A ética exige que extrapolemos o “eu” e o “você” e cheguemos à lei universal,
ao juízo universalizável, ao ponto de vista do espectador imparcial,
ao observador ideal, ou qualquer outro nome que lhe dermos.
(SINGER, 2002, p. 19-20).
ao juízo universalizável, ao ponto de vista do espectador imparcial,
ao observador ideal, ou qualquer outro nome que lhe dermos.
(SINGER, 2002, p. 19-20).
Peter Singer |
Ethos e Mores.
Esses dois conceitos nos dias de hoje, se bem compreendidos,
assustariam muitas pessoas que se dizem éticas em relação à vida animal.
A teoria e a prática, a ética e a moral, ambas foram esquecidas e
enterradas, por isso o declínio da humanidade nos dias atuais.
Atualmente, inúmeros comitês de ética se dizem éticos por não
compreenderem a essência do conceito de Ética, pois se esqueceram que,
se fôssemos verdadeiramente Éticos não existiriam no mundo, um sem
número de códigos de ética, um para cada ocasião, um para cada
profissão; esqueceram que se fôssemos verdadeiramente Éticos, nossas
ações por si mesmas, seriam Éticas, não havendo necessidade dos famosos
“Comitês de ética” que dizem “regulamentar” o modo como devem ser
conduzidos os experimentos em seres vivos e sencientes já que a ética
humana, normalmente já perdida, extrapola em desumanidade diante dos
mais fracos.
O maior problema foi a transformação da Ética Atemporal numa ética
temporal, ou seja, aquela que muda conforme as nossas necessidades. Esse
total abandono da Ética atemporal, que não nos permitiria cometer os
crimes que cometemos hoje em relação aos animais e mesmo em relação a
outros seres humanos, foi o que nos tornou desumanos e o que fez com que
a Filosofia buscasse por uma Ética da qual ela mesmo se esqueceu ao
aceitar a ética temporal, como realidade. Para talvez, coibir crimes
mais atrozes, houve então a necessidade da criação desse Freio – que
alguns costumam chamar de ética – como já dissemos, nas mais diversas
profissões, nos mais diversos caminhos humanos, segundo alguns para
moralizar aqueles que, em sua maioria, não fazem ideia do que é Moral ou
Ética.
Vivissecção, cão de pavlov |
E criamos os “Comitês de ética” para o uso de animais durante
experimentações que teria, como finalidade, frear o excesso e permitir a
tortura que usa, dentro dessa nova ética, um nome diferente e que se
chama “Progresso da Ciência”. Os comitês alegam que se baseiam em
princípios éticos no campo da vivissecção, do encarceramento, da tortura
pela privação de alimentação e água, pela ingestão de produtos tóxicos,
pela indução de doenças , pela dor e pelo assassinato ao fim de tudo.
Criam protocolos de pesquisa para que determinada Cobaia – eles
evitam tal como Descartes o fazia, utilizar o termo animal pois isso os
aproximaria da realidade de dor e sofrimento pela qual aqueles seres
passam diariamente e isso os impediriam de agirem, pois há em todos os
seres,sempre latente, o principio vital da verdadeira Ética, que acaba
sendo ignorado aos poucos – não seja usada em experiências já realizadas
por outras, ou que não repita ela própria, duas vezes a mesma
experiência pela qual passou. Eles criam modos de dissecar, modos de
induzir dor, modos de encarcerar , tudo dentro desse campo “ético”
temporal e esse utilitarismo ético mata milhares de animais sencientes
todos os anos em benefício de uma só espécie. Há como acreditar que
possa realmente existir uma ética quando um Ser senciente é encarcerado,
privado de alimentação e seu organismo é minado das forças pela indução
de doenças que sequer fariam parte de sua vida?
