concretude cotidiana que lhe mostraria a transformação que está
ocorrendo no mundo fora das paredes institucionais.Temos, então, apenas a
retransmissão de um ensino que foi "ensinado" e não "aprendido", um
ensino fechado sem possibilidade de troca de saberes e experiências, que
não leva a reflexão e portanto, não leva a um novo saber, a uma nova
descoberta.
Isso nos mostra que a educação deve ser constante troca de
saberes entre teorias e realidades, um olhar constante para a sociedade e
para as transformações que nela ocorrem, o que impediria que a educação
fosse considerada apenas ensino e permitindo então que se transforme em
aprendizagem, para libertar e incentivar o pensamento de cada um, para
propiciar a busca por mais respostas e finalmente chegar-se a escolha, a
ação que irá definir cada indivíduo e a sociedade na qual ele vive.
EDUCAÇÃO COMO LIBERTADORA
E o que é esse pensável do qual Heidegger nos fala? A educação é o pensável, pois está em tudo desde o berço; educar é conscientizar para transformar - transformação é ação vinda da reflexão. Podemos olhar a educação como uma ferramenta que pode organizar, impulsionar as pessoas a buscarem uma liberdade e uma educação não doutrinária, que pode fazê-las ir contra as injustiças e dar a todos uma vida mais digna, o que implica em escolher entre libertar-se ou deixar-se levar pela enorme massa social, o rebanho nitzscheriano, onde pode-se perder a identidade, tornando a todos seres inautênticos com vidas inautênticas ou assumir a responsabilidade de tornar-se livre e realmente autêntico o que, segundo Sartre, colocará o ser diante da angústia, diante do nada e da possibilidade da morte, o que o desafiará a se construir como um ser humano autêntico. Utopia? Segundo a Profa. Dra. Roseli Fischmann, é a utopia que nos impulsiona a caminhar, a descobrir e a construir. O que precisamos descobrir é se isso nos é permitido.
Roseli Fischma Mestre, doutora e livredocente em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e titular na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp. Foi Visiting Scholar na University Harvard e consultora do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Educação e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil. |
Educar não é apenas repetir, folhear livros e decorar, educar é
instruir no caminho humanístico da moral e da ética crítica, é olhar o
outro com os olhos dele também, e não apenas com o nosso olhar. Dentro
da educação, podemos ver que não são apenas os conteúdos transmitidos
aos alunos que são de suma importância, ainda mais hoje em dia com a
crescente ideia de "globalização", "crescimento", "ganhos financeiros",
onde se formam engenheiros, médicos, dentistas, filósofos, ao invés de
se formarem verdadeiros seres humanos formados nessas disciplinas, por
isso a relação indivíduo-sujeito, professor-aluno deve ser vista como
algo de grande importância, deixando a formação dos seres apenas para o
"ter" e passando a formação dos seres para o "ser", desde que nosso
sistema educacional também nos permita isso. O conhecimento dentro do
campo da educação deve ser socializado, visando-se a troca de
experiência, de saberes entre alunos e professores, tendo como meta
transformar o ser inautêntico em um ser autêntico, tirando-o do rebanho
social onde a sociedade o coloca, de forma a igualmente transformar essa
sociedade que domina e explora. O esforço educacional deve ser aquele
voltado a construir o bem, pois parando para analisar essa relação,
professor-aluno, podemos notar a responsabilidade que será transmitida
por meio do ensino, pois pode, ela, ser um instrumento que servirá
apenas como doutrinação ou domesticação desses novos "profissionais" ou
instrumento social de libertação, de escolha de decisões desses novos
seres humanos, sendo assim, qualquer outro tipo de educação que promova a
reprodução de saberes, que seja normativa, não cabe dentro da visão
existencialista, pois deste modo, não permitiria as pessoas de se
libertarem da grande massa inautêntica, submissa e escrava que a cerca. A
educação, livre também desses grilhões, poderá permitir que as pessoas
se construam, lutem e assumam a responsabilidade que a liberdade lhes
traz.
