O Dever pelo Dever: Inteligência, razão, sensibilidade
O maior problema é o fato de que, toda cada vez que algum cientista coloca que um determinado animal é inteligente e que pode ter compaixão por outros seres, muitos outros patronos da sabedoria se apressam em dizer que este tenta antropomorfizar[17] os animais não-humanos, porém, parecem incapazes de notar que por parte deles, é recorrente essa visão contrária de aceitar que os animais não-humanos possam ter senciência, tal como os seres humanos – nada mais que um subterfúgio, para que se continue maltratando animais em nome de uma raça que se julga como única espécie racional – sem se darem conta de que possuem , na maioria das vezes, uma Razão irracional quando se trata de animais não-humanos.
Os não-humanos, considerados pela humanidade como animais irracionais- somente porque não procuramos entendê-los como são, no estágio de evolução onde se encontram - não parecem necessitar da razão humana para sobreviverem e não é a racionalidade deles que está degradando o Planeta. No entanto, os seres mais racionais de Gaia produzem toneladas de lixo por dia, esgotam as riquezas naturais, matam com requintes de crueldade não apenas animais não-humanos, mas animais humanos sejam, eles crianças, filhotes, fêmeas, mulheres, machos, homens. Queimam florestas, poluem o ar, as águas, enfim, a racionalidade humana parece-nos apenas existir para destruir. Claro que devemos nos lembrar que existem muitos seres humanos altruístas, mas eles apenas são necessários pelo poder de destruição que molda grande parte da humanidade.
Seja como for, uma das verdades que nos surge é o fato de que os animais são seres sencientes, capazes de perceberem sensações de prazer e de dor, sendo assim como seres racionais, devemos deixar de matá-los não apenas porque desejamos sobreviver, mas por respeito a eles, respeitando os direitos que eles realmente possuem - esse o passo mais difícil para os antropocêntricos-. Essa primeira revelação nos mostra que ao contrário dos mecaniscistas, hoje sabemos que os animais possuem uma sensibilidade tal como a nossa e isso não se trata de antropomorfismo, mas de uma realidade científica acatada até mesmo pelos vivisseccionistas, que para escapar dessa “aporia” decidiram, ao utilizarem suas cobaias, fazer uso de anestésicos para que elas não sentissem dor, ignorando ainda o fato desses animais não-humanos possuírem direitos a vida e a liberdade simplesmente por existirem, não pela razão ou pela inteligência ou ainda por sua sensibilidade, mas pelo fato de dividirem a mesma terra conosco e que, porque nós “seres racionais” lhes devemos a tutela de nossa ética e de nossa moral, pois dentro de seu campo de inteligência cada um deles, a seu modo, desenvolve o raciocínio para suas necessidades básicas
Outra verdade que nos surge é a de que os animais não-humanos não nasceram para nos servir, nem são inferiores , pesquisas demonstram que possuem memória, que possuem uma linguagem própria, alguns se chamam por nomes, muitos fabricam ferramentas e outros conseguem aprender a linguagem dos sinais como Koko (gorila) e Washoe[18](chimpanzé). Mesmo que não houvesse provas de sua inteligência, isso jamais nos daria o direito de dispor de seus corpos.
“Quando se lida com o sofrimento dos animais há tradições que devem ser ultrapassadas” (David Favre,advogado e professor)
Tanto o antropocentrismo como essa ideia de antropomorfismo devem desaparecer, os animais merecem respeito, esse é o fato primordial. Não importa se raciocinam, se possuem memória, nós como seres racionais temos a obrigação moral de eliminar o sofrimento e não de criar o sofrimento: fazer padecer, encarcerar, é algo que não condiz com a razão. Realizar o dever pelo dever é assumir-se como ser terreno, co-habitante desse planeta, dotado de razão para favorecer os mais fracos, para buscar o bem sem causar o mal, é lutar pelo retorno a Natureza , onde o que é bom para um, será bom para todos.