Algumas normas dos comitês de ética pedem:
1- Respeito
2- Consciência e sensibilidade
3-Ética e responsabilidade moral
Platão e Aristóteles que carrega na mão um livro com a inscrição: Ética |
Em todos os princípios da experimentação animal, vamos notar que
entre esse Freio ético e a verdadeira Ética há uma diferença
substancial. Os artigos dizem que é primordial que as pessoas que irão
manipular os animais – para eles meras cobaias – respeitem a
cobaia/animal como um ser vivo dotado de senciência, de memória , que
sofre dor exatamente por sua senciência, e sofre dor porque não lhe é
possível reagir e fugir. Sabemos que senciência significa sensibilidade,
capacidade de sentir dor, de sentir medo, angústia e de sofrer. Como é
possível então, alegar-se que é ético proporcionar qualquer tipo de
sofrimento a um ser em que reconhecemos tais sensibilidades? Seria mesmo
possível chamar a isso de ética? Com certeza não, porque usamos da
capacidade intelectual um pouco acima da deles para transformá-los em
seres objetos e não há como dizer que se respeita um animal quando o
tratamos como objeto, por melhor que afirmemos que tal objeto seja
“carinhosamente” manipulado. Se tivermos mesmo consciência de que a dor
no animal é similar a dor que sentimos, não podemos nos colocar como
seres éticos ao infligirmos neles qualquer tipo de sofrimento, não se a
essa ética da qual tratam os comitês de experimentação estiver mesmo
ligada à verdadeira Ética, que nos obriga a respeitar qualquer ser
vivente; como já foi colocado antes, essa ética nada mais é do que um
Freio que tenta maquiar o que realmente acontece pode detrás das paredes
de um laboratório, para fazer com que as pessoas leigas aceitem essa
“regulamentação do sofrimento” como algo totalmente aceitável. Como
dizer, eticamente, que o experimentador é responsável por suas escolhas e
seus atos na utilização de um animal, se não for colocado nele um freio
que o impeça de realizar verdadeiras barbaridades?
Muitos cientistas, na ânsia de defender sua posição vivisseccionista,
também alegam que os animais são mantidos em condições de abrigo e
alimentação bem melhores do que muitas pessoas da classe baixa, porém
tal argumento lhes é tão contraditório quanto sua convicção de usar
palavras como “melhor tratamento”, pois faz parte de um dos artigos dos
comitês que as tais “cobaias” que serão utilizadas tenham a saúde
perfeita, não para o Bem dos animais, como eles tantas vezes alegaram
sobre as boas condições de tratamento, mas para o Bem das
experimentações que eles escolherem fazer com determinadas cobaias. Há
tantas contradições entre o que os comitês pedem e entre o que os
cientistas alegam quando são questionados sobre a relevância dos testes
em animais, que fica difícil compreendê-los.
Alguns artigos são claros ao solicitar aos experimentadores que os
animais sejam utilizados de maneira adequada, de modo a evitar qualquer
desconforto, qualquer angústia, qualquer dor, considerando-se mais uma
vez que os animais sintam tal como nós. Por outro lado vemos nas TVs ,
rádios, nas revistas científicas, imagens que nos chocam de camundongos
com queimaduras enormes na pele para o teste de um novo medicamento e
que não podem ser anestesiados para que não haja qualquer influência nos
testes; vemos animais enjaulados sem água ou comida, para que sejam
analisados seus sofrimentos em paralelo com os sofrimentos de alguns
seres humanos, vemos estudos do grau da decorrência de uma determinada
dor sem que sejam usados quaisquer analgésicos ,o que causa alto
sofrimento e stress nos animais, tudo para que surjam novas drogas que
irão concorrer com a quantidade enorme de medicamentos que já existem no
mercado. Eles insistem em dizer que há um controle da dor, mas tal
controle, e eles mesmos hão de concordar, causa sofrimento, angústia e
stress, ou seja, nem mesmo o Freio consegue impedir que esse ou aquele
animal senciente sofra, e qualquer Ser que se acredite intelectualmente
superior, não pode dizer que a Ética permita o sofrimento de qualquer
outro Ser nas mesmas Condições de Sensibilidade que ele. Fica
demonstrado que, embora a senciência não possa ser considerada como o
marco definitivo na separação das espécies existentes no Planeta, ainda
assim demonstra claramente que os animais não-humanos possuem as mesmas
Condições de Sensibilidade que os animais humanos, ou seja, a dor é
idêntica, a fome é idêntica e o stress pode ser ainda maior pela
dificuldade que os animais não-humanos têm de compreender o motivo do
sofrimento pelo qual passam. Sendo as Condições de Sensibilidade
idênticas, o sofrimento infligido a um animal não-humano é tão antiético
quanto se fosse infligido a um animal humano, isso é fato.