DE QUE FORMA A EDUCAÇÃO FARÁ ISSO?
Segundo o existencialismo de Sartre, permitindo que todos possam enxergar os caminhos que levem à liberdade, da liberdade à responsabilidade e da responsabilidade ao desafio da morte e da angústia, pois estando livre e sendo responsável, cada um saberá que sua responsabilidade não se aplica somente a elas, mas a todos que a cercam, construindo assim, como já foi dito, uma sociedade mais digna.
Essa tomada de consciência, através da educação, permite também
que as pessoas mudem a realidade a sua volta, essa temporalidade
permite ao homem angustiar-se e assim reconstruir-se, ao se transformar
ele igualmente pode transformar a sociedade, tornando-se mais
participante dentro dela seja em termos culturais, políticos ou
econômicos.Pink Floyd
Criada em Cambrige, Reino Unido, em 1965, a banda Pink Floyd é
o principal grupo de rock progressivo e psicodélico da história. Sua
formação original contava com Roger Waters, Nick Manson, Richard Wright e
Sid Barret (1946-2006). David Gilmour entrou logo em seguida. Pink
Floyd é responsável por pelo menos três álbuns clássicos da história do
rock: The Piper at the Gates of Dawn (1967) The Dark Side of the Moon (1973) e The Wall (1978).
O que podemos concluir ao relacionar o existencialismo com a
nossa realidade, é que atualmente a educação não educa, apenas repassa
antigos conhecimentos porque não se aproxima dos educandos como deveria,
a educação não os vê, não os enxerga como seres distintos com
possibilidade de se tornarem autênticos, mas apenas como uma massa a ser
preparada para a sociedade, cada um ocupando o lugar que lhe é devido. A
educação deixa de ser libertadora para se tornar uma opressora aos que
realmente se encontram libertos, cumprindo assim o papel de
sistematizadora e mantenedora da dominação.
Mas, se a educação liberta como nos dizem vários autores, o que
faremos se o aluno não quiser se libertar? Esse é dos muitos problemas
no campo educacional, definir não só a liberdade, mas o desejo dela por
parte dos alunos, porque já sabemos que a liberdade de agir, de pensar,
de decidir, nos traz com ela a responsabilidade pelo outro, e que junto a
isso vem também a angústia, e não são todos os alunos ou até mesmo os
professores que, estejam preparados ou não, desejam encarar esse
desafio. Como encarar isso, como falha, ou como respeito ao desejo de
cada um, ou como mais uma manobra do sistema educacional para manter a
sociedade resignada?
Esse um dos grandes problemas da educação brasileira.
"Os alunos não são apenas outro tijolo no muro", cantou a banda Pink Floyd
em sua canção "The Wall". Se os alunos não são apenas outro tijolo no
muro, como encarar cada aluno? Como libertar aqueles que não querem ser
libertos, ainda mais dentro de suas culturas e tradições? Como encarar
esse sistema educacional que forma profissionais e não seres humanos?
Que mantém a sociedade estática, com cada classe obedientemente
resignada para aquilo que já é, no lugar onde já está?
É um grande desafio da educação brasileira, marcada por grandes
diferenças sociais, onde alguns são privilegiados e não se importam e
os que se importam não alcançam, muitas vezes, uma educação de nível
mais qualificado (um ensino que realmente liberte), ou seja, tal questão
está muito além do próprio ensino educacional, mas vem de longe, de
gerações de famílias que ou não tiveram acesso a educação ou tiveram um
acesso precário e de baixa qualidade, em um sistema que igualmente, na
maioria das vezes, não lhes traz a oportunidade de se desenvolverem
plenamente. Dentro de uma educação muitas vezes baseada na repetição do
saber eurocêntrico e que não serve para resolver os problemas da
realidade brasileira. Seria preciso, assumir a cultura brasileira, não
apenas a construção dos valores e saberes brasileiros, mas a valorização
do pensamento topológico por meio da não referência.