A educação para o silêncio
O que presenciamos hoje dentro de muitas universidades é o condicionamento de professores e alunos perante a ignorância em relação ao sofrimento animal. Comer animais faz parte da vida, da cadeia alimentar, dos costumes e das tradições de nossos antepassados, coisificar os animais igualmente faz parte de alguns conceitos filosóficos com os quais muitos não desejam entrar em atrito, e não entram. Há um livro do professor João Epifânio Regis que possui um título muito instigador que se chama “Vozes do Silêncio”, sobre a experimentação animal e o silêncio que alunos e professores guardam a respeito disso. Aqui nos caberia bem chamar de “Filosofia antropocêntrica, a educação para o silêncio”, já que seguimos os mesmos parâmetros antropocêntricos de nossos colegas vivisseccionistas, embora não utilizemos animais em aulas práticas no campus universitário, nós fazemos igualmente uso de suas vidas no que nos acostumamos a chamar de “nosso benefício”. Fazemos isso em total silêncio ético e moral, crentes de que matar seja algo realmente natural, e muitas vezes os devoramos enquanto nosso pensamento digere conceitos filosóficos como alteridade, totalidade, oprimidos, vítimas, meio ambiente, solidariedade , ética......
Não vemos a ligação entre suas mortes e esses conceitos pelos quais queremos nos nortear, se o vemos, conseguimos manter silêncio sobre isso também, como se fosse heresia falar sobre Direito Animal ou respeito as suas vidas em sala de aula. E continuamos impondo e aceitando pensamentos ultrapassados somente porque se adequam melhor aos nossos medos e nossa minoridade. Que imobilidade intelectual nos prende a isso? Por que essa nossa omissão diante da morte de animais não-humanos e nossa resistência em questionar por que ainda acreditamos ser esse assassínio, uma coisa natural? Por que não questionarmos para descobrirmos muitas das “verdades”[19] que nos ficam escondidas? Porque sabemos que descobrindo uma verdade sobre a morte desses seres não poderemos mais permanecer indiferentes a ela. A negação da Alteridade para com o Outro, mesmo que esse Outro seja um animal não-humano é o que nos coloca em contradição com a ética que buscamos e essa ética é que ameaça o nosso futuro e o futuro dos demais seres da criação. Diante disso, o silêncio não é mais possível, é preciso assumir uma posição frente ao sofrimento que causamos aos animais não-humanos, paralelamente a degradação que causamos ao Meio Ambiente, o que faz aumentar também o número de vítimas humanas oprimidas no planeta. Esse é o verdadeiro ciclo de nossa imoralidade diante do silêncio frente ao sofrimento animal. Esse é o caminho que o nosso bife de cada dia realiza, derrubando as árvores que plantamos, desperdiçando a água que economizamos, tirando o alimento da boca das vítimas excluídas e oprimidas que “nossas” teses e dissertações tanto buscam auxiliar. Mas silenciamos e a questão é: Até quando silenciaremos? Até quando não haja mais vítimas para salvar, até que não haja mais terras para defender, até que nossas vozes não passem de meras lembranças de uma humanidade que desdenhou de si mesma ao se calar diante de suas atrocidades? O certo é que não seremos sequer lembranças quando formos finalmente, vencidos por nosso próprio egoísmo.
Mas qual o papel da Filosofia ?
