Muito se
tem discutido sobre a existência de animais na erraticidade , alguns estudos
alegam que não, enquanto outros estudos sinalizam que sim. Fato é que a
Doutrina Espírita, embora alicerçada no Pentateuco, não estacionou ali, ao
contrário, construiu a partir do Pentateuco um edifício de conhecimento
gigantesco que se espalhou e que tem se espalhado a todo o momento.
Posteriormente
ao Pentateuco, inúmeras outras obras surgiram trazendo mais luz sobre esse
assunto. O inglês Harold Sharp descreve
em sua monografia “Animais no Mundo Espiritual”, suas experiências espirituais
e mediúnicas diante da visão de inúmeros animais que haviam desencarnado, Ernesto
Bozzano, pesquisador espírita, em seu
livro “A Alma dos Animais” relata mais de uma centena de casos, fundamentados
cientificamente, onde comprova a sobrevivência e a existência de espíritos de
animais no Plano Espiritual , ainda podemos citar alguns autores como Eurípides
Krull, Carlos Bernardo Loureiro, Herculano Pires , Marcel Benedeti que muito
auxiliaram na construção e nos desdobramentos desse saber espírita. A princípio
faz-se necessário eliminar alguns equívocos que frequentemente levam algumas
pessoas a serem taxativas ao dizer que não existem espíritos de animais na
erraticidade.
A
palavra erraticidade deve ser compreendida primeiramente como estar no Plano
Espiritual, como o estado em que o Espírito ou o espírito está finalmente
liberto do corpo material, já a palavra errante nos traz a ideia de errático,
de alguém que está vagando ao acaso,
sem rumo, perdido , nesse caso poderíamos também compreender que tal Espírito
se encontra fora da Colônia Espiritual, vagueando pela Terra, muitas vezes
ainda se acreditando encarnado. Como podemos ver, as palavras erraticidade e
errante, que iremos ler na questão 600 do Livro dos Espíritos, possuem
significados diferentes ao qual poucas pessoas se atentam.
Marcel
Benedeti colocou essa diferenciação de termos de forma bem clara ao dizer que
um Espírito pode estar na erraticidade e ser errante ou pode estar na
erraticidade e não ser errante, ou seja, usufruir de seu livre arbítrio para ir
aonde desejar.A questão 600 do Livro dos Espíritos nos diz :
600. A alma do animal,
sobrevivendo ao corpo fica num estado errante como a do homem após a morte?
R . Fica numa
espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito
errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade: o
dos animais não tem a mesma faculdade. E a consciência de si mesmo que
constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é
classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase
imediatamente: não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas
Imagem:Transformação da lagarta em borboleta |
Os animais,
não possuindo livre arbítrio, não se tornam espíritos errantes, pois assim que
desencarnam os irmãos zoófilos - e este termo precisa ser bem compreendido para
que não se crie uma nova confusão - rapidamente os recolhem. Zôo-Filo, duas
palavras que derivam do grego, o termo zôo (zôion) refere-se a animal e Filo (phílos), amigo, amizade, atração, respeito ou
amor, como em Filo-sofia, amor a sabedoria, zoófilo, amor/amigo dos animais,
são espíritos abnegados que trabalham em prol destes irmãos menores que estão
em sua trajetória evolutiva assim como nós. E o Espírito prossegue em sua
resposta:
“O Espírito do
animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e
utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se por em relação com
outras criaturas”.
Os espíritos dos animais são recolhidos após seu
desencarne pelos espíritos incumbidos disto, ou seja pelos irmãos Zoófilos e
utilizados ,”quase” que imediatamente. Vamos nos deter aqui por mais um momento
para prestarmos atenção na sutileza da
resposta. O Espírito coloca “quase que imediatamente”, ele não frisa
“imediatamente”, ou seja , em nenhum momento ele afirma que não existem animais
na erraticidade, apenas assevera que não existem espíritos de animais errantes.
O que podemos, através da continuidade dos estudos das obras iniciadas no
Pentateuco é , levados pela lógica do pensar, chegarmos com auxilio dos estudos
e da espiritualidade a conclusão de que nem todos os animais reencarnam imediatamente
após deixarem o plano físico e que alguns, por necessidade do Plano Espiritual,
são de certa forma utilizados para alguns trabalhos onde seja necessária sua
presença e sua vibração.
E o Espírito continua: “não dispõe de tempo para se por em relação
com outras criaturas”. Aqui ele não deixa claro quais seriam essas criaturas,
mas podemos pensar que seriam criaturas da mesma espécie, ou seja, outros
animais. Uma das provas de que Kardec não havia concluído o pensamento de que haviam
ou não animais na erraticidade é narrado na Revista Espírita de maio de 1865, número 5, o caso de Mika,
uma cachorrinha que depois de desencarnada foi percebida por seus donos durante
alguns dias, não significa porém que Mika se encontrasse como espírito errante,
mas que estava na erraticidade e que
fora acompanhada por um irmão zoófilo até seu antigo lar, não por seu desejo e
livre arbítrio, mas pela necessidade dos antigos tutores que sentiam imensa
falta de sua presença.
