quarta-feira, 1 de novembro de 2017

NO LIMIAR DA REVOLUÇÃO


    

Revolução Global


                  
A civilização humana, ao longo de sua curta história, veio cometendo diversos equívocos, em todos os campos, principalmente no que se refere às questões envolvendo o respeito ao próximo. Alguns desses equívocos persistem até os dias coetâneos, devido ao estado de imaturidade em que ainda estão imersas as coletividades terrenas. Tais desvios de comportamento, apesar de absolutamente normais, porque oriundos da debilidade ética dos seres humanos, precisam ser combatidos, a fim de que atinjamos, com mais celeridade, patamares evolutivos mais elevados, graças à eliminação de costumes, muitas vezes, bárbaros, que ainda enegrecem nossa caminhada.

    Um desses equívocos comportamentais mais antigos e persistentes provem da ideia de que, como humanos, possuidores de raciocínio, verdadeiros “eleitos de Deus”, temos o direito de nos utilizarmos de outras espécies da forma como bem entendermos, como se estas fossem meros objetos, e não seres vivos, tão importantes como nós no panorama geral da Criação. Segundo essa linha de raciocínio filosófico-conceitual, presente de forma tácita na quase totalidade das sociedades humanas, o Homem teria o direito natural – para não dizer divino, em muitos casos - de escravizar os seres das demais espécies, por lhes ser superior na escala evolutiva. Atributo este que lhe concederia, inclusive, o direito de submeter tais indivíduos a sofrimentos atrozes e até mesmo assassiná-los friamente, em massa, sob o pretexto de suprir as suas supostas necessidades de consumo.

ELES SÃO COMO NÓS
    
    Semelhante linha de pensamento, cujas origens remontam aos primórdios da raça humana, constitui a pedra angular do hoje denominado “especismo”, conceito pernicioso e retrógrado que vem tendo sua frágil sustentação cada vez mais abalada, principalmente pelas mais novas descobertas da Genética e da Neurociência. Isso porque tais descobertas vêm forçando – o termo certo é mesmo este: forçando - a sociedade contemporânea a ampliar, cada vez mais, suas noções de ética e moralidade e tornando esses valores extensivos igualmente aos animais.

     Os anúncios recentes de que a semelhança entre nosso DNA e o dos demais primatas, como os gorilas e os chimpanzés, é incrivelmente alta, ajudaram a corroborar a tese de que o Homem, no campo biológico, nada tem de superior aos componentes das demais espécies, com as quais, além de compartilhar um parentesco inegável, encontra-se em pé de igualdade perante a chamada “Mãe Natureza”, em todos os aspectos.

    Essa nova perspectiva ético-filosófica ganhou um aditivo mais potente ainda graças ao avanço da Neurociência, cujas descobertas assombrosas vêm solidificando, paulatinamente, o conceito da senciência animal e comprovando, com estudos sérios, que mesmo animais “simples”, como polvos e estrelas-do-mar, possuem consciência de si mesmos e detêm capacidades cognitivas que vão muito além do mero instinto.      Estudos científicos já demonstraram, inclusive, que gorilas e chimpanzés possuem muitas características comportamentais antes só creditadas aos humanos, como sentimentos de solidariedade e mesmo luto, quando da morte de um integrante do bando. Óbvio que eles também são capazes de atos de extrema violência e selvageria, mas até mesmo isso apenas comprova o quanto são parecidos conosco.

     Na mesma área, pesquisas também demonstraram que pássaros e moluscos, como polvos e lulas, conseguem elaborar soluções lógicas com certo grau de complexidade para resolver determinados problemas a eles impostos, fato que denota uma inteligência muito superior à antes imaginada em tais criaturas. Resultados similares foram catalogados em inúmeras outras pesquisas do gênero envolvendo diversas outras espécies animais, ancorando, com vigor cada vez maior, a ideia de que os bichos são mais parecidos conosco do que supúnhamos, em virtude da estreiteza de nossa visão egoística e antropocêntrica do mundo.


TIRANDO AS VENDAS

     Essa constatação é bastante incômoda, pois, ao desconstruir integralmente a linha de pensamento cartesiana, leva-nos a um dilema com profundas implicações éticas, religiosas, filosóficas e comportamentais: ser-nos-á lícito escravizar outros seres, massacrá-los, oprimi-los, feri-los com esporas em rodeios, expô-los em espetáculos circenses ou exterminá-los a nosso bel-prazer, apenas para satisfazer os caprichos de nosso paladar?

    A conclusão lógica, atingida após a fria e desapaixonada análise dos fatos, com o uso consciente do raciocínio, do qual sempre nos gabamos, não deixa margem a dúvidas: NÃO! Não podemos dispor da vida de outros seres, pisoteando seus direitos elementares, apenas porque pertencem a outra espécie. Tal atitude apresenta enorme semelhança com a filosofia de discriminação racial que impulsionou Hitler a exterminar milhões de judeus, em sua cruzada antissemita. Antes, modo de pensar análogo também já havia levado brancos a capturarem tranquilamente milhões de nativos africanos, pois se escoravam nele como uma justificativa infame para o comércio escravagista. A mesma linha de pensamento levou a Ku Klux Klan a espalhar morte e terror pelo Sul dos Estados Unidos, na primeira metade do século passado.

     Logo, se os imperativos da ética e da moralidade – bem como a própria ciência -berram às nossas consciências que os animais não são coisas, que não podemos fazer vistas grossas ao seu sofrimento, que eles em nada diferem de nós, a não ser pelo grau do intelecto, que eles possuem (ou deveriam possuir) os mesmos direitos naturais que nós, somos conduzidos pelos mecanismos da mais simples dialética a concluir que também não pode nos ser lícito utilizá-los como fontes de alimentação, sob qualquer pretexto. Essa metamorfose consciencial nos leva naturalmente à compreensão de que o abandono da carne em nossas refeições cotidianas é uma obrigação ética à qual estamos todos atrelados, embora a esmagadora maioria ainda não tenha se apercebido (ou ainda não queira se aperceber) disso.

    Nesse contexto, a disseminação desse novo paradigma ético-filosófico assume importância ímpar. Isso porque ele está sendo a mola propulsora para a transformação, mesmo que de forma muito lenta, de velhos hábitos perniciosos, antes tidos como cláusulas pétreas no status quo social, responsáveis por infligir sofrimentos atrozes aos animais. Essa nova mentalidade está gerando um “efeito dominó” irrefreável, cuja resultante – pode-se prever desde agora, sem medo de errar – será uma verdadeira revolução, em escala globalística, no modo como o Homem trata a causa animal. Tal acontecimento tornará o planeta um lugar muito mais digno e justo não apenas para nós humanos, mas para todos os nossos irmãos menores - igualmente, eles, peças importantes da engrenagem planetária.

    A data em que essa revolução global acontecerá ninguém pode precisar ao certo, pois o trabalho de conscientização coletiva é como uma semente que costuma demorar a germinar e render frutos. Mas a sua revolução íntima depende única e exclusivamente de você. Que tal começar agora?





Jones Mendonça é jornalista, revisor de textos, escritor e poeta. Apaixonado por quadrinhos, também é protetor de animais e revisor de textos. É cheio de defeitos, mas tem consciência deles e acredita na construção de um mundo melhor, por meio da conscientização humana. Detesta fanatismo ideológico e religioso. Araxaense.  






Gostou deste Blog? 
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar 








Licença Creative Commons     Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2017
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2017

                                    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente; Sugira; Critique; Trabalhamos a cada dia para melhorar o Blog Irmãos Animais - Consciência Humana