Imagem: Tigre |
Depois de certa resistência eu acabei assistindo o filme “ As aventura de Pi” - ou para alguns "A Vida de Pi" -, naqueles dias em que não há absolutamente nada a fazer e assistir um filme pelo qual não havíamos nos interessado é tudo que nos resta.
Tirando o enredo altamente especista, Pi traz uma mensagem interessante-(PI não é diferente da esmagadora maioria de filmes com animais, ele ainda é o espelho de uma sociedade igualmente especista), por isso não irei falar sobre este aspecto do filme , mas vou tentar acomodá-lo de um modo diferente, fazendo uma alusão a essa mesma sociedade e ao filme que a reflete.
Quem não assistiu Pi, assista antes, pois este pequeno e desprentecioso artigo traz spoilers do filme.
"A vida de Pi", de Yann Martel, é um livro adaptado para o cinema. Ang Lee é o diretor do filme e a principio achamos que é apenas mais uma historiazinha boba de um naufrago, só que dessa vez com um tigre.Tigres chamam a nossa atenção, não apenas pela beleza, mas pelo ar de divindade que trazem consigo, isso talvez tenha chamado mais a atenção dos cinéfilos do que propriamente a história que inicialmente passa a ser contada.
Não vou narrar o filme, quem assistiu vai entender o artigo, quem não assistiu ainda, basta dar uma lida rápida numa sinopse para entender o enredo do filme: um garoto extremamente religioso “preso” num bote que esta a deriva no mar junto a Richard Parker, o Tigre.
Mas PI não é somente isso. PI somos todos nós: especistas, religiosos ou não( o ateísmo muitas vezes acaba virando uma espécie de “religião” para alguns ateus, já que o fanatismo não faz escolhas), vivendo diariamente confrontos internos, aterrorizados com novas verdades e terrivelmente amedrontados com uma possível mudança de hábitos, sobretudo daqueles aos quais nos achamos por demais apegados.
Por quê?
Porque inicialmente quando o pai de PI diz que vão deixar a Índia ele se nega a aceitar , afinal aquela é a VIDA dele, é ali que está seu passado, seu presente e,deseja ele, seu futuro. Mudanças sempre são difíceis.
E por que tanta religiosidade?
PI não se decide em qual religião quer fincar os pés, quer ser cristão, hinduísta e muçulmano ao mesmo tempo, quer acreditar ferozmente em Deus e o fato de descobrir que Deus não pode fazer tudo por ele é que vai fazê-lo ver que mudanças são possíveis e necessárias.
Esquecendo o lado especista, vemos no Tigre o nosso estado ainda selvagem, instintivo, reino que nos preparou para parte do que somos hoje, o reino animal, desses nossos irmãos ainda em evolução.
Imagem: Tigre |
São esses impulsos selvagens e instintivos que PI tenta dominar enquanto seu bote está a deriva- ou seria, o nosso Planeta que está a deriva?
Na cena em que PI tenta “matar” Richard Parker e olha em seus olhos vendo ali uma alma, na verdade sabe que não podemos matar nossos instintos, pois sem esse lado não sobreviveríamos, nos basta “domar” nossa selvageria e moldar nossos instintos para uma convivência harmoniosa com o Outro.
Todo o filme é um confronto interno de forças, não podemos dizer forças boas e forças ruins, isso não existe, a selvageria a qual nos referimos só é ruim quando exacerbada, assim como nosso lado instintivo e nosso lado racional, o equilíbrio torna ambas as forças saudáveis .
Nós podemos escolher quais dessas potências podemos despertar , nós podemos escolher harmonizar, equilibrar ou simplesmente destruir e perecer.
O problema é que fomos despertados a utilizar mais nossas tendências violentas(selvagens), do que a moderar seu uso, e isso se tornou tão normal que não conseguimos mais perceber o que somos e no que nos transformamos . Caso entre PI e o Tigre.