Hoje sabemos que a Filosofia cumpre o papel que o homem a obrigou a cumprir: preservar o antropocentrismo ignorando tudo aquilo que possa despertar os alunos para a preservação da vida. A grande maioria dos professores segue obediente ao sistema de ensino da sociedade, também moldada nos pilares antropocêntricos, ou seja, dentro da educação atual os Direitos Animais não possuem seu espaço, pois muitos professores não passam de meros reprodutores das ideias filosóficas, aqueles que se arriscarem fora dessa imposição sabem que serão marginalizados pelo próprio sistema educacional antropocêntrico. Talvez pela falta de produção de novas ideias filosóficas que visem o bem do Planeta como um todo, é que estamos vivendo desses paliativos que parecem agravar ainda mais nossa situação de seres racionais afeitos a irracionalidade. O antropocentrismo vem a tantos séculos dominando a humanidade, que se torna uma tarefa quase heroica, revolver as mentes obscurecidas por esse véu violento e tirânico. Acostumamo-nos a ver os não-humanos como meras mercadorias que nem sentimos a diferença entre o bife e um boi ainda vivo[20]. Esse trabalho filosófico[21] visa exatamente romper essa invisibilidade do sofrimento animal e mostrar que nenhuma ética ou qualquer vida harmoniosa, será possível sem que se incluam os animais não-humanos em nossas relações éticas e morais, a partir do respeito e da alteridade para com eles. Independente do que digam as grandes filosofias ainda acorrentadas pelo antropocentrismo , a Libertação Animal vai ocorrer e, dependendo do trabalho que fizermos hoje, ela pode ocorrer mais cedo ou mais tarde, mas é inegável que irá acontecer. É o thaumazein[22] nos forçando a questionar , indo buscar na skepisis uma forma de mostrar que não estamos sós nesse planeta, que é preciso coexistir, é a Filosofia voltando ao seu estado natural de instigar o pensamento a buscar os “por quês” e as “verdades” que nos ficaram ocultas, de abrir portas para que a construção da ética humana se torne possível por aqueles que realmente desejam ir além do pensamento.
A
filosofia parece ter se tornado juíza do mundo moral, revestindo seu
discurso com uma capa de sobriedade lógico-formalista, o verniz do mundo
contemporâneo, como balões que flutuam e são vistosos, mas sem relação
com a realidade[23].
Hoje, aquele filósofo ou futuro filósofo que se diz preocupado com o mundo, não pode vê-lo apenas como uma faixa de terra destinada à humanidade, excluindo todos os demais seres que existem. É impossível falar de libertação, de retorno a consciência da Natureza se não se incluírem nesses sistemas o direito dos seres vivos. É impossível, no século no qual nos encontramos, falarmos que Descartes foi um grande gênio filosófico e continuarmos ocultando todos os erros que ele cometeu principalmente em relação aos animais[24]. Ou exaltarmos qualquer outro filósofo que não inclui no conceito “Ética”, todas as vidas que habitam esse planeta: “porque na terra não habitam apenas os seres humanos” (L.Boff). Se o fizermos estaremos caindo na mesma armadilha que Onfray disse que a Historia da Filosofia nos armou, ou seja, permaneceremos acreditando em muitas mentiras somente porque nos é mais cômodo. A Filosofia é questionadora do mundo.
Não haverá qualquer perspectiva de mudança se não começarmos a rever a Filosofia agora: ou se ensina a Filosofia como um todo, intelectual e prático[25], ou ela vai permanecer acorrentada num antropocentrismo que a desmerece como aquela que busca pelo conhecimento. Não adianta falarmos sobre Foucault e sua "Microfísica do Poder", se permanecermos dóceis a um sistema que mutila animais com nosso consentimento. De nada nos valerá conhecer o Mito da Caverna se não o aplicarmos ao nosso dia a dia, saindo da nossa passividade imoral em relação ao sofrimento animal. A Filosofia precisa libertar-se para a partir daí poder “libertar” outras mentes e outros corpos. Ela necessita sair da reprodução intelectual para o concreto, onde os problemas se avolumam violentamente. O que importa é mudar o rumo de nossa evolução, hoje calcada na morte dos não-humanos para seguirmos uma evolução baseada na vida, e não há outra forma a não ser através da educação, sobretudo dentro da própria Filosofia que tem como função questionar a realidade, rompendo assim as barreiras da alienação e das ideologias culturais.
Caminhos: A Filosofia longe da senciência?
