quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Vegetarianismo e Veganismo: Um gigantesco tabu espírita.

Artigo do colaborador 

Murillo Francisco Cason



A questão da defesa dos animais e a natureza de modo geral, assim como as mudanças de hábitos alimentares e comportamentais que vem ocorrendo de maneira crescente nos dias atuais, nos faz refletirmos sobre essas questões de importância fundamental para o espiritismo, considerando esse como sendo o cristianismo redivivo e seus adeptos os novos cristãos.

Tendo em vista esse quadro, percebemos que é praticamente nulo o debate entre os adeptos da doutrina sobre a questão dos animais, a alimentação e demais comportamentos e práticas onde esses nossos irmãos perante Deus são utilizados em nossa sociedade.

Focarei o ponto central desse texto apenas no aspecto referente ao nosso costume de nos alimentarmos desses nossos irmãos, pois seria extensivo demais abordar todas as questões que envolvem a exploração.

O pouquíssimo estudo que é dedicado pelos espíritas sobre as realidades espirituais e físicas desses nossos irmãos, reflete a falta de interesses dos mesmos, fazendo com que gigantescas oportunidades de se praticar a caridade sejam desperdiçadas.

Em minha opinião, ocorre grave erro de interpretação não somente pelos espiritas, mas por todos os demais cristãos a respeito da orientação do mestre Jesus sobre amar ao próximo como a si mesmo.

Infelizmente, o próximo, ainda tem ficado restrito somente a humanidade.

Com a palavra irmão se dá o mesmo erro, assim como tudo aquilo que se refere a caridade ao próximo, ficando essa circunscrita somente a humanidade.

Como espíritas, sabemos que o espiritismo é uma doutrina que nunca se impôs e nunca irá se impor sobre aspecto algum a seus adeptos pois é uma doutrina de razão e raciocínios livres, tendo por missão demonstrar ao homem o melhor caminho a seguir.

Assim sendo, acredito que caiba ao espiritismo estudar com maior carinho e caridade a questão do consumo de cadáveres de nossos irmãos.

O termo cadáver desmistifica o termo carne que é utilizado para designar os pedaços de irmãos menores que colocamos em nosso pratos.

O termo carne tem por objetivo nos iludir e principalmente nos afastar do tão famoso raciocínio que nós espiritas devemos aplicar sobre infinitas questões do comportamento humano.

A palavra carne, utilizada para designar alimento, afasta totalmente a ligação que existe entre o pedaço de carne no prato, do ser vivo pensante, senciente, com sentimentos e percepções muito próximas das nossas tais como, amor, ternura, compaixão pelos semelhantes, medo, anseio de liberdade, convívio social, dor, dentre dezenas de outros pontos de conexão entre nós e os animais que devoramos avidamente.

Já o termo cadáver nos traz à realidade do verdadeiro significado daquele pedaço de matéria em nosso prato.

Meu objetivo como disse anteriormente, não é impor e nem provar nada, pois acredito que pela lógica de raciocínio fica muito fácil enxergarmos a realidade, não citando assim extensivas pesquisas cientificas que cada vez mais vem apontando para dois aspectos importantíssimos e que são ainda infelizmente ignorados por muitas pessoas que são:

1º - Bois, galinhas e porcos, sendo esses os 3 principais grupos dos quais o ser humano se alimenta, possuem alta capacidade cognitiva sendo provado em diversas pesquisas as habilidades perceptivas e sentimentais que citei acima como: medo, dor, compaixão e total noção do mal que está sendo cometido com o indivíduo.

2º- Várias pesquisas tem demonstrado os males que o consumo de carne traz para o ser humano e os benefícios de uma dieta vegetariana, ou de preferência vegana.

Somente por esses dois aspectos que a ciência humana nos tem demonstrado, temos motivos mais que suficientes para dedicarmos maior atenção a questão dos animais e nossa alimentação.

Como se não bastasse os fatos incontestáveis que a ciência terrena nos vem demonstrando, a literatura espirita contém diversas páginas de benfeitores espirituais a esse respeito, dentre eles nosso querido Emmanuel pelas mãos abençoadas de Chico Xavier.

Cito abaixo um trecho de uma dessas comunicações encontrada na questão 129 da obra O Consolador:

É um erro alimentar-se o homem com a carne dos irracionais?
R: “A ingestão de vísceras dos animais é um erro de enormes consequências do qual deriva numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos”.

Também temos no livro Cartas e Crônicas ditado pelo irmão X a seguinte recomendação:

“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.”

Acredito que as palavras de Emmanuel e irmão X sejam bem claras a respeito do mal que causamos a nós mesmos com a ingestão de cadáveres e também fica claro o fato de não haver nenhuma necessidade para nós da carne, pois tudo o que nosso corpo físico necessita encontramos nas vastas classes de vegetais.