Imagem: Tigre |
Exatamente o especismo do qual não queríamos tratar no início deste artigo, não pelo filme em si, mas em nós, como telespectadores, como seres humanos que não estabelecem um equilíbrio com o meio onde vivem, como seres que desconsideram aquilo que julgam inferior, seres que não acreditam que necessitam um do outro para sobreviver, como PI e o Tigre presos ao bote.
PI e Richard Parker, o Tigre, estão num bote a deriva. A humanidade esta num Planeta a deriva, lutando contra sua selvageria e sua "i-racionalidade" moral que, se bem conduzida, lhe permitiria viver em harmonia.
Lutamos o tempo todo contra essa crueldade enraizada em nossa pele, em nossa espécie enquanto estamos no bote(Planeta).
Quando falamos em vegetarianismo para qualquer pessoa, ela age como o Tigre de PI, com seu modo instintivo e selvagem, ela retorna a um reino pelo qual já passou e do qual saiu para aprender novas experiências. Tal como o Tigre, as vezes as pessoas não sabem se controlar, se harmonizar, o importante para elas é manter a selvageria e não a razão. E a razão nos diz, os animais tem alma, eles são seres conscientes...precisamos parar de matá-los ou nós mesmos não iremos sobreviver.
Mas,nós precisamos da carne?
Será?
Quando PI encontrou a ilha carnívora descobriu se continuasse ali, ou melhor, se continuasse ASSIM ele e Richard Parker morreriam; o instinto de sobrevivência o alertou para deixar esse modo de viver, prova de que não podemos viver sem um ou outro, mas que devemos saber utilizá-los bem. Banalizamos tanto a nossa crueldade e a nossa violência que nem percebemos que dela depende a continuidade de nossa existência, nos encantamos com nossa inteligência e não percebemos que ela, desequilibrada, permitiu que nossa violência nos cegasse. Não nos vemos matando animais quando nos alimentamos de carne, mas é isso, exatamente isso o que ocorre. Tal como a Ilha, nós devoramos tudo e destruímos tudo, nos enganando ao alegar que “isso que destrói” somos nós.
Tal como os suricatos, inertes, alienados, inconsequentes diante de nosso próprio ataque, nós permanecemos velados a essa violência toda, extinguindo de nós mesmos aquilo que mais deveríamos trabalhar neste reino : a moral.
Nós acreditamos que , por sermos racionais, não somos cruéis e nos enganamos por detrás de uma aparência majestosa de seres morais e éticos, mas cínicos, mentirosos e ignorantes.
Quando alegamos que necessitamos da carne, não estamos fazendo um enfrentamento entre nossa a natureza racional que nos prova que não necessitamos da carne e nossa natureza selvagem que não deseja mudar, estamos apenas cedendo espaço para nossos instintos mais primitivos: o Tigre[1] em nós.O Selvagem em nós que não pensa no Outro, mas apenas em si mesmo.
Qual o sentido da nossa existência?
Nós somos duas histórias: Somos PI e somos o Tigre.
Somos bons, benevolentes e racionais, não matamos, não torturamos, não devoramos outros irmãos.
Imagem:Tigre humanizado |
Nós somos PI e somos o Tigre
Somos selvagens, instintivos e até certo ponto, irracionais, nós como humanos matamos, nós torturamos e nós devoramos os nossos irmãos.
Em qual das duas histórias você prefere acreditar?
Simone Nardi
Nota;
1- Não significa que o Tigre seja um animal ruim pois aqui falamos apenas do ser humano e não do animal, já que Richard Parker, o Tigre, não existe como animal, mas falamos aqui do lado instintivo que ele possui e que lhe obriga a matar para comer. Para ele não há escolha, é um Tigre, é esse lado sem escolha que divide o lado que pode escolher que vive dentro de cada um, a questão é que optamos mais por sermos Tigres, do que por sermos PI (o lado racional que permite escolher entre matar ou não).
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