E esbarramos em nossa primeira dificuldade: como respeitar os
costumes e tradições de cada região, e isso em relação aos alunos e suas
escolhas? A educação deve basear-se não apenas nas teorias, mas também
na realidade sociocultural. Pensando assim podemos dizer que seria certo
levar a cultura regional para a sala de aula a fim de incluí-la no
aprendizado, porém, deve-se ter em mente que muitas culturas e tradições
deveriam ter sido abolidas há muitos anos. É dever de um educador
respeitar seus alunos, porém é seu dever informar. Vamos pensar
globalmente nesse momento e pegar uma visão violenta que embora não
ocorra em nosso País, vale como uma troca de saber para pesarmos a
responsabilidade que envolve o respeito, embora um relato estrangeiro,
servirá para fortalecer e construir a nossa própria visão: em muitas
culturas, ainda persiste a subjugação violenta das mulheres, em alguns
casos com a mutilação genital
feminina, sabemos que esse pensamento violento para nós, é algo natural
para aquela cultura, porém envolve a morte de mais de 600 mil meninas
por ano devido às intensas hemorragias. O que fazer então? Respeitar a
cultura ou informar? Essa é uma questão e um problema no campo
educacional que obviamente não ocorre no Brasil, mas que sabemos que
como qualquer outra cultura de violência, só pode desaparecer através da
mudança de mentalidade dos envolvidos e isso depende de como o educador
vai abordar o fato ligado as raízes culturais daquela região. Isso
poderia acontecer em casos mais simples e aqui mesmo em nosso País, como
na cultura enraizada da farra do boi ou das vaquejadas, na cultura dos
rodeios e circos, porém em todos esses casos é preciso antes de tudo
libertar-se, para somente depois "informar para libertar".
Outra questão que nos chama a atenção, é que algumas
escolas/universidades, em alguns casos, não estão preparadas para os
alunos, para essa troca de conhecimento, esquecendo das diferenças e
interesses de cada ser humano ali presente, e acabam usando o mesmo
método para todos, preparando a massa de forma uniforme, baseadas apenas
em conhecimentos técnicos, não propiciando assim uma abordagem mais
concreta da sociedade, não permitindo ao educador buscar novos saberes
que poderão ser problematizados dentro das salas de aula e assim
incentivar os alunos a buscarem por novas respostas: "É claro, portanto,
que a ideia de um método estático ou de uma teoria estática de
racionalidade funda-se em uma concepção demasiado ingênua do homem e de
sua circunstância social. Os que tomam do rico material da história, sem
a preocupação de empobrecê-lo para agradar a seus baixos instintos, a
seu anseio de segurança intelectual (que se manifesta como desejo de
clareza, precisão, 'objetividade', 'verdade')" (Feyerabend, p. 54).
Mutilação genital A oblação genital é realizada em cerca de três milhões de meninas por ano em regiões da África, Ásia e Oriente Médio, segundo dados de organizações como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, em inglês United Nations Children's Fund). |
Tendo o educador a função de educar e não apenas de transmitir
conhecimentos, e respeitando ainda o interesse de cada aluno e
valendo-se da não referência, ele não falha ao trocar saberes com seus
alunos, mesmo aqueles que não desejam ouvi-lo, pois o papel da educação é
informar, é conscientizar para que cada um possa fazer sua escolha,
consciente daquilo que está fazendo. A educação pode desmitificar
inúmeras verdades que hoje não mais se sustentam, demonstrar novos
caminhos, novas possibilidades de vida, de forma a que cada um passe a
enxergar o todo, e não apenas aquilo que a sociedade modela, a escolha
no entanto continua sendo de cada um. Porém esbarramos em outra questão:
como libertar o oprimido estando também agrilhoado aos antigos
pensamentos e sistemas educacionais?