Não. Muitos autores já falam em senciência e muitos outros em biocentrismo, o problema reside exatamente no que é ou não passado aos alunos nos centros Universitários. A base educacional é a mesma, seja no ensino médio, seja nas universidades: Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, , Heiddeger, Wittgenstein, , não vamos citar todos, mas são todos nomes conhecidos dentro da História da Filosofia , outros como Peter Singer, Tom Regam, Sonia T. Felipe, Humphry Primatt, Andrew Linzey, Richard Ryder, Paul Taylor , Kenneth Goodpaster ou pensadores como John Maxwell Coetzee entre outros, normalmente não são apresentados aos alunos. Será que não há importância em seus escritos ou será porque a base ética desses autores já descartou o antropocentrismo que marca nossa atual Filosofia acadêmica? Os livros desses autores possuem uma significância enorme para a Libertação Animal e podemos compreender esse “Animal”, não somente em referência aos animais não-humanos, mas também a nós, animais humanos, filósofos, pensadores, escritores, todos pertencentes à mesma classe senciente, mesmo assim grande parte da Filosofia assiste a matança dos animais em completa submissão.
E por que alguns filósofos ainda permanecem apartados desse mundo de dor? Porque tanto culturalmente quanto tradicionalmente, nos “acostumamos” a ver quem fala sobre animais como uma pessoa fraca, digna de sátiras. Já falamos aqui que durante muitos anos a Filosofia reinou absoluta no “mundo intelectual”, achando alguns que resolveriam o problema da humanidade, sem nunca olharem para o mundo como um sistema fechado, assim como é o nosso Planeta, com todos os seres vivos que coexistem nele. Se pararmos para lembrar o que ocorreu na História da Filosofia, vamos nos recordar que fomos tirados da Natureza e hoje ainda nos recusamos a olhá-la com respeito, depois veremos que a razão deveria apenas ser guiada pela fé e milhares de pessoas foram visitar as chamas da inquisição. A Alteridade para com os demais seres jamais existirá dentro do campo antropocêntrico, o face a face somente se tornará concreto quando a “Filosofia”[26] visitar um abatedouro e ver que outros seres sencientes necessitam de seu trabalho na busca pela verdade.
Essa busca pelo conhecimento não pode mais ficar restrita somente aos bancos acadêmicos, enquanto o mundo exterior a ele sofre as consequências de uma intelectualidade calcada na questão de ser humano para o ser humano. É preciso a capacidade de mudar, de dirigir o olhar as nossas ações malfazejas, pois nos parece que o sofrimento animal ainda não adentrou nas salas de aula como demonstração de nossas ações imorais e antiéticas. É preciso uma Filosofia engajada com a vida, una com o Planeta e com seus filhos, atenta ao mundo real que a cerca para agir[27] sobre ele mais efetivamente. Não levará muito tempo então, e não conseguiremos mais diferenciar animais humanos de animais não–humanos de nossos sistemas filosóficos; quando falarmos em alteridade será para o bem coletivo como um todo: animais humanos, não-humanos, plantas ,ou seja, todo o Planeta . Não separaremos por racionalidade, por raça, por senciência ou por espécie, seremos um todo, guiados por uma verdadeira Filosofia de Libertação da vida e pela vida.
Não somos apanhados filosóficos, somos seres materiais que violam a vida de outros seres materiais, precisamos enxergá-los para podermos nos enxergar como seres distante da ética que tanto estudamos, de forma a refletirmos sobre nossas palavras e sobre nossas ações. Dizer que os animais não são racionais não deve implicar em uma violência contra eles, pois estaremos violentando a nós mesmos, cabe ao maior ensinar o menor. O pensamento filosófico deve debruçar-se sobre si mesmo, rever suas ações e livrar-se dessa “capa de sobriedade” que nada agrega em benefício daqueles que realmente sofrem : Os animais não-humanos.
Provocação Filosófica.
O outro é determinante. Sem passar pelo outro
(que posso ser eu mesmo), toda ética é antiética.
Leonardo Boff
(que posso ser eu mesmo), toda ética é antiética.
Leonardo Boff
Como mudar então os rumos dessa Filosofia?