Todos esses aspectos tem por objetivo despertar as pessoas a utilizarem o raciocínio para um assunto do qual a esmagadora maioria permanece adormecida, principalmente nós espiritas que possuímos a benção dos espiritismo em nossas vidas e que juntamente com todo o conhecimento que a doutrina nos traz, vem uma enorme responsabilidade diante de todo esse conhecimento. Responsabilidade perante nós mesmos e nosso próximo seja ele humano ou não humano.

Muitos espiritas contestam a abstenção de carne citando as palavras de Jesus onde ele diz que não é o que entra pela boca do homem que o torna impuro, mas o que sai dela. Pois bem, são nossas ações, palavras e pensamentos que nos torna impuro. Seguindo essa linha de raciocínio, o ato de assinarmos uma procuração para que outra pessoa mate um ser vivo consciente de si mesmo para nos alimentarmos de seu cadáver é um ato que nos torna impuros.

Somos culpados pelo humano que executa a nossa “procuração” e pelo animal que é morto, pois já vimos que não precisamos de absolutamente nada de origem animal para nos mantermos. Aliás, a proporção é essa: Quanto maior for o consumo de produtos de origem animal, maiores serão as chances de causarmos males físicos ao nosso organismo.

E por sua vez, quanto menor for essa quantidade consumida, mais saudáveis seremos fisicamente, logo, também somos culpados pelas doenças que geramos em nosso próprio corpo pelo descaso que cometemos ao ingerirmos produtos provenientes desses nossos irmãos, principalmente seu cadáver.

Outro aspecto muito importante que demonstra a gritante falta de caridade que é consumir nossos irmãos é o fato de que ao fazermos isso, não contribuímos somente para que esses semelhantes tenham uma existência de escravidão, sofrimento e morte, mas também contribuímos para perpetuar a fome de outros seres humanos no mundo todo.


Consumir o cadáver de animais é o meio mais elitista, especista e menos inteligente e sustentável de se alimentar, pois a quantidade de pessoas que podem ser alimentadas com os mais diversos vegetais, se esses fossem destinados a alimentar pessoas e não os animais nas fazendas, seria enormemente superior.


Quadro Agropecuária e a destruição do Planeta Terra




Cerca de 45% da área terrestre mundial está ocupada pela criação de animais.
Para se produzir 1 hambúrguer são necessários 2.500L de água, o equivalente a 2 meses de banhos.

Podemos utilizar 1,5 acres de terra para produzir 18.650 kg de alimentos vegetais, ou podemos utilizar o mesmo 1,5 acres de terra para produzir apenas 170 kg de carne.

Para alimentar uma pessoa com uma dieta vegana (sem nenhum produto de origem animal) por 1 ano é necessário 1/6 de acre de terra.

Já para alimentar uma pessoa com uma dieta carnívora se faz necessário utilizar uma área de terra 18 vezes maior.

Portanto, o espirita que pratica a caridade doando alimento aos mais necessitados, ao chegar em casa e comer o seu “inocente” bifinho, retirou alimento da boca de 18 pessoas.

Não se conclui com isso que a caridade praticada por uma pessoa com uma dieta carnívora seja invalida, pois o que vale é a intenção.

Acreditamos que o ponto central de toda essa questão se resume à seguinte frase: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”

Atualmente somos pouco mais de 7 bilhões de seres humanos encarnados no planeta.

Assim sendo, para satisfazer a volúpia por carne que domina a maioria da população mundial, assassinamos todos os anos o número inacreditável de 56 bilhões de animais terrestres.

Os seres aquáticos não são contabilizados devido a esse número ser muito superior e de difícil contagem.

Cinquenta e seis bilhões anuais. Esse é o número do maior e mais oculto genocídio do planeta. Número esse ignorado pela maioria da população mundial.
Tomando por base esse número, podemos compreender melhor um dos fatores que tem impulsionado os seres humanos a matar uns aos outros em números cada vez maiores.

Derramamento de sangue, gera derramamento de sangue.

Morte gera morte.

Seria duvidar da bondade de Deus a todos os seus filhos que o clamor desses bilhões de irmãozinhos não tenha chegado até o Criador.


Os animais olham para o homem esperando encontrar anjos que os auxiliem, dando carinho e amor, entretanto, ao invés de anjos, eles tem encontrado demônios.

Esperam encontrar mãos que tragam auxilio, carinho e direcionamento, entretanto, encontram mãos empunhando o cutelo a rasgar suas gargantas, lâminas em brasa a cortarem seus bicos e armas de choque a guia-los para morte.

Como podemos esperar que as mulheres não cometam o infanticídio do aborto, se consumimos os ovos das galinhas e trituramos vivos diariamente milhões de pintinhos machos, simplesmente porque não são úteis à indústria dos ovos.

Como esperar que homens não estuprem mulheres, se diariamente estupramos milhares de vacas inseminando-as artificialmente para que engravidem, produzam leite e ao darem a luz a seus filhos esses sejam retirados de seus cuidados e trancados em baias minúsculas para que não se movimentem e não criem músculos, e então, dentro de alguns meses sejam assassinados para termos em nossos pratos o baby bife, a famosa carne de vitela.

