sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Homenagem à Balzac


Balzac aos 12 anos
Inverno, que custa a chegar ! Gosto do frio, nem sei bem como explicar. Mas, os últimos dias foram secos, céu aberto, sol reinando absoluto no céu. Mudança do clima, apocalipse, efeito estufa, e viva a conspiração verde. Dias de folga e, numa destas tardes, resolvi descansar num dos bancos do quintal. Eu, alguns pensamentos, algumas preocupações, coisas minhas...


Ele já não saia muito de dentro ...

da casa, limitou suas idas apenas para as necessidades e pedir para beber água direto de uma das torneiras. Meu lorde inglês, que mais parece um maloqueiro, definha. São doze anos, uns oitenta e quatro anos caninos.


Nos entreolhamos, com o respeito e a admiração de sempre. Naquela quarta-feira iniciava-se uma despedida. Desde o último ano, venho me preparando. Oitenta e quatro anos caninos. Minha avó materna morreu com mais de oitenta anos. Um primo querido também. Estes mistérios da vida, da razão e do coração. Entender e querer. Entendo, e não quero deixa-lo ir.

- Fica um pouco mais vai ?
- Não dá ! Minha permissão expirou ! Já cumpri meu dever por aqui. Tenho que ir pra algum outro lugar.
- Dói um bocado ! Tem que ser assim ?
- Foi a maneira que escolhi ! 
- Mas, tem quer ser assim ? Não poderia ser algo tranquilo, dormir e não acordar ?
- Tem que ser assim, pra você crescer mais um pouco.

Crescer. Nem sempre de maneira tão divertida, altos, baixos e alguma dor de barriga. 

- Lembra quando você me deixou preso no telhado, por ter derrubado a escada ?
- Lembro ! Na verdade, briguei com ela. Arrastei pra lá e pra cá. Eu pensei que ela tinha tirado você de mim e que nunca mais você desceria lá de cima.
- Tolo ! Quer dizer que a porta do meu carro foi destruída pois você deve ter achado que ele havia me engolido ?
- Não, a porta me pareceu gostosa !
- Tão gostosa quanto aquela meia dúzia de refrigerantes que você derrubou e tomou ?
- Não gostei do gosto, mas gostei das bolhas no meu focinho

Ele havia chegado num momento de euforia ! Estávamos todos bem, depois de furacões e terremotos na família. Lembro-me que estava no auge profissional e já me dava o direito de possuir alguns luxos. Seria o primeiro cachorro de raça e, lógico, optei por um lorde inglês, de aspecto excêntrico. A primeira vez que vi a raça foi na fila de uma feira alternativa aqui em São Paulo. Fui saber um pouco mais sobre aquele cão de olhos puxados, nariz longo e sem testa. English Bull Terrier, que nome afetado ! Quem me ajudou encontrar um “belo exemplar” foi uma enfermeira da empresa onde trabalhava na época, uma doçura de pessoa. Destas que doa a alma ao diabo pra salvar a bicharada. 
Raça identificada, ninhadas pesquisadas, tudo acertado e lá vou eu, do trabalho, lá no Brooklin, até as imediações de Interlagos buscar o meu tão sonhado cachorro. No canil, todos eles lindos, já separados da mãe. O maiorzinho e mais espoleta, chamou-me a atenção. Não era tão belo e não tinha as desejadas manchas na orelha ou no olho. Era todo branco. Sequer olhou pra mim, estava mais preocupado em morder e atazanar os irmãozinhos. Decidi levá-lo . Minha mãe não queria, “cachorro não entra mas aqui “. Fazia frio, Agosto.
A chegada em casa não foi das melhores ! Mãe brava, estupefata pela maluquice do filho mais velho, cão mijando e cagando pelos cantos da sala. Condição para ficar: minha mãe escolheria o nome. Balzac. Homenagem ao escritor francês e ao falecido Collie de uma prima nossa.

- Você, de lorde inglês, nunca teve nada ! Ainda é um súdito mal-educado. Um maloqueiro de quatro patas ! Fui enganado !
- Ah, esta foi uma maneira de colocar um pouco de alegria no coração de cada um de vocês!
- E agora, vai embora. Quanta tristeza !
- Calma ! Talvez não seja tão logo assim. Mas, me dê a dignidade de não sofrer.
- Tarefa difícil ! Muito difícil ! Dói !
- Faz isto por mim ?
- Faço... ...entendo mas...
- Não tem nada de mas, será tranquilo.
- E agente aqui, como é que fica ?
- Ficarão bem e cheios de boas histórias pra contar. Dor de bicho, se cura com outro bicho.
- Ah, não vale ! Quem disse isto foi sua veterinária ! 
- Ela é uma sábia !
- Quando você se for e, ao chegar lá em cima, diga a todos que vieram antes de você para me perdoar ! Não fiz muito por eles. 
- Fez e não fez. Eram outros tempos mas, trato feito ! 

São exames, remédios, a mudança de padrões e da rotina. Desde a última semana, houve uma melhora. O prognóstico não foi tão bom e, talvez não há muito o que fazer. Entender eu entendo, mas, não quero...

Quem sabe você tenha vindo pra esta casa justamente pra ensinar como fazer, o quê fazer e como amar. Você sempre será o meu doce karma. 

You stretch your wings
You take a breath
You hide your feet
Embrace your head

Alexandre e Balzac
(Alexandre Borracha, 05/08/2012 SCaetano do Sul)




Um dia chega a hora dos amigos partirem, e parte de nosso coração segue com eles, a metade que fica se restaura aos poucos, com amigos novos, com lembranças antigas daqueles que nos fizeram tão felizes.


Dor de bicho, se cura com outro bicho.(Balzac)









Redação do blog Irmão  Animais- Consciência Humana

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