Se os animais estão isentos da lei de ação e reação, em suas motivações profundas, já que não tem culpas a expiar, de que maneira se lhes justificar os sacrifícios e aflições?
Assunto aparentemente relacionado com injustiça, mas a lógica nos deve orientar os passos na solução do problema.
Imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento.
Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos preciosos para obtê-la.
Assim é que o animal atravessa longas eras para instruir-se. Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos da escola? E acaso conseguirá ele diplomar-se em conhecimento superior se foge às penas edificantes da disciplina?
Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho paciente e intransferível.
O animal, igualmente, para atingir a auréola da razão, deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-lo na posse definitiva do raciocínio.
Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso.
Todo ser criado simples e ignorante é compelido a lutar pela conquista da razão, e atingindo a razão, entre os homens, é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente.
O animal esforça-se para obter as próprias percepções e estabelecê-las. O homem esforça-se avançando da inteligência para a sublimação.
Dor física, no animal, é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução.
Dor física, acrescida de dor moral, no homem, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.
Certifiquemo-nos, porém, que, investindo-se na posição de espírito sublime, não mais conhece a dor, porquanto o amor ser-lhe-á sol no coração, dissipando todas as sombras da vida ao toque de sua própria luz." Emmanuel
Irvênia Prada
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