Eis aqui um dos maiores problemas filosóficos que podemos descrever: como mudar algo que está tão enraizado na mente filosófica, algo do qual as pessoas naturalmente se esquivam e ridicularizam, embora estejam elas mesmas, construindo suas teses na crença de que aquilo lhes será: ou bom para o currículo ou bom para a sociedade “humana”? Como fazer enxergarem além do que lhes foi ensinado através da microfísica do poder social que as moldou, como livrá-las desse caráter natural de achar que os animais não-humanos podem ser mortos? Como fazê-las ver que é através desse pensamento “natural” que devastam o Planeta onde vivem, forçando-as a criar sistemas filosóficos que as protejam delas mesmas? Seria mesmo possível cometermos a heresia de tentar ensinar aqueles que nos ensinaram?
Podemos nos livrar do peso da culpa e jogá-la sobre os ombros de Immanuel Kant ao dizer que o “Esclarecimento” é a saída do homem de sua minoridade para sua maioridade e que depende isso, única e exclusivamente dele próprio. Ou seja, depende de cada um buscar a verdade, é inegável o que fazemos aos animais não-humanos, o problema é que não desejamos nos ver como somos : algozes. A Filosofia por si só não irá mudar, depende de cada um fazer a sua parte. Assumir seu papel de verdugo diante do Planeta é talvez o mais significativo dos atos a ser feito, refletir sobre o que realmente ocorre à eles, a nós mesmos e ao Planeta. Pois, ao mesmo tempo em que lutamos pelo Meio Ambiente o destruímos permitindo que sejam derrubadas florestas para a criação de gado , para a plantação de soja que alimentará o gado estrangeiro, permitimos que a terra, os rios e os lagos sejam poluídos com os dejetos de milhões de animais que são mortos todos os anos devido a nossa cegueira intelectual, enquanto plantamos arvorezinhas nos achando éticos e responsáveis. Precisamos sair dessa minoridade antropocêntrica para ascender à verdadeira razão de estarmos no mundo, isso é o que auxiliará a tornar o conceito de ética realmente possível: “a ética surge quando o outro emerge diante de nós”(L.Boff). Precisamos fazer o sofrimento animal emergir diante de nós para podermos mudar os rumos da Filosofia e como nos disse Kant, podemos fazer uso da mais simples das Liberdades: a Liberdade de pensar.
Não vamos relacionar o sofrimento pelo qual passam os animais desde seu nascimento até o momento do abate, o desejo é fazer uma simples conexão entre seu jantar e aquele animal a ser abatido. Propor que a senciência seja levada em conta nesse instante aos nos lembrarmos que os cães adoram um afago, que os gatos adoram brincar, que sentem afeto, alegria e amor, sinais de senciência e que, se são capazes de sentir prazer , devemos levar em contra que poderão por outro lado, sentir sensações opostas a estas, sensações pelas quais nós somos os únicos responsáveis. A questão agora é: quais sensações desejamos proporcionar para seres que estão em relação conosco e com o Planeta onde vivemos: sensações de prazer ou de dor e, sabendo disso poderemos realmente permanecer como somos? Podemos nos achar livres-pensadores, mas jamais permitir que nossas ações compactuem com o mal, pois servir não é próprio dos seres inferiores.
O
servir não é próprio dos seres inferiores.Deus, que nos dá o fruto e a
luz, serve.Poderia chamar-se: O Servidor![...] onde houver um erro para
corrigir, corrige-o tu com bondade; onde surgir uma dor a mitigar,
mitiga-a tu com solicitude;[...] Sê tu, idealista, sê tu quem
serve!(Goethe)
Que seja a razão então que sirva a Natureza e a todos os seres, que corrija os erros e mitigue a dor e tome para si a árdua tarefa de desenvolver nos animais humanos o respeito pelas criaturas da terra, sejamos nós, os racionais, aqueles que servem e servindo, que realizem o sonho ético da harmonia planetária.
Será que nossa “humildade” nos permitirá servir?