Althusser Louis Althusser (1918- 1990) foi um filósofo franco-argelino que frequentou a École Normale Superieure, na qual se tornaria professor, após servir na II Guerra Mundial e ser feito prisioneiro em um campo de concentração após a invasão do exército nazista à França. Filiado ao Partido Comunista Francês. Sua mescla de marxismo e estruturalismo fez muito sucesso nos anos 1950 e 1960, mas foi recebendo críticas fortes ao longo dos anos. |
SOMENTE O LIBERTO PODE LIBERTAR!
Dentre os muitos problemas educacionais há também o fato de muitos
professores não estarem, eles mesmos, libertos do dogmatismo
educacional, da visão determinista que ainda rege pais, alunos e
professores. O que queremos dizer? Podemos dar outro exemplo simples
voltado a Ética Biocêntrica e aos Direitos dos não humanos, ambos os
assuntos já no cenário filosófico já há alguns anos, mas que até então
não tiveram, na maioria das escolas ou universidades, sua inclusão de
forma plena no campo educacional repassada aos alunos, salvo alguns
poucos professores que tentam incentivar a reflexão nesse campo e que
esbarram com inúmeros problemas, entre eles pais e outros professores.
Leon Denis, professor de Filosofia do ensino médio da rede estadual de
São Paulo, pioneiro do ensino de Direito Animal em escolas públicas do
Brasil, que tem enfrentado problemas para passar aos alunos mais do que o
sistema educacional lhes impõe. Educar, desde sempre, deveria ser
educar para uma vida harmoniosamente plena, de modo que cada aluno,
ciente de suas escolhas e de suas responsabilidades para com os outros,
pudesse então repensar suas escolhas em relação a como elas iriam
influir em termos gerais, o que nos leva também a pensar em termos
humanísticos, pois o aquecimento global, a desertificação de algumas
regiões, a poluição das águas e dos lençóis freáticos, bem como a morte
de bilhões de animais não humanos todos os anos, não é um problema
distante dos seres humanos, ao contrário, é um problema gritante entre
todos, e que o sistema educacional ignora grande parte das vezes. Esse
antropocentrismo exagerado no campo educacional, não ajuda a diminuir
esses problemas, não melhora as nossas relações sociais, nem liberta o
oprimido, ao mesmo tempo em que não incentiva os alunos a uma reflexão
sobre isso, esquecendo- se que tal pensamento, paradigmático e
determinista, é o que também ajuda a aumentar a diferença entre ricos e
pobres, entre abastados e famintos, e alimenta o sistema social que
mantém tais diferenças. E ainda assim o antropocentrismo impera na
educação.
Acima vimos um exemplo simples de formação humana e planetária,
e podemos exemplificar ainda outro tipo de formação de corpos, que
também ocorre dentro da educação regida por um sistema que não permite,
muitas vezes nem mesmo aos professores, perceberem que fazem parte de
uma grande engrenagem de dominação. A formação do ser para o que é, isto
é, seremos aquilo que somos sempre, se o sistema educacional não puder
ser mudado. Para compreendermos mais essa questão é preciso voltarmos a
Sartre e seu pensamento existencialista que nos diz que cada um faz a
sua escolha, seu projeto de vida, que o ensino poderia então mudar os
alunos e transformar a sociedade, também foi dito que a Filosofia da
Educação, além de investigar o conceito educação, incentiva ou deveria,
incentivar os alunos a pensarem por si mesmos, mas vamos ver o
pensamento de Sartre em comparação ao pensamento de Althusser,
e que parece nos mostrar o real estado da educação no Brasil e dos
"prisioneiros" que se acreditam libertos: "Peço desculpas aos
professores [...] São uma espécie de heróis [...] a maioria não tem nem
um princípio de suspeita do 'trabalho' que o sistema os obriga a fazer
[...] Eles questionam tão pouco que contribuem, pelo seu devotamento
mesmo, para manter e alimentar esta representação ideológica da escola,
que faz da escola hoje algo tão natural e indispensável e benfazeja a
nossos contemporâneos como a Igreja era natural, indispensável e
generosa para nossos ancestrais de alguns séculos atrás" (Althusser,
1985).
