quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Conceito de autonomia em relação aos Direitos Animais


Recebemos, através do Fale Conosco, uma pergunta muito interessante que colocaremos a seguir e dela desenvolveremos nosso estudo.A questão foi respondida através de email, mas relendo- a, achei prudente dividir com mais amigos as nossas conjecturas.


Leão e sereia 



Calvin pergunta
“Pode-se pensar no conceito de autonomia em relação aos 
direitos animais? Ou seja, sem necessitarmos de justificativas de que eles tem alma .... de que são seres sencientes ... piedade ... etc. Pelo simples fato de identificarmos neles um "outro" que "tem" que ser respeitado?”



Primeiro é preciso avaliar a pergunta antes de passarmos diretamente para a resposta.  O amigo internauta  deseja saber se os Direitos Animais , no caso os Animais, possuem autonomia em si mesmos por serem Animais. Ou seja, não precisam estar atados a um adjetivo, a um atributo para que pudessem ser respeitados. Desta forma não precisaríamos afirmar que os animais possuem -por exemplo- alma para serem respeitados, nem tampouco a afirmação de senciência para serem considerados seres possuidores de Direitos. A ideia do enunciado é o simples fato de "serem animais"  já lhes deveria fornecer o Direito, o Respeito o Cuidado. Nossa Alteridade, que é vê-los como nosso “Outro”, já estaria diretamente atrelada a palavra Animais.

Mais abaixo no email o amigo internauta afirmou que o fato de termos, obrigatoriamente de atrelar a palavra animal a alma, a senciencia e a piedade é uma das coisas que tanto o incomoda, pois demonstra um cegueira humana em relação a eles.

Meu TCC de conclusão do curso de graduação em Filosofia identificou-os como "meu Outro", portador do direito de minha Alteridade por que os colocava como seres excluídos, marginalizados, ou seja, para demonstrar que deveriam ser vistos tive que forçosamente atrelar a palavra animal a um outro adjetivo: sofredor, excluído, marginalizado.

Mesmo assim, embora tivesse tirado a nota máxima,nenhum dos professores se tornou vegetariano ou viu nos animais o Outro que eu busquei no trabalho.

Aos poucos parece-nos, continua o amigo a nos dizer, que parece um vício em meio a todas as entidade de proteção em forçar esse reconhecimento através dos adjetivos, como se justificássemos, implorássemos pela sensibilização das pessoas - tanto de fora como de dentro das entidades - para conseguir esse respeito; agimos ,para que as pessoas possam enxergar novamente os animais, como quem mendiga, como quem pede um Direito que sempre lhe foi devido e no entanto, lhe foi tirado.

Implorar pela consciência de cada um exige mesmo um grande esforço.

Eu havia terminado de ler, na semana em que recebi essa questão, o livro “ Holocausto Brasileiro”, sobre a verdadeira face do manicômio de MG conhecido como O Colônia, onde morreram mais de 60 mil pessoas; onde em determinada época se “assassinava” cerca de 16 pessoas por dia e seus corpos, sem nome e sem alteridade, eram vendidos às faculdades de MG e SP. 

Quando as faculdade ficaram abarrotadas de corpos,os funcionários do Colônia amontoavam os corpos dos ignorados em meio ao pátio do manicômio e diante de todos os outros ignorados e tidos como loucos, os seres "racionais' jogavam ácido para dissolver as carnes e assim, claro, vender os ossos para as faculdades de medicina que nunca questionaram de onde provinham corpos e ossos. Cenas de tortura, de sadismo, da mais pura maldade humana podem ser lidas em cada uma das páginas deste livro, que posteriormente virou documentário. Poucos foram os que levantaram a voz contra o Colônia, poucos foram os que se importaram.

O Governo de MG.

Os médicos.

Os psicólogos.

Os auxiliares de enfermagem.

Os cozinheiros.

A polícia de MG.

Havia um silêncio doloroso em seus corações que lhes permitiu deixar de enxergarem seres humanos como seres humanos e os permitiu verem seres h-umanos apenas como peças ou objetos a serem descartados e vendidos para as faculdades de medicina.

Vez ou outra uma voz se levantava contra tanta crueldade, os que assim o faziam literalmente mendigavam - para usar a expressão colocada pelo amigo leitor- para que o Colônia fosse fechado, pois aquelas pessoas, sem nome, sem passado e muitas vezes sem futuro, eram seres humanos  assim como quaisquer outros: ela sentiam medo, dor, frio, fome, sede...

Ser “louco” -expressão utilizada no livro pelos empregados do Colônia- não os isentava da senciência.

Assim podemos conjecturar como trabalha o cérebro humano. Quando você o adestra para o bem ou quando você o adestra para o mal.

De qualquer forma você precisa mostrar a ele, inicialmente, que todo e qualquer ser é como ele, pois ao tirar dele todo e qualquer resquício de alteridade ele passa a achar que somente ele é possuidor de direito . Ele deixa de acreditar que qualquer um possa realmente ser o seu Outro.

A tarefa de trazer novamente a consciência é a abordagem com o uso do adjetivo.

Muitos médicos que lutaram contra o Colônia fora processados, e lembremos que não se tratava de animais que foi nosso questionamento inicial, mas de pessoas, de seres humanos que em sua grande maioria nem possuíam qualquer deficiência mental.

Diante da leitura deste livro e da visão de tantos participantes graduados neste Holocausto, lembrei de outro livro, muito interessante também “Os Cientistas de Hitler”, onde o autor questiona se os cientistas eram realmente perversos ao fabricarem e utilizarem armas químicas contra seus inimigos e se eram cientistas se comportando como cientistas ou se eram seres humanos se comportando como seres humanos?

E no Colônia? Eram médicos se comportando como médicos ou seres humanos perversos exercendo a medicina? Ou simplesmente seres h-umanos¹ se comportando como seres h-umanos?

Por isso mendigamos pelo respeito não somente aos animais, mas entre os próprios seres h-umanos, sexistas, preconceituosos, racistas, especistas, anti semitistas . Por isso ainda não é possível a autonomia nem dos Direitos Animais e nem sequer dos Direitos Humanos.E usamos que respeitamos os humanos por sermos h-umanos e que não respeitamos os animais por serem apenas animais.

A vida é direito sagrado, pensamos, desde que ela seja h-umana, só nos esquecemos que nem assim a respeitamos. Como então alcançar essa autonomia?

Não sei, e é fantástico não saber porque assim buscaremos por uma resposta para problema.Enquanto isso usaremos adjetivos, imploraremos por misericórdia ensinando que sim os animais são sencientes, sim os animais tem alma, sim eles são nossos irmãos. Adestrando nosso hábito no bem e não mais na escuridão.

Para que deixemos de que como h-umanos, continuemos a praticar a imoralidade que praticamos com aqueles a quem ignoramos, pois quando cremos que o outro não possui valor, ao contrario de o desvalorizar, nós desvalorizamos a nós mesmos.




1- Já explicamos, noutro post, a ideia de escrevermos muitas vezes h-umanos ao invés de humanos como todos fazem, exatamente por conseguirmos nos enxergar falhos e por sermos seres ainda in-completos.


Simone Nardi





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