A discrepância disso nos leva a crer que existem animais e animais
dentro desse campo ao qual alguns chamam de ética: A Lei de Crimes
Ambientais fala de maus-tratos e a questão que nos surge agora é:
maus-tratos que são considerados “controláveis” deixam de ser vistos
como maus-tratos, mesmo dentro do parâmetro das Condições de
Sensibilidades entre animais humanos e animais não-humanos? O boi de
rodeio; o cão morto no CCZ; o macaco que sofre no circo; algum deles
possui maior sensibilidade do que um macaco ou que um cão usado em
experimentação, por isso pode ter uma lei que o proteja de qualquer
sofrimento enquanto que ao cão e ao macaco a dor é liberada por se
tratar de uma dor diferenciada, realizada por doutores? E, sendo as
Condições de Sensibilidade iguais entre animais humanos e não-humanos o
que permitiria proporcionar dor a um e não a outro? Pois dor é dor, seja
humana ou animal, afinal é isso que está escrito em alguns artigos dos
“Princípios éticos”:
Artigo 1º – Todas as pessoas que praticam a
experimentação biológica devem tomar consciência de que o animal é
dotado de sensibilidade, de memória e que sofre sem poder escapar à dor;
(Segundo o Colégio Brasileiro de Experimentação Animal – CBEA )
Artigo 2º – Ter consciência de que a
sensibilidade do animal é similar à humana no que se refere a dor,
memória, angústia, instinto de sobrevivência, apenas lhe sendo impostas
limitações para se salvaguardar das manobras experimentais e da dor que
possam causar. (Comitê de conduta ética no uso de animais em
experimentação – CEAE)
Eis novamente a contradição lógica da experimentação.
São contraditórias as palavras “Ética” e “Experimentação animal”, tal
como é totalmente contraditório o uso da palavra “Respeito” com o ato
de inflição de sofrimento,e voltamos a questionar : Se é sabido que eles
sentem dor e que a dor é similar a dor humana, o que diferenciaria os
maus-tratos entre um e outro?
Primata usado em experimentação |
Pedem soluções que eles mesmos não buscam, dizem e se contradizem, em
determinado momento o animal não pode sentir dor, em determinado momento
a dor é controlável, em determinado momento é preciso que se limite os
movimentos do animal utilizado devido aos espasmos de dor que eles irão
sentir, e fazem tudo isso mesmo sabendo que a dor neles é similar a
nossa. A isso não se pode admitir que seja chamado de Ética.
Também ao contrário do que disse Claude Bernard[1], nós não temos o
direito total e absoluto de realizar experimentos em animais, porque ao
contrário do que muitos afirmam, nós também não temos o direito de
utilizar animais para a alimentação, divertimento, entre outros usos que
a humanidade faz deles. Mais estranho do que as palavras de Bernard, é
reconhecer que as pessoas que aprovam tal uso se proclamem como Éticas
ao mesmo tempo em que dizem reconhecer que utilizam animais sencientes,
com Condições de Sensibilidade similar a humana, para experimentos que
causam angústia e que somente o fazem por se acharem Intelectualmente
superiores. Esse discurso já é por demais contraditório.
Aceitem ou não, a Ciência só tem evoluído e encontrado alternativas,
graças ao esforço e a luta dos ativistas que os cientistas tanto querem
desprezar, se não fosse pela exigência ativista pelas mudanças, ainda
estaríamos abrindo animais vivos e acenando para eles em ironia, ainda
estaríamos comparando-os a molas de relógio e a seres que não merecem
compaixão, outra palavra que assusta a ciência[2], que vê nas
manifestações de Libertação Animal, apenas reclamações apaixonadas , ao
invés de ver nelas uma oportunidade de inovação , superação e verdadeiro
progresso. Nós não vamos parar até que a verdadeira Ética seja
realmente compreendida, ao contrário deles nós não fechamos as portas
para um futuro promissor dizendo que experimentação, bem como tudo que
envolva o sofrimento de seres nas mesmas Condições de Sensibilidade que a
nossa jamais irá acabar, nós exigimos mudanças e elas vão acontecer,
pois em paralelo a esse pensamento estagnado há uma outra Ciência que
está lutando para realmente se tornar realmente Ética, e é dessa
Ciência, formada por doutores que acreditam e buscam por alternativas,
que a Ética faz parte, porque eles não esperam, eles não duvidam, eles
trabalham por um mundo realmente Ético.
Referências Bibliográficas
Colégio Brasileiro de Experimentação Animal CBEA / PRINCÍPIOS ÉTICOS NA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
NOTAS
1- Nós temos o direito de fazer experimentos animais e vivissecção? Eu
penso que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se
reconhecêssemos o direito de usar os animais para serviços caseiros e
alimentação, mas proibir o seu uso para o ensino de uma das ciências
mais úteis para a humanidade.” (Claude Bernard, em 1865) em paralelo ao
pensamento do filósofo Jeremy Bentham, que em 1789, já questionava: A
questão não é podem eles raciocinar ?Ou então, podem eles falar ?Mas,
podem eles sofrer?
2 – Somente claro, quando é colocada em cheque, pois quando necessita
do apoio da população a ciência se coloca como grande mãe, cheia de
compaixão apelativa a fim de conquistar terreno, aí sim ela muda seu
discurso e passa a falar da mesma forma que acusa os ativistas, passa a
falar com o coração.
Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.
Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão Espírita Clara Luz que discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.
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