Renno
era o único filhote que ficara de uma
ninhada de 12 cãezinhos. Desde cedo já se podia notar seu talento especial para
proteger e o carinho que mantinha pelos tutores. Aos dois meses ficara com
parvovirose e a doença fora tão forte que durante um mês Renno lutara pela
vida. Passada a doença, descobriu-se que Renno não desenvolvera todo seu
potencial, ficara um Rotweiller pequeno, vistoso e muito carinhoso.
Quando
completou seis meses chegou Tayler, outro filhote de Rotweiller . Com apenas
dois meses as pessoas achavam que tinha 4, com certeza ultrapassaria Renno em
tamanho e força, foi quando surgiu a dúvida.
Como
acostumar dois machos de Rotweiller juntos, quando tantas pessoas diziam que
era impossível. Enquanto se pensava, Tayler dormia num quarto e Renno no outro.
Juntar ou não juntar? Os dias passavam.
Vamos
juntar e ver no que dá.
Dia
de sol. Renno no quintal. Mostra o filhotão. Cheira daqui, cheira de lá.
Rosnados por parte de Renno. Não vai dar.
Insiste.
Põe o filhote no chão. Cheira, cheira. Cutuca com o focinho. Tayler rosna.
Renno rosna. Silêncio. Tayler provoca Renno, mordisca a canela, a pata. Renno se
vira, olha feio mas aceita a brincadeira. Quinze minutos depois ninguém mais
diz que eram estranhos.
Os
meses passam. Tayler cresce. Renno não. As brincadeiras continuam, e os
rosnados também. Logo se vê que um não vive sem o outro. Renno vai para a
casinha. Tayler deita na porta.
Renno
vai para o portão. Tayler segue atrás.
Dividem
a casa. Dividem o quintal.
Tayler
é simplesmente o dobro do tamanho de Renno, mas há respeito e carinho entre
eles, se Renno rosna, Tayler abaixa a cabeça respeitoso. Nunca haveria briga.
Os
anos passam e a alegria continua. Renno é sempre mais sério, com a idade não
aceita mais brincadeiras, já Tayler quer brincar, quer morder, mesmo assim
respeita o companheiro. A seriedade deixa os dois um pouco mais afastados.
Renno tenta se afastar, mas o companheiro não permite, está sempre ao seu lado,
sempre o seguindo, sempre disposto a brincar, nem imagina a força que tem, mas
sempre se dobra aos desejos do amigo.
Tayler |
Tayler
piora. Dizem que não há mais cura. Renno não rosna mais. Desconfia que há algo
errado.
Mas
como? É apenas um cão!
Não
se sabe.
Hemorragia.
As vistas de Tayler dilatam. Ele não consegue enxergar. Ninguém percebe a
princípio até ouvir os latidos de Renno.
Saímos.
Tayler
com a cabeça baixa não consegue voltar para a casinha. Renno ao seu lado tem
expressão preocupada. Com o focinho força o amigo a levantar a cabeça. Late!
Empurra o companheiro na direção correta. As pessoas, sem entender o que está
acontecendo, tentam afastá-lo, dão bronca, não compreendem sua preocupação. Mas
ele insiste, volta e os empurra até chegar novamente ao amigo. Late e mais uma vez tenta fazer com que Tayler
levante a cabeça.
Renno
é preso, mesmo assim não se acalma, sabe que o outro precisa de sua ajuda.
Veterinário,
injeções, anemia profunda. Tayler está se despedindo. Separamos os dois afinal,
Tayler está com dor, irritado, não queremos briga.
Não compreendemos bem os animais.
Não compreendemos bem os animais.
Tristeza
ao amanhecer. Tayler partiu. E agora o que fazer além de chorar?
Alguém
acha que Renno deve se despedir. O portão é aberto. Tayler está deitado,
coberto.
Não entendemos os animais.
Não entendemos os animais.
Renno
assim que o vê começa a ganir. Se aproxima e cheira o companheiro. Com a pata,
retira o cobertor que cobre o outro. Late. Arranha o amigo como que pedindo que
ele se levante. Finge que quer brincar. Choramos. Tentamos afastá-lo do amigo
mas ele se recusa a sair. Insiste com a pata para que o amigo venha
brincar com ele. Continua a latir e a se curvar diante do outro.
Finalmente
começamos a entender os animais.
Renno
sofre. Quer o amigo de volta. Quer as brincadeiras, os rosnados. Aquele é o seu
jeito de chorar, o seu jeito de dizer adeus. Voltamos no tempo, ele focinhando
o amigo na direção da casinha. Atrapalhamos seu auxílio. Os separamos quando
devíamos tê-los deixados juntos. Eram como irmãos. Agora Renno estava sozinho e
sentimos nele a falta que Tayler igualmente nos faz.
Hoje
nós compreendemos os animais, pena que tenha sido de uma forma tão triste.
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