terça-feira, 10 de junho de 2014

O Verdadeiro Milagre




Culpa

Enquanto muitas pessoas ficam paradas, estagnadas, apenas aguardando um milagre acontecer outras trabalham para que os milagres aconteçam, é com esse pensamento que desejo apresentar a ideia de milagre trazido por uma filósofa.

Hanna Arendt em seu livro “O que é Política” nos fala sobre o que é milagre. Não os milagres religiosos, inexplicáveis e dogmáticos ao qual nenhum ser humano pode questionar e sim apenas aceitar e torcer para que ocorra exatamente com ele, afinal é algo que viria de Deus, uma dádiva de um Pai para com seu filho. Não, não é sobre este milagre que Hanna Arendt, judia que vivia num tempo onde o Nazismo reinava, nos fala; ela fala do milagre sim, mas como uma condição da ação humana.

Milagre deixa então, nas palavras desta filósofa, de pertencer à classe dos conceitos metafísicos e se materializa, se humaniza, pois se trata na verdade da ação dos seres humanos em criarem condições para que as mudanças ocorram. Seres humanos, não Deus. Podemos ver como a autora coloca a responsabilidade sobre nossos ombros nos dizendo de forma esclarecedora que basta dos discursos de que as coisas não podem ser mudadas, de que não conseguimos nos transformar, que só um milagre metafísico pode realizar esse trabalho que deveria ser apenas nosso.

Hannah Arendt
Hanna Arendt, de um modo muito simples, tira a tal “naturalidade” das coisas e nos mostra que para que um milagre ocorra, tudo o que necessitamos fazer é criar condições de nos transformar e nos transformando, transformar também o mundo ao nosso redor, criando assim novas cadeias causais que materializarão esse milagre. É um grande puxão de orelha naquele que se abriga sob o teto da preguiça de mudar, adiando para outros o trabalho que é seu e que precisa ser realizado hoje. Nós temos esse hábito de esperar que algo mude no mundo para que nós igualmente mudemos, pensamos que alguém metafísico, em algum lugar vai desencadear alguma transformação que vai resvalar em nossos corações e como num passe de mágica vai igualmente nos transformar sem que façamos qualquer esforço, afinal, como alguns dizem, é necessário evitar a fadiga.

Imaginemos se todos os países tivessem esperado que Hitler mudasse por vontade própria ao invés de lutarem contra ele? “Vamos esperar”, diriam os mais serenos, ele terá o momento dele, ele vai “cair na real” e descobrir que matar não leva a nada, mudar é algo de foro íntimo, não podemos forçar ninguém a fazer o que não deseja, um dia ele vai despertar...

Será que ao deixar que as coisas aconteçam pela mão de “não sabemos quem” estamos vivendo mesmo num mundo que é nosso? Falo aqui do medo que as pessoas possuem ao ouvir falar em animais e sobretudo em vegetarianismo. A grande maioria diz que esse milagre, podemos chamar assim, um dia vai ocorrer em todo o Planeta. Mas pelas mãos de quem? Se Hanna Arendt nos fala que nós somos o milagre, que nós somos os criadores dessas novas cadeias causais, a mudança só poderá ocorrer através de nossa ação: “[...] nenhuma boa vontade de hoje garante no mínimo uma boa vontade para amanhã” (Arendt,2011,p41). 

Morador de rua e seu cão
Sobretudo aos espíritas que creem na reencarnação, pois ao reencarnarem daqui a alguns anos e, se o tal milagre da qual teriam que ser a Boa Vontade e sobretudo a Ação não se efetivou, quem garantirá que voltarão com a mesma “boa vontade” de mudar o mundo se não a tiveram na reencarnação passada? Ou desejam estes companheiros reencarnar num mundo mágico, onde ninguém mais se alimente de animais e assim nascerem ali já reformados sem terem se esforçado para abandonar o hábito da carne, porém nesta nova roupagem obrigados a não comer algo que ainda faz parte de seus perispíritos? Assim a mudança seria fácil, não tendo acesso ao que desejam, não mais desejariam...será? Obrigados a mudar pelo esforço, pelo milagre alheio e não pelo seu próprio, tendo em seus perispíritos a necessidade da carne que implantaram em si mesmos , sem conseguir apagar as marcas desta necessidade pois nada fizeram para que isto ocorresse....

Milagre é ação e nós encarnados é que devemos criar condições para que toda mudança ocorra no planeta, pois ela não vai ocorrer jamais sem a boa vontade e a ação de cada um de nós. De nada nos adianta pregar o amor se somos violentos e onde quer que exista violência não existe amor e há muita violência em nossos pratos, disso nós devemos estar sempre cientes.

É nossa responsabilidade mudar os antigos discursos que no dizem que algo é de foro íntimo, de que cada um tem seu tempo, é preciso apagarmos de nossa mente essa naturalização da violência que cometemos contra os animais, nós , seres humanos é que construímos nossa história, toda a transformação que ocorrer no planeta é de nossa inteira responsabilidade: “ [...] cada novo começo é, em sua natureza, um milagre” (Arendt, 2011, p42). Assim, nossa ação é o sinônimo do milagre que há mais de 2000 anos esperamos e, esperamos exatamente porque não fazemos nada para que ele ocorra já que, como nos coloca Arendt, poder começar novas cadeias causais é próprio dos seres humanos e não dos animais.

[...] fato de o próprio homem ser dotado, de um modo extremamente maravilhoso e misterioso, de fazer milagre. No uso idiomático habitual e comum, nós chamamos essa aptidão de agir. É característico do agir a capacidade de desencadear processos(...) é lhe característico, inclusive, o poder impor um novo começo, começar algo de novo, tomar iniciativa, começar uma cadeia espontaneamente. O milagre da liberdade está contido nesse poder-começar que, por seu lado, está contido no fato de que cada homem é em si um novo começo, uma vez que, por meio do seu nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e vai continuar existindo depois dele.” (Arendt, 2011, p43)

Vemos assim que o ser humano é capaz de realizar milagres de criar um novo começo então, quando teremos coragem de encarar nossa capacidade de iniciar esse processo de transformação? Afinal, o que esperamos para começar a nos transformar?






Simone Nardi







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