Se a filosofia é questionadora, como podemos esbarrar nessa
questão? Porque não estamos, alunos e professores, realmente libertos,
esse sim o maior problema da educação, fazer com que continuemos
acreditando que estamos livres, quando permanecemos em servidão. No
atual sistema educacional podemos ver que as universidades públicas, ao
contrário do que se imagina, não foram feitas para os humildes e
oprimidos, estes irão continuar oprimidos porque o sistema atual assim
quer que eles permaneçam, essa talvez seja uma contradição do mito da
liberdade e da igualdade por meio da educação, porque quem se capacita
melhor é na grande maioria das vezes, quem tem uma vida melhor que lhe
propicie melhores condições de alcançar novos conhecimentos. E na visão
existencialista de Sartre, isso não é educação, pois é uma educação
normativa, reprodutora de saberes que não permite aos seres humanos se
libertarem dela, pois seguimos todos, alunos e professores, uma educação
impositora e desprovida do que seja realmente o conceito de liberdade.
Como escreveu o filósofo e professor César Mangolin "[...] quem educa os
educadores? Somos formados, na verdade, para perceber a escola e a
certificação como algo fundamental. [...] Somos, produtos do meio,
nascemos em um mundo organizado de uma determinada forma e em um lugar
social específico, nossas representações desse mundo e também as
possibilidades que temos nesse mundo são determinadas por suas
estruturas e não pela nossa vontade. O leque de opções que pode haver
para a escolha de um de nós é totalmente determinado por essas
circunstâncias específicas. [...] Não há essa suposta liberdade de
escolha e de fazer o que quiser com a vida, pelo menos para a quase
totalidade da população".
Esse é um problema de difícil resolução no campo educacional e
social, ainda mais quando acreditamos, depois de formados, que podemos
ser "agentes da libertação" (Mangolin), sem realmente nos projetarmos
para fora dessa falsa realidade na qual nos prenderam. Dizer que estamos
sendo "mal educados", que os professores são "mal educados", seria uma
forma simples de demonstrar a capacidade de ensino atual, sendo que esse
"mal educado" estaria ligado não ao sentido dos professores serem
desrespeitosos para com seus alunos, mas ao sentido daquilo pelo que
"escolheram", pelo que foram obrigados a escolher enquanto pensavam agir
de forma livre, está ligado ao sentido de seu agir em relação aos
alunos, em um círculo vicioso que massifica e acaba por não instruir ou
libertar ninguém. A educação de hoje não educa, transforma as pessoas em
"mal educadas", tirando delas a bagagem que carregam consigo mesmas e
atirando-lhes valores que são importantes para manter a separação de
classes dentro do âmbito social, "instrumento privilegiado da
sociodiceia burguesa que confere aos privilegiados o privilégio supremo
de não aparecer como privilegiados, ela consegue tanto mais facilmente
convencer os deserdados que eles devem seu destino escolar e social à
sua ausência de dons ou de méritos, quanto em matéria de cultura a
absoluta privação de posse exclui a consciência da privação de posse"
(Mangolin).
Qual a liberdade que resta tanto para alunos quanto para
professores se a educação formata a todos do mesmo modo? Não resta
liberdade quando não se pode enxergar as opções de escolha, e estamos
todos vendados. "A educação muda os alunos: tira deles a criatividade,
formata seus cérebros de acordo com a distribuição necessária dos grupos
determinados na divisão social do trabalho, torna-os dóceis à
exploração capitalista e a ideologia do mérito torna justificáveis
quaisquer misérias sociais" (Mangolin).