Assuntos “polêmicos” como a ingestão de carne são evitados pelos palestrantes e estudiosos do meio espírita.

Porém, não podemos continuar em nossas zonas de conforto porque os tempos são chegados.

Nós espiritas devemos sim, começarmos a nos preocupar com essas questões e darmos a elas e aos nossos irmãos animais o devido respeito e importância que merecem.

Se os espíritas, através do exemplo, não levantarem a bandeira da defesa dos direitos dos animais, da abolição de sua escravidão, quem o fará? Qual instituição religiosa?

Se os espíritas, através do exemplo, não levantarem a bandeira de uma alimentação mais compassiva, neutra de crueldade, rica em compaixão e igualdade, com são as dietas vegetariana e vegana, quem o fará?

Se nós que pregamos a caridade como único meio de salvação não tivermos caridade para com os seres inferiores da criação, colocados por Deus ao nosso lado para que os auxiliemos a progredir e não para explorarmos e devorarmos, quem a terá?

Se nós que possuímos vasto depósito da leis de Deus em nossas mãos não conseguirmos enxergar essa gravíssima realidade que afeta massivamente humanos e não humanos, quem enxergará?

Corremos o risco de cairmos no mesmo erro em que os antigos Hebreus caíram, nos fechando no exclusivismo.

Exclusivismo esse não mais de povo, ou de raça, mas de espécie.

Os adeptos do espiritismo, sendo essa uma doutrina progressista, tem por obrigação acompanhar não somente o progresso cientifico, mas também o progresso moral e social.

O vegetarianismo, deveria ser pratica natural dentre os espíritas pois o vegetarianismo e principalmente o veganismo, nada mais são do que a pratica do amor ao próximo. Próximo humano e não humano.

Sendo assim, a pratica do vegetarianismo não consistiria em estar agregando uma pratica alheia ao espiritismo, estando esse, implícito dentro dos postulados da doutrina.

Que outro ensinamento estamos aguardando que os espíritos superiores nos tragam para finalmente derrubarmos as barreiras de uma caridade especista, e praticarmos a caridade completa, universal e divina, estendendo a todos os seres da criação o nosso amor e auxilio, lavando nossos olhos na piscina de Siloé, onde deixaremos que a lama material que encobre nossos olhos seja retirada, não mais enxergando esses nossos irmãos pelos olhos da matéria onde tão avidamente desejamos devorar seus corpos de carne com a desculpa em nossos lábios de que necessitamos deles para nos nutrirmos, sendo que na verdade egoisticamente buscamos somente satisfazer nosso paladar.

Que nesses tempos de transição, renovemos nosso conceito sobre quem é nosso próximo e passemos a enxergar a verdadeira caridade que não distingue o irmão de humanidade do irmão que momentaneamente se encontra em estágios evolutivos anteriores, caminhando para o mesmo destino que nós.
Despertemos a consciência adormecida do homem, para que os animais possam finalmente dormirem em paz.


                                                                                                                              

                                                                                                                              Murillo Francisco Cason







Referências:


Documentário: 

Cowspiracy – A conspiração da vaca.

Livros: 

O Consolador – Chico Xavier pelo espírito Emmanuel -  Ano – 1941 / Editora – FEB

Cartas e Crônicas  - Chico Xavier pelo espírito Humberto de Campos Ano 1966/ Editora FEB



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7 comentários:

  1. Belíssimas palavras; minha mulher e eu não comemos mais carne, peixe e estamos parando de comer ovos e leite por motivos éticos e espirituais( não somos espíritas). Parabéns pelo excelente texto e todo o blog. Saudações e muita paz. Na verdade, não há necessidade de agradecer a visita, pois somos nós que temos e muito a que agradecer.

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  2. Ola amigos, nós sempre agradecemos a oportunidade de fazermos novas amizades, por isso agradecemo sempre as visitas e os comentários.
    A ideia do blog é exatamente esta, desacomodar que acomodado permanece, fazer pensar, cutucar e este artigo do Murilo nós postamos sabendo que teria uma grande repercussão por ser verdadeiro e fazer parte de uma batalha que travamos há anos: fazer o espiritismo enxergar os animais como realmente pregam: Irmãos, e o Murilo o fez, e fez muito bem feito.

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  3. Ola amigos, nós sempre agradecemos a oportunidade de fazermos novas amizades, por isso agradecemo sempre as visitas e os comentários.
    A ideia do blog é exatamente esta, desacomodar que acomodado permanece, fazer pensar, cutucar e este artigo do Murilo nós postamos sabendo que teria uma grande repercussão por ser verdadeiro e fazer parte de uma batalha que travamos há anos: fazer o espiritismo enxergar os animais como realmente pregam: Irmãos, e o Murilo o fez, e fez muito bem feito.

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  4. Maravilhoso o texto, tentei sublinhar o que era mais relevante mas foi o texto todo.

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    1. é verdade, pois eu também tentei e não conseguí. Todo o texto é perfeito! Grande abraço.

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