Vamos
começar pelo que digamos, seja talvez, o lado mais fácil da batalha pelos
Direitos Animais: o abandono de cães e gatos.
Digo
fácil porque esses animais estão mais próximos de nós, e somos mais facilmente
tomados pelo “sentimentalismo”, ao menos alguns, quando vemos um cão ou gato
abandonado.
Existem
inúmeras Ongs de proteção animal, na grande maioria de cães e gatos que são
abandonados pelos seus “donos”. Esses animais são recolhidos, tratados,
alimentados, vacinados e castrados, depois colocados para adoção em feiras ou
pelos diversos blogs espalhados pela internet,para talvez encontrar tutores.
Alguns
encontram novos lares, outros não.
Em
meio a tanto sofrimento desses animais, deparamos com acalorados defensores
que, pasmem: comem carne.
Sim
não comem carne de cães ou aquele famoso e conhecido “churrasquinho de gato”,
mas comem carne de frango, boi, carneiro, perus, etc. Me fazendo lembrar de um
texto muito interessante de Paula Brügger que leva o título:
“Por que os protetores de animais comem animais?”
Tina, Lhasa Apso, abandonada |
E
por que eles faziam isso?
Eram
pessoas tão boas, tão centradas nas questões animais, tão dedicadas e ao mesmo
tempo, tão cegas para outros tipos de sofrimento animal.
Paula
Brügger nos explica em seu belíssimo texto que os protetores de animais comem
animais primeiro porque não precisam matá-los. Segundo porque não assistem ao
sofrimento desses animais nem durante sua vida curta e muito menos no instante
de suas mortes.
É aquele
véu que falei noutro texto , ou seja, a ignorância continua sendo uma benção
para eles.
O
protetor de animais que disser que não vive sem carne, não merece o direito de
ser considerado um protetor de verdade.
Radical?
Talvez. Mas vamos raciocinar, um cão sarnento sofre mais do que um porco que
tem o pescoço cortado e fica dependurado sangrando até morrer?
O
cão sarnento apesar de tudo ainda pode encontrar um protetor que cuide dele,
mas o porco não tem quem lute ou amenize a dor dos chutes, pontapés, choques e
o sangramento em sua artéria.
Agora
já não parece tão radical não é?
Como
um protetor de animais vai dizer para as pessoas se penalizarem dos cães e dos
gatos abandonados, se ele como protetor e defensor da vida, não se apieda dos
animais que são abatidos nos frigoríficos e nas granjas?
Errado
matar não apenas aquele cão ou gato de rua que cruza o nosso caminho, mas todos
aqueles animais que são criados apenas para virarem alimento.
Nós
também somos uma Indústria Cruel, tão cruel como os abatedouros quando
permitimos que esses animais sejam abatidos para nos saciar a fome, mesmo
sabendo que temos dezenas de outros alimentos que podem substituir ainda melhor
as proteínas da carne.
Nós
matamos indiretamente.Mesmo assim matamos.Somos responsáveis indiretamente por
suas mortes, Por seus medos, pelas dores, por toda a vida miserável que tiveram
antes de terminarem em nossos pratos.
Eles
merecem o mesmo respeito que os cães e gatos que tiramos da rua.
Eles
merecem os mesmos direitos que os cães e gatos que vacinamos e castramos.
E
por que ainda hoje existem protetores de animais que comem animais?
Hipocrisia
dizer que amamos uns e permitimos que outros sejam mortos para nos satisfazer.
O verdadeiro amor não escolhe amigos.
Está,
ou melhor, já passou da hora dos protetores agirem como protetores.O trabalho
deles é árduo?Sim, é, mas qual trabalho em prol da causa animal não o é?
Se
os protetores que se apiedam dos cães sarnentos e dos gatos queimados com água
quente não tomarem a dianteira na luta pelos Direitos Animais, quem irá tomar?
A
pessoa que colocou o cão na rua ou a que atirou água fervendo no gato?
Aquela
que nem olha o cão tremendo de frio numa esquina ou o outro que atira pedras no
gato franzino que atravessa a rua?
Quem
mais poderia lutar pelos Direitos Animais, de todos os animais, senão os
próprios protetores?
Bono e iris, SRD, abandonados |
Cães
e gatos terão seus direitos um dia, mas o restante dos animais também porque um
não é melhor ou pior que o outro, porque um não sofre mais ou menos que o
outro.
Como
uma Indústria, até hoje Cruel, devemos também mudar nossos costumes brutais,
nossas experiências com animais.Não podemos exigir isso dos outros se dentro de
casa fazemos o mesmo.
O
fato é que não podemos nos engajar num movimento que preza a libertação animal
se ainda os devoramos.
Vamos
mudar nossas casas para depois sim exigir que os outros modifiquem as deles,
isso sim é lutar contra o Holocausto Animal.
“Você precisa ser a mudança que você quer ver no mundo.”
Gandhi
Simone Nardi
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