É preciso, portanto, ou deveria, se educar para outros modos de
ser, outros modos de agir, criando um paradigma planetário que
abarcasse a todos os seres e que libertasse a todos desse sistema
opressor de manter-se como está. Como? Refletindo sobre esses problemas,
observando que o antigo paradigma não encontra mais sustentação,
permitindo-se e permitindo aos alunos essa troca de informação, essa
troca de saberes. Mais importante do que libertar os alunos, é o
educador libertar a si mesmo desse sistema doutrinário, do contrário não
conseguirá fazer com que os alunos reflitam sobre o que lhes é
informado. Um educador antropocêntrico, não passará aos alunos a
senciência animal, pois sua visão não contempla tal coisa, ele pode
falar sobre o assunto, mas caímos novamente na questão ensino e
aprendizagem. Um educador que se mantenha preso ao sistema de "classe",
jamais poderá mostrar aos alunos que estão, cada um deles, presos a suas
próprias classes sociais e assim em diante. Mas o educador não pode se
libertar desse sistema sozinho, é preciso que a sociedade passe a
enxergar, passe a refletir e finalmente passe a agir para se
transformar.
Esses pequenos exemplos demonstram que um dos muitos problemas
que ocorrem dentro do campo educacional brasileiro, além das
dificuldades materiais citadas por inúmeros governos, é o enorme cabedal
acadêmico, muitas vezes paradigmático e condescendente ao sistema
opressor, esquecendo-se que dentro da educação esse incentivo a
reflexão, essa vontade de transformar a sociedade com ações políticas de
igualdade e de real liberdade, é que deveriam realmente ser a meta a
ser atingida por todos e, no entanto, servem apenas para manter cada um
em seu devido lugar. Nossa liberdade de pensar, de escolher e agir
assumindo uma posição esbarra diretamente no outro: "Assim, a nossa
responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela
envolve toda a humanidade.", definiu Sartre no livro O existencialismo é um humanismo.
E as questões da humanidade hoje não se resumem apenas a homens e
mulheres, como muitos educadores ainda insistem, e nossa liberdade
parece ainda mais distante do que jamais poderíamos supor. Transformação
igualmente é uma liberdade de escolha, o que nos mostra que hoje, ao
contrário do que compreendemos em Sartre, o que somos não é culpa de
cada indivíduo e de suas escolhas, mas de um sistema que mantém alunos e
professores em perpétua servidão, sem que consigam notá-la, libertar-se
desse sistema seria realmente uma escolha, não apenas individual, mas
de todos os verdadeiramente oprimidos, oprimidos pela educação e pelo
ensino de resignação.
Vamos supor que estamos livres, então como libertar para transformar, depois de libertos, aquele que não deseja se libertar?
Sartre nos diz que o covarde é responsável por sua covardia,
não somos nós ou a humanidade, não é Deus, mas ele mesmo. Será que as
pessoas desejam mesmo se libertar, ainda mais os jovens, ofuscados por
uma sociedade consumista e massificadora, que se deixam levar pelos
meios de comunicação igualmente formados por uma educação determinista,
que tornam a todos seres sem face, inautênticos e distantes uns dos
outros? Tendo em mente que o destino não apenas dele, mas de todo o
planeta está em cada decisão individual, como novamente Sartre nos diz
"não há esperança senão na sua ação", pois a única coisa que permitiria a
nossa existência seriam nossos atos conscientes, mas como termos
certeza de que estamos ou não conscientes deles, mesmo seguindo-se uma
linha que nos diga que nossos atos não devem causar o mal, se isso é uma
questão de escolha, de decisão individual de cada um e se o atual
sistema não nos permite essa liberdade, mas tendo em mente que nossa
ação, se bem direcionada, pode transformar. "Quando falamos em
transformação o que vem a minha mente é a transformação de nossas
relações sociais de produção e de toda formação social, ou seja, a
revolução. Para isso, insisto, a escola não pode contribuir porque é o
contrário, exatamente o contrário, da sua tarefa" (Mangolin).