“Ultimamente, pelo meio da noite, estando deitado, mas não dormindo,
ouço partir dos pés de meu leito aquele gemidinho que soltava a pequena galga,
quando queria alguma coisa. Fiquei de tal modo impressionado que estendi o
braço fora do leito, como se a quisesse atrair para mim e julguei mesmo que ia
sentir suas carícias. Ao me levantar de manhã, contei o fato à minha mulher,
que me disse: ‘Ouvi a mesma voz, não uma, mas duas vezes. Parecia vir da porta
de meu quarto. Meu primeiro pensamento foi que nossa pobre cadelinha não estava
morta e que, escapando da casa do veterinário, que dela se teria apropriado
graças à sua gentileza, queria voltar à nossa casa’. Minha pobre filha doente,
que tem sua caminha no quarto da mãe, afirma que também ouviu” (Revista
Espírita, Maio, 1865)
Apesar da
clara descrição da presença do pequeno animal na casa, ou seja, na
erraticidade, o que vem confirmar que os animais realmente podem permanecer,
nem que seja por breve período na erraticade, é a reposta fornecida pela
espiritualidade e que se encontra nesta mesma Revista e, que também demonstra a
in-conclusão deste raciocínio naquela época:
“Assim, não se enganaram
ouvindo um grito alegre do animal reconhecido pelos cuidados de seu dono, o
qual veio, antes de passar ao estado intermediário de um desenvolvimento a
outro, trazer-lhe uma lembrança. A manifestação, portanto, pode ocorrer, mas é
passageira, porque o animal, para subir um degrau, precisa de um trabalho
latente”.(Revista Espírita, Maio, 1865)
Imagem: Tigres brancos |
E o “por quê”
devemos compreender de que existem animais na erraticidade? Somente por que
André Luiz, Emmanuel, entre outros, frisaram esse fato? Não apenas por isso,
mas por nos lembrarmos que Kardec não encerrou no Pentateuco toda a sabedoria
espírita, ao contrário, escreveu um roteiro para que esse conhecimento se
tornasse maior exatamente por reconhecer o limite da ação investigativa da
época a qual pertencia e, sendo o Espiritismo alicerçado em 3 fortes pilares
Ciência, Filosofia e Religião, poderia
prosseguir nos estudos investigativos das ocorrências espirituais.
Assim, novos
acontecimentos, novas descobertas, novos fenômenos, abririam novamente uma
corrente investigativa que poderia proporcionar novos conhecimentos a respeito
de tudo aquilo que, porventura, ele não pudesse ter galgado em sua época. Quais
seriam esses fenômenos que nos suscitariam ao ato investigativo?
Divaldo Franco
ao ser questionado uma vez sobre a presença de animais na erraticidade
respondeu com muita clareza. Disse o expositor espírita que há um determinado
período no qual os animais permanecem na erraticidade, embora breve, existe tal
período e que, alguns animais se demorariam um pouco mais do que outros.
Citando André Luiz, Yvonne Pereira, entre outros que asseveram que alguns
animais permanecem por períodos maiores na erraticidade. Não é correto afirmar
que tais palavras sejam conflitantes com o que está no Livro dos Espíritos,
exatamente pelo fato de que, como bem coloca Divaldo , nossos atuais
desdobramentos dos estudos que já haviam sido previstos por Kardec, o que vem
aumentar toda a obra espírita e não negá-la.
Em 2009 Marcel
Benedeti esteve no Grupo Fraternal Francisco de Assis para uma palestra e para
a implantação dos trabalhos de Assistência Espiritual aos Irmãos Menores
Animais, enquanto estudava com os trabalhadores da Casa um cão adentrou na sala
de estudo e caminhou indo de trabalhador em
trabalhador recebendo deles afetuosos carinhos, assim permaneceu ele em
meio aos estudos durante longos minutos quando então levantou-se , despediu-se
e saiu atravessando a parede.Só então todos conseguiram notar que era uma
manifestação espiritual .
Existem então
animais errantes na erraticidade?
Não, não existem animais errantes na erraticidade, mas existem animais na erraticidade, essa é a conclusão a qual todo estudo sério, tanto do Pentateuco quanto das demais obras espíritas no fazem chegar, se permanecem muito ou pouco tempo é outro assunto, mas não podemos negar a existência de animais, seja por breve ou por longo período, na erraticidade.
Simone Nardi
Referências
O
Livro dos Espíritos- Os Três Reinos
André
Luiz. Nosso Lar e Libertação
Revista
Espírita- Maio
de 1865, número 5; http://www.febnet.org.br/gerenciador/pdfRepository/2009-11-20-7.553a249c3b86dfbf07a340c9e307d9fe.pdf
Revista
O Consolador: “O advento do mundo de regeneração está próximo, mas não
imediato”. http://www.oconsolador.com.br/51/entrevista.html
OBS:
A conversa com Marcel Benedeti sobre
erraticidade foi pessoalmente
Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita
André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão Espírita Clara Luz
que
discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e
Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.
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