Mas talvez não
para ele.
Seus pés estavam molhados, seu corpo
sujo e fedendo a óleo. Seu estômago doía, pois há dias não se alimentava. As pessoas se afastavam
dele, o humilhavam. Riam de sua tristeza. Nem mesmo o significado daquela noite
as fazia perceber que ele necessitava ao menos de uma palavra de carinho.
As casas ricas
e enfeitadas o abominavam. Os transeuntes desciam das calçadas para não
passarem perto dele. Ele sentia sede e fome. Sentia tristeza e solidão.
Desprezo.
Recomeçou a andar sem rumo quando uma
voz forte e decidida o chamou.
—
Hei amigo, venha , eu
também estou abandonado essa noite.
Aqueles olhos tristes criaram luz, um raio de alegria que o fez dar meia
volta e aproximar-se do velho mendigo que, como ele, estava imundo e molhado
pela garoa fina. As mãos estavam sujas, mas lhe acenavam com alegria. O rosto,
marcado pela dureza da vida, mesmo assim um sorriso o acolhia. Ele não pensou
duas vezes e correu na direção daquele abraço carinhoso do qual tanto
necessitava.
Sentiu-se seguro. Amado, realmente
querido. Quando sentaram-se em frente as belas mansões e dividiram um pedaço de
pão , sua alegria transformou-se em jubilo. Ele reviu as mesas fartas, as
pessoas ricas que não se importavam com sua fome, no entanto aquele mendigo
dividia com ele seu único pedaço de pão. Talvez a humanidade ainda não
estivesse perdida.
Sua língua comprida lambeu as mão
imundas e o rosto abatido daquele velho mendigo que acariciava seus pelos
desgrenhados. Ele não era apenas um cão de rua, agora era um amigo e
permaneceu ali até o homem adormecer sob a noite chuvosa.
Então, em silêncio, começou a se afastar. Uma luz imensa rodeou-lhe a figura e o que eram
patas tornaram-se pés. Os pelos sumiram
e um manto alvo cobriu-lhe o corpo, um par de asas romperam-lhe das costas e
ele alçou um voo silencioso em direção ao céu.
A chuva cessou e o céu resplandeceu em
estrelas enquanto sua voz poderosa clamava.
“Abençoai os homens , Senhor, pois
ainda resta-lhes no coração o amor. Eu vim e descobri um que fez valer a pena.
Apenas um, como me pedistes . Deixai prosseguir a vida na Terra, por ele eu
vos peço. Perdoai a humanidade e não a destruí, pois uma alma nobre ainda sabe
o que é Natal”
E o anjo da destruição partiu, deixando
que as estrelas iluminassem a Terra e os homens que ainda conseguiam vê-las.
Simone Nardi
Gostou deste Blog?
Mande um recado pelo
Nos Ajude a divulgar
Todos os direitos reservados
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente; Sugira; Critique; Trabalhamos a cada dia para melhorar o Blog Irmãos Animais - Consciência Humana