E é sempre nesse problema que vamos esbarrar a cada novo
desafio que nos surge, como transformar em um sistema que insiste em
perpetuar os seres?
Talvez nosso maior problema seja o de conseguir vencer esse
sistema educacional que oprimi em invés de libertar, que impõe em invés
de discutir e incentivar a reflexão, pois esse seria o verdadeiro
trabalho da educação informar e transformar, sobretudo na obra elegida
para esse trabalho que é o existencialismo de Sartre. Pensar nos
problemas da educação sem atacar sua raiz, o sistema social que não
permite a libertação, é como tornar-se Sísifo, rolando a pedra sem uma
perspectiva de vê-la finalmente onde deve ficar. "Incrível coisa é ver o
povo, uma vez subjugado, cair em tão profundo esquecimento da liberdade
que não desperta nem a recupera; antes começa a servir com tanta
prontidão e boa vontade que parece ter perdido não a liberdade, mas a
servidão. [...] os homens nascem sob o jugo, são criados na servidão,
sem olharem para lá dela, limitam-se a viver tal como nasceram, nunca
pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao
nascer, aceitam como natural o estado que acharam à nascença" (La
Boétie, pg. 10).
A educação pode contribuir para muitas transformações sociais,
desde que seja realmente encarada como desenvolvimento individual, desde
que consiga se envolver com os conteúdos a serem informados, com a
prática deles na vida real e vice-versa, desde que a instituição esteja
realmente envolvida com a aprendizagem e não com a formação de corpos
dóceis. De nada adiantarão as novas tecnologias educacionais, como o
ensino à distância, se a informação, a aprendizagem e a liberdade foram
esquecidas, até porque, pudemos ver que a educação pode ser uma
ferramenta de transformação social e não apenas de transmissão cultural
como foi durante séculos, uma educação ditatorial onde prevalece o
interesse de alguns em detrimento de outros, é preciso que os alunos
sintam essa necessidade de aprender não apenas por aprender, mas sabendo
que podem se transformar e transformar a sociedade, é preciso que os
alunos e professores sintam a necessidade de construir e se reconstruir,
de pensar a realidade social e de ser verem envolvidos nela, dentro de
suas capacidades de escolherem e mais do que isso, de agirem. Sartre
dizia que o ser humano é liberdade, então a educação deve ser liberdade,
se for utopia ou não, somente saberemos daqui a alguns anos, já que
pensar o novo sempre nos parece incerto no presente, pois temos, muitas
vezes, medo de reinventar nosso futuro; temos medo do novo, por isso
nos apegamos àquilo que já sabemos e que dominamos.
Os alunos não são apenas outro tijolo no muro, os professores
igualmente não devem ser apenas outro tijolo no muro. Os alunos não são
páginas brancas de um livro terminado, cada um traz sua bagagem, sua
parcela de conhecimento, somos projetos de vida diferentes, seres
inacabados que necessitam de uma boa educação para sua formação como
sujeitos. Precisamos compreender que não existe uma única verdade, não
existe um único caminho que todos irão percorrer da mesma forma, e essas
relações, professor-aluno, liberdade-escolha, podem derrubar antigos
preconceitos e reconstruir uma nova visão de mundo, de sociedade onde
todos os indivíduos passarão a se ver inseridos.
Toda mudança passa por um processo de transformação,
professores, educação, alunos, em todo processo de transformação pode se
fazer uma escolha, tornar a educação uma mola que impulsione os alunos
ou um grilhão que os mantenha presos. É também uma escolha de cada
educador, bem como uma escolha de cada educando. É preciso olhar para
esse novo horizonte que surge a cada dia, é preciso renovar,
problematizar e reconstruir pensamentos, derrubar paradigmas e
dogmatismos, há uma infinitude de novos saberes que os todos precisam
conhecer.
A educação não vai formar cidadãos mais éticos, mas deve
permitir que cada um, dentro de sua própria "liberdade", seja capaz de
pesar cada uma de suas ações em relação a si mesmo e aos demais.