Conclusão : Um Ensaio Filosófico
Quando
eu era criança, li um velho conto judaico que não pude compreender.Ele
não dizia mais do que isso: “ Fora dos portões de Roma está sentado um
mendigo leproso, esperando.Ele é o Messias” Então me dirigi a um ancião,
a quem perguntei: “O que ele está esperando?” E recebi uma resposta que
então não consegui entender, somente muito mais tarde.Ele me disse: “
Está esperando você!”[28] .
O que somos nós perante o Universo? Nada mais que apenas mais um Planeta em meio ao infinito, porém rompemos a linha tênue que nos separava de nós mesmos, nos afastamos da nossa própria imagem que era a Natureza, para nos tornamos algo que não podemos classificar como realmente “humano”! Humano para alguns possui o conceito de bondade e indulgencia, para outros se restringe apenas a dor, medo e violência, esses os seres mais renegados do Planeta pela espécie que se coloca como dominante. Ao falarmos em libertação, alteridade, consciência, entre tantos outros conceitos, devemos nos lembrar que não habitamos sozinhos esse pedaço de terra, mas o dividimos com bilhões de outros seres. Nossa visão de superioridade nos arrastou para um estágio onde falamos e não vemos. Sabemos que milhões de pessoas morrem todos os anos por falta de alimentos - segundo cálculos da Fao cerca de 800 milhões de pessoas - mas ainda somos uma sociedade que se move somente para o “Ter” e não para o “Ser”, que faz muitas coisas por medo e não por dever .
Assim com o trecho de Martin Buber, a Libertação Animal está do lado de fora do antropocentrismo esperando. Esperando que mais pessoas tomem coragem, que mais pessoas busquem o esclarecimento. Os animais não-humanos não podem mais permanecer apenas esperando, é preciso que a “Filosofia”[29] lhes dê guarida. Diante disso não precisamos esperar que alguém nos responda pelo “quê” a Libertação Animal está esperando, pois sabemos: Ela está esperando Você!
Notas
[17]Antropomorfismo do grego, anthropos=homem + morphe= forma. Atribuição de qualidades ou formas humanas a Deus, a divindades ,a animais e objetos, devemos levar em consideração outra palavra a Antropopatia do grego anthropos=homem+ pathos=sofrimento. Atribuição de sentimentos humanos a seres não humanos, as coisas, fenômenos da natureza,etc.(Arnaldo Schuler,Dicionário enciclopédico de teologia.)
[18]Ela também ensinou a outros chimpanzés a linguagem que aprendeu.
[19] Sabemos que existem inúmeras verdades, mas diante da morte só há uma: sofrimento. Chegando a essa, chegaremos a outras, e assim por diante, pois a cada porta que abrirmos, outros problemas surgirão e novas soluções necessitarão de nossa atenção.
[20] O animal abatido, fica totalmente invisível para quem aprecia o bife, a conexão se torna algo irrealizável, dentro dessa “cegueira” causada pelo antropocentrismo.
[21] Realizado no campo dos Direitos Animais.
[22] O espanto que nos leva em busca de respostas.
[23]Atanásio Mykonios - Para que serve a Filosofia num mundo marcado pela indiferença?
[24] No meio acadêmico e, embora alguns neguem, é fato que até pouco tempo o meio científico se utilizava do mecanicismo para realizar experimentos em animais, fato que só tem sido alterado com o trabalho daqueles que lutam pela Libertação Animal.
[25] Embora muitas correntes digam que não pode haver prática do pensamento filosófico, é ele quem estimula os homens a agirem, como exemplo, podemos citar o livro “Libertação Animal” de Peter Singer, que deu um surpreendente estimulo para que uma nova visão dos não-humanos fosse forjada e com isso, novas leis surgissem para protegê-los.
[26] O pensamento filosófico, o ato de questionar, de buscar conhecimentos novos.
[27] Questionar, instigar o pensamento.
[28] RobertoBartholo Jr,Martin Buber,presença palavra, pg 1.§1
[29] O questionamento que levará a humanidade a ação.
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Simone Nardi
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