Se o homem aspira
sinceramente viver uma vida real, sua primeira decisão deve
ser abster-se de comer carne e não matar nenhum animal para
comer.
Falai aos animais,
em lugar de lhes bater.
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O escritor russo Leon
Tolstoy tornou-se vegetariano em 1885. Abandonando o esporte da
caça; ele defendia o "pacifismo vegetariano" e era contrário a que
se matassem mesmo as menores entidades vivas, tais como as formigas.
Ele sentia haver uma
progressão natural da violência que conduzia inevitavelmente a
sociedade humana à guerra. Em seu ensaio "O Primeiro Passo", Tolstoy
escreveu que o consumo de carne é "simplesmente amoral, visto que
envolve a execução de um ato contrário à conduta moral: matar".
Tolstoy acreditava que, ao matar, " o homem suprime em si mesmo,
desnecessariamente, a capacidade espiritual mais elevada - a de
compaixão para com os seres vivos como ele - e, ao violar seus
próprios sentimentos, torna-se cruel"
Como outros, Tolstói lamenta os que “olham e não vêem;
ouvem e não escutam.” “Não existe”, escreve ele, “mau cheiro, som,
monstruosidade aos quais o homem não consiga se acostumar a ponto de
deixar” de ver, escutar e cheirar a aparência, o som e o odor do
mal.
Tolstói ouvira todas as razões antigas e conhecidas
pelas quais matar animais
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Boi branco |
para comer é aceitável e até natural. Deus
o permite. O costume o sanciona.
Seja o que for. Enfiar animais pela
nossa goela é bom. Tolstói não pensa assim.
Tolstói fez uma coisa que poucos de nós fizemos. Como
recomenda Marti Kheel, ele foi diretamente à fonte do mal: visitou
um matadouro. O cenário é a Rússia, a época, final do século XIX. “A
princípio”, escreve ele:
“...senti vergonha (...) Ver com os meus
próprios olhos a realidade da pergunta levantada quando se discute o
vegetarianismo (...) Assim como todos sempre ficam envergonhados ao
espiar um sofrimento que (...) não se pode evitar.”
Uma vez no matadouro, Tolstói encontra trabalhadores
que não gostam do seu serviço. Um açougueiro admite que comer carne
não é necessário, Outro fica perturbado, “principalmente quando [os
animais] são gado tranquilo, domesticado. Vêm, coitados, confiando
em nós. É de dar muita pena.”
Depois de observar horrorizado os animais maiores
encontrarem o seu fim, Tolstói conta então que entrou “no
compartimento onde os animais pequenos são abatidos — uma câmara com
piso de asfalto e mesas com encosto, nas quais ovelhas e bezerros
são mortos. Aqui o trabalho já quase terminou; na longa sala, já
impregnada com o cheiro de sangue, só havia dois açougueiros. Um
soprava a perna de um carneiro morto e batia no estômago inchado com
a mão; o outro, um rapaz de avental emplastrado de sangue, fumava um
cigarro torto. Não havia ninguém mais na câmara comprida e escura,
cheia de um odor pesado. Depois de mim entrou um homem,
aparentemente um ex-soldado, trazendo um jovem carneiro de um ano,
preto com uma marca branca no pescoço, de patas amarradas. Este
animal ele o pôs sobre uma das mesas, como se numa cama. O soldado
velho saudou os açougueiros, que evidentemente conhecia, e começou a
perguntar quando o seu patrão lhes permitiria ir embora. O camarada
com o cigarro aproximou-se com o facão, afiou-o na borda da mesa e
respondeu que estavam de folga nos feriados. O carneiro vivo estava
ali deitado tão silencioso quanto o morto e inflado, a não ser por
sacudir nervosamente o rabo curto e os lados a se alçarem com mais
rapidez que de costume. O soldado baixou gentilmente, sem esforço, a
sua cabeça levantada; o açougueiro, sem parar de conversar, agarrou
com a mão esquerda a cabeça do carneiro e cortou-lhe a garganta. O
animal tremeu e o rabinho endureceu e parou de abanar. O camarada,
enquanto esperava o sangue correr, começou a reacender o seu
cigarro, que se apagara. O sangue corria e o carneiro começou a
agonizar. A conversa continuou sem a mínima interrupção. Era”,
conclui Tolstói, “era horrivelmente
revoltante.”
Para nós, hoje, seria um alívio descobrir que os
matadouros de agora são menos “revoltantes” que aquele que Tolstói
descreve. A verdade é bem outra, como documenta Gail Eisnitz em seu
livro sobre a indústria americana do abate em geral, e do abate de
porcos em particular.
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Suínos |
O abate de porcos constitui uma variação do tema
principal do setor de embalagem de carne. Os porcos são levados por
um corredor estreito onde o “atordoador” lhes dá um choque elétrico
que, supostamente, deixa-os inconscientes. Então são presos a
correntes pelas pernas traseiras, pendurados de cabeça para baixo e
colocados numa esteira rolante onde encontram o “perfurador”, cujo
trabalho é cortar a garganta dos animais. Depois de sangrar até a
morte, os porcos são mergulhados num tanque de água fervente e
depois eviscerados, sem que nunca recuperem a consciência. Pelo
menos é assim que as coisas deveriam funcionar na teoria. Na
prática, como Eisnitz descobriu depois de conversar com
trabalhadores, o verdadeiro abate de porcos não combina com a
teoria.
Tom Regan - palestra no 1 Congresso
Vegetariano Brasileiro e
LatinoAmericano
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