Revolução Global |
A civilização humana, ao longo de sua curta história, veio cometendo
diversos equívocos, em todos os campos, principalmente no que se refere às
questões envolvendo o respeito ao próximo. Alguns desses equívocos persistem
até os dias coetâneos, devido ao estado de imaturidade em que ainda estão
imersas as coletividades terrenas. Tais desvios de comportamento, apesar de
absolutamente normais, porque oriundos da debilidade ética dos seres humanos,
precisam ser combatidos, a fim de que atinjamos, com mais celeridade, patamares
evolutivos mais elevados, graças à eliminação de costumes, muitas vezes,
bárbaros, que ainda enegrecem nossa caminhada.
Um desses equívocos comportamentais mais antigos
e persistentes provem da ideia de que, como humanos, possuidores de raciocínio,
verdadeiros “eleitos de Deus”, temos o direito de nos utilizarmos de outras
espécies da forma como bem entendermos, como se estas fossem meros objetos, e
não seres vivos, tão importantes como nós no panorama geral da Criação. Segundo
essa linha de raciocínio filosófico-conceitual, presente de forma tácita na
quase totalidade das sociedades humanas, o Homem teria o direito natural – para
não dizer divino, em muitos casos - de escravizar os seres das demais espécies,
por lhes ser superior na escala evolutiva. Atributo este que lhe concederia,
inclusive, o direito de submeter tais indivíduos a sofrimentos atrozes e até
mesmo assassiná-los friamente, em massa, sob o pretexto de suprir as suas
supostas necessidades de consumo.
ELES SÃO COMO NÓS
Semelhante linha de pensamento, cujas origens
remontam aos primórdios da raça humana, constitui a pedra angular do hoje
denominado “especismo”, conceito pernicioso e retrógrado que vem tendo sua
frágil sustentação cada vez mais abalada, principalmente pelas mais novas
descobertas da Genética e da Neurociência. Isso porque tais descobertas vêm
forçando – o termo certo é mesmo este: forçando - a sociedade contemporânea a
ampliar, cada vez mais, suas noções de ética e moralidade e tornando esses
valores extensivos igualmente aos animais.
Os anúncios recentes de que a semelhança
entre nosso DNA e o dos demais primatas, como os gorilas e os chimpanzés, é
incrivelmente alta, ajudaram a corroborar a tese de que o Homem, no campo
biológico, nada tem de superior aos componentes das demais espécies, com as
quais, além de compartilhar um parentesco inegável, encontra-se em pé de
igualdade perante a chamada “Mãe Natureza”, em todos os aspectos.
Essa nova perspectiva ético-filosófica ganhou um
aditivo mais potente ainda graças ao avanço da Neurociência, cujas descobertas
assombrosas vêm solidificando, paulatinamente, o conceito da senciência animal
e comprovando, com estudos sérios, que mesmo animais “simples”, como polvos e
estrelas-do-mar, possuem consciência de si mesmos e detêm capacidades
cognitivas que vão muito além do mero
instinto. Estudos científicos já
demonstraram, inclusive, que gorilas e chimpanzés possuem muitas
características comportamentais antes só creditadas aos humanos, como
sentimentos de solidariedade e mesmo luto, quando da morte de um integrante do
bando. Óbvio que eles também são capazes de atos de extrema violência e
selvageria, mas até mesmo isso apenas comprova o quanto são parecidos conosco.
Na mesma área, pesquisas também
demonstraram que pássaros e moluscos, como polvos e lulas, conseguem elaborar
soluções lógicas com certo grau de complexidade para resolver determinados
problemas a eles impostos, fato que denota uma inteligência muito superior à
antes imaginada em tais criaturas. Resultados similares foram catalogados em
inúmeras outras pesquisas do gênero envolvendo diversas outras espécies
animais, ancorando, com vigor cada vez maior, a ideia de que os bichos são mais
parecidos conosco do que supúnhamos, em virtude da estreiteza de nossa visão
egoística e antropocêntrica do mundo.
TIRANDO AS VENDAS
Essa constatação é bastante incômoda,
pois, ao desconstruir integralmente a linha de pensamento cartesiana, leva-nos
a um dilema com profundas implicações éticas, religiosas, filosóficas e
comportamentais: ser-nos-á lícito escravizar outros seres, massacrá-los,
oprimi-los, feri-los com esporas em rodeios, expô-los em espetáculos circenses
ou exterminá-los a nosso bel-prazer, apenas para satisfazer os caprichos de
nosso paladar?
A conclusão lógica, atingida após a fria e
desapaixonada análise dos fatos, com o uso consciente do raciocínio, do qual
sempre nos gabamos, não deixa margem a dúvidas: NÃO! Não podemos dispor da vida
de outros seres, pisoteando seus direitos elementares, apenas porque pertencem
a outra espécie. Tal atitude apresenta enorme semelhança com a filosofia de
discriminação racial que impulsionou Hitler a exterminar milhões de judeus, em
sua cruzada antissemita. Antes, modo de pensar análogo também já havia levado
brancos a capturarem tranquilamente milhões de nativos africanos, pois se
escoravam nele como uma justificativa infame para o comércio escravagista. A
mesma linha de pensamento levou a Ku Klux Klan a espalhar morte e terror pelo
Sul dos Estados Unidos, na primeira metade do século passado.
Logo, se os imperativos da ética e da
moralidade – bem como a própria ciência -berram às nossas consciências que os
animais não são coisas, que não podemos fazer vistas grossas ao seu sofrimento,
que eles em nada diferem de nós, a não ser pelo grau do intelecto, que eles
possuem (ou deveriam possuir) os mesmos direitos naturais que nós, somos conduzidos
pelos mecanismos da mais simples dialética a concluir que também não pode nos
ser lícito utilizá-los como fontes de alimentação, sob qualquer pretexto. Essa
metamorfose consciencial nos leva naturalmente à compreensão de que o abandono
da carne em nossas refeições cotidianas é uma obrigação ética à qual estamos
todos atrelados, embora a esmagadora maioria ainda não tenha se apercebido (ou
ainda não queira se aperceber) disso.
Nesse contexto, a disseminação desse novo
paradigma ético-filosófico assume importância ímpar. Isso porque ele está sendo
a mola propulsora para a transformação, mesmo que de forma muito lenta, de
velhos hábitos perniciosos, antes tidos como cláusulas pétreas no status
quo social, responsáveis por infligir sofrimentos atrozes aos animais.
Essa nova mentalidade está gerando um “efeito dominó” irrefreável, cuja
resultante – pode-se prever desde agora, sem medo de errar – será uma
verdadeira revolução, em escala globalística, no modo como o Homem trata a
causa animal. Tal acontecimento tornará o planeta um lugar muito mais digno e
justo não apenas para nós humanos, mas para todos os nossos irmãos menores -
igualmente, eles, peças importantes da engrenagem planetária.
A data em que essa revolução global acontecerá
ninguém pode precisar ao certo, pois o trabalho de conscientização coletiva é
como uma semente que costuma demorar a germinar e render frutos. Mas a sua
revolução íntima depende única e exclusivamente de você. Que tal começar agora?
Jones Mendonça é jornalista, revisor de textos, escritor e poeta. Apaixonado
por quadrinhos, também é protetor de animais e revisor de textos. É cheio de
defeitos, mas tem consciência deles e acredita na construção de um mundo
melhor, por meio da conscientização humana. Detesta fanatismo ideológico e religioso.
Araxaense.
Gostou deste Blog?
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar
Todos os direitos reservados
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente; Sugira; Critique; Trabalhamos a cada dia para melhorar o Blog Irmãos Animais - Consciência Humana