Chegamos à conclusão que um único problema se divide em inúmeros outros.
A escola forma para o que é, e não para a possibilidade do "vir a ser".
No caso da classe inferior, ela se formará para permanecer
nesse nível, e não para galgar outros níveis, ela é o que é, e segundo o
sistema educacional atual, nada mais poderá vir a ser. Só nos resta uma
questão: teriam os professores, sobretudo os de filosofia (da educação)
desistido de questionar?
O que remete nosso pensamento a uma palestra conferida na
Universidade Metodista pela Prof. Dra. Sônia Felipe, na qual ela foi
efusiva e só restou um certo "silêncio aterrador" depois que ela
calou-se: "E o filósofo não questiona!"
Porque em alguns casos, se questionar, o sistema acaba
questionando os educadores o motivo pelos quais "seus alunos estão
pensando". Logo, daria para se imaginar nas turmas, sobretudo de
Filosofia, uma placa com a inscrição: "É proibido pensar".
REFERÊNCIAS BURSTOW, Bonnie. "A filosofia sartreana como fundamento da educação". Disponível em: <http://cev.org.br/biblioteca/afilosofiasartreana-enquanto-fundamentoeducacao>. Acesso em: 6 mar. 2010. DENIS, Leon. "Por que incomodo tanto?". Disponível em: <www.pensataanimal.net/artigos/117-leondenis/274-por-queincomodotanto>. Acesso em: 5 out. 2009. DESTÁCIO, Mauro Celso. "Imperativo categórico". Disponível em: <www.eca.usp.br /nucleos/filocom/mauro.doc>. Acesso em: 26 mar. 2010. FELIPE, Sônia T. "O estatuto dos animais na comunidade moral humana". Palestra realizada em 24 set. 2008. Auditório Iota - Campus Rudge Ramos - Universidade Metodista de São Paulo. FISCHMANN, Roseli. "Educação em Direitos Humanos: desafios e possibilidades". teleaula de 08/02/2010. FLOYD, Pink. Another Brick In The Wall. In: ____. "The Wall". Disponível em: <http://letras.terra.com.br/pink-floyd/817049/traducao.html>. Acesso em: 1º fev. 2010. JOSGRILBERT, Maria de Fátima V. "Paulo Freire e a educação de jovens e adultos". Disponível em: <www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_ MariadeFa.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2010. LA BOÉTIE, Etienne de. "Discurso sobre a servidão voluntária". Disponível em: <www.portalgens.com.br/filosofia>. Acesso em: 8 mar. 2010. MARGOLIN, César, Blog. Disponível em. https://cesarmangolin.wordpress.com/category/comentarios-mangolin/page/7 MARX, Karl - Manuscritos EconômicoFilosóficos /Agosto de 1844. Disponível em <http://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm>. Acesso em 06/03/2008. NARDI, Simone. "Abolição sim, segregação jamais". Disponível em: <www.pensataanimal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=234:abolicaosim&catid=118:simonena rdi&Itemid=1>. NUNES, Benedito. "Heidegger & Ser e Tempo". Rio de Janeiro: Zahar. PANSARELLI, Daniel. "Filosofia, educação e estética: elementos para o ensino e a pesquisa". Umesp. SARTRE, J. P. - "O existencialismo é um humanismo". São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os pensadores.) SOUZA, Ana Inês. "Um novo jeito de fazer a educação". Disponível em: <www.ihuonline.unisinos.br/uploads>. Acesso em: 1º jan. 2010. |
Simone de Nardi Grama é graduada e
licenciada em Filosofia pela Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP), especialista em Filosofia Contemporânea e História pela mesma
instituição . Escreve para a revista Conhecimento Prático Filosofia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente; Sugira; Critique; Trabalhamos a cada dia para melhorar o Blog Irmãos Animais - Consciência Humana