terça-feira, 23 de outubro de 2012

Rubem Alves - dando voz a Gandhi


‘Olhar para os animais e as plantas me enchia de alegria.

 Eu queria cuidar deles como quem cuida de algo frágil e precioso. Aí o mandamento cristão do amor me parecia pouco exigente. Pedia apenas amor ao próximo. Os cristãos entenderam que esse ‘próximo’ se referia apenas às pessoas. Eu, ao contrário, penso que todas as coisas que vivem são minhas irmãs. Elas possuem uma alma.(...) Amarás à mais insignificante das criaturas como a ti mesmo. Quem não fizer isso jamais verá a Deus face a face.(...) Agora digam: acham que eu poderia me alimentar da carne de um animal que foi morto e sentiu a dor lancinante da faca, para que eu vivesse? Que alegria poderia eu ter em tamanha crueldade? A natureza foi generosa o bastante, dando-nos frutas, verduras, legumes, cereais. Por mais que tentem me convencer de que as maneiras ocidentais são as melhores para a saúde, sempre as encarei com horror. Antes morrer que matar. Em nenhuma hipótese causar medo ou dor a coisa alguma.(...) Nosso destino espiritual passa por nossos hábitos alimentares. Estou convencido de que a saúde depende de uma condição interior de harmonia com tudo o que nos cerca. Comer demais é uma transgressão dessa harmonia.(...) Quando nos abstemos estamos silenciosamente dizendo às coisas vivas: ‘Podem ficar tranqüilas. Não as farei sofrer desnecessariamente. Só tomarei para mim o mínimo necessário para que meu corpo viva bem. Foi o que fiz. Vivi frugalmente. Fiz jejuns enormes. E minha saúde foi sempre boa.(...) Toda vida é sagrada, porque tudo o que vive participa de Deus. E se até mesmo o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é um pulsar da divindade, não teríamos nós, com muito mais razão, de ter respeito igual pelos nossos inimigos?(...) Sempre acreditei que no fundo dos homens existe algo de bom. Como poderia eu odiar qualquer pessoa, mesmo os que me tinham por inimigo? Dirão que não é assim. Há crueldade, o ódio, a morte... Será que algumas gotas de água suja serão capazes de poluir o oceano inteiro? Que força do mal poderá apagar o divino que mora em nós?(... ) Parece que os ocidentais não acreditam que os homens sejam naturalmente bons e belos. É por isso que se tornaram especialistas em meios de coerção e sabem usar o dinheiro e os fuzis como ninguém mais... É por isso que estão sempre tentando melhorar os homens por meio de adições: a comida em excesso, a roupa desnecessária, a velocidade da máquina, a complicação da vida...

‘Eu nunca quis entender de política. Só quis entender da bondade e dos seus caminhos. A política foi uma conseqüência e não a inspiração... Eu teria feito as mesmas coisas, ainda que não houvesse conseqüência alguma.(...) Os políticos, acostumados a usar o poder da força, desconhecem o poder das sementes...(...) Não haverá parto se a semente não for plantada, muito tempo antes... Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses...’

 (A magia dos gestos poéticos, Ed. Olho D’Água)


Andava na direção contrária. Pensava o que ninguém pensava. Fazia o que ninguém estava fazendo. É compreensível que tenha sido assassinado. (Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 31/01/2001.)



Redação do blog Irmão  Animais- Consciência Humana



OBS: Imagem encontrada na internet, se a imagem for sua entre em contato conosco para colocarmos os créditos.

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