quarta-feira, 20 de junho de 2018

PARA ESPÍRITAS AINDA NÃO CRISTÃOS

ATÉ QUANDO




Em que pese nossa condição humana ainda imperfeita, própria de um Mundo de Expiação e Provas, sempre achei não seria difícil para espiritualistas, assimilarem aqueles conceitos básicos de piedade e comiseração aos seres de todas as espécies, respeitando o seu direito à vida e ao seu tempo de aprender, amar e ser feliz, como gostamos de ser.

Isso porque o “Não Matarás” da Divindade Suprema não excluiria de sua formulação, justamente os seres mais fracos da Criação (ainda que de grande porte), os mais ingênuos, infantis e primitivos, que a mão humana sempre deveria proteger e conduzir, jamais aniquilar.


Espíritas Cristãos, sempre reconheci não serem humanos perfeitos, porém aquinhoados com informações que já os deveria orientar no rumo desse tão sonhado Mundo de Regeneração que, logicamente, possui um gabarito mais aprimorado e ético quanto à avaliação do mérito de cada qual.

E é aí que o bicho pega. E pega feio, porque infelizmente fui levada a reconhecer que a teoria na prática é muito outra, quando se trata de abrir mão da churrascada domingueira festiva ou não, ou daquela “feijoada tradicional que a vovó sabe fazer como ninguém”, cujo nome verdadeiro não é tão bonito de se falar porque são pedaços de bichos mortos mergulhados em um caldo preto, pés, orelha, rabo e linguiça de um porco que fazemos questão de esquecer nessa hora que foi nosso irmão, porque gostamos muito dele assim, fumegando no prato, com direito a repeteco.

Quando preconizam que “a vida é valor absoluto” sem incluir nesse conceito as outras espécies sencientes, isto é que amam, sofrem e se desesperam diante do cutelo, porque são vidas, exatamente respirando igual aos nossos filhos, pais e animais de estimação, pecam pela grotesca incoerência de pregar o que não praticam, não por má fé, mas por preguiça, desmotivação e desinteresse, quando já poderiam libertar da escravatura do seu prato, pelo menos, os seres que deveriam amar e defender em nome de Deus.

Quando se posicionam contrários à Pena de Morte, ao Aborto, à Eutanásia e ao Suicídio, porque reconhecem a dádiva da vida em qualquer situação, se contradizem diante do absurdo de ignorar o desespero dos animais que morrem para serem comidos e de tapar os ouvidos quando berram de desespero na matança de cada dia, em cada segundo, embora muito longe dos nossos olhos e também do coração.

Já não é mais possível dizer que não sabíamos” (Philip Low) que animais sofrem quando são mortos, transferindo, inconscientemente, à própria carne a energia negativa da morte que experimentaram e que iremos consumir, na insensatez da gula, com o nome de alimento saudável, nutritivo e protéico.

Estômagos empaturrados das vísceras de um ser que precisava viver para evoluir, assim como nós, impressionam pelo paradoxo de pertencerem a humanos que se autodenominam cristãos, mas não estão fazendo direitinho sua lição de casa ensinada (mas não praticada) no Centro Espírita, onde pedaços de irmãozinhos recheiam os pães da Cantina e são meros itens no Cardápio dos Almoços Fraternos, não tão fraternos assim para quem mais precisava de acolhimento, proteção e amor.

Espíritas Cristãos quando respiram, não se lembram, claro, que animais estão sendo sufocados, a cada segundo, para que seu bebê humano consuma o leite roubado de um bebê animal, separado de sua mãe, logo ao nascer, enquanto tiravam o leite dela para você degustar seu iogurte predileto e sua mozarela derretendo na pizza irresistível. Enquanto o bezerrinho passava pela faca, você saboreava a sua carne de vitela, o nome bonitinho de baby-beef, porque convenhamos, não é nada comercial anunciar a carne de um bebê morto nos anúncios das ofertas de Super Mercado da TV.

Substituímos o termo cadáver de animal pelo nome mais bonito de proteína, o “indispensável” componente nutricional de nossa constituição física, como se não houvessem opções éticas semelhantes ou melhores para se ter saúde, racionalmente nos abstendo da conivência com os matadores assalariados que, “coitados”, são pagos para fazer o trabalho sujo que não precisamos nem gostaríamos de executar, matando inocentes que não querem morrer.

Sempre achei que ESPÍRITAS CRISTÃOS não tivessem dificuldade alguma em reconhecer isso, pelo contrário, fossem os primeiros a divulgar que alimentação saudável não precisa incluir o animal em pedaços que bárbaros assavam inteiro ao redor das fogueiras, exatamente porque eram primitivos e bárbaros, civilizados já não deveriam ser.

Sempre achei que esse segmento humano que se debruça sobre livros sagrados para adquirir conhecimento, já houvesse encontrado sabedoria neles, ainda que nas entrelinhas, a fim de dispensar IRMÃOS das garfadas e dos espetos, porque até mesmo alguns materialistas que não reconhecem nenhum valor na Codificação Kardequiana, ou sequer ouviram falar dela, deduzem que animais sentem dor e precisam impedir que sintam, que animais não querem morrer e é seu dever impedir que morram, porque lugar de IRMÃOS é no coração da gente, não no prato.

Alguns privilegiados até mesmo já conseguiram descobrir, sem mesmo serem alfabetizados, a importância da compaixão para todas as espécies, bom para eles que não queimaram as pestanas tentando decifrar enigmas nos versículos e parágrafos, tirando errôneas conclusões na interpretação e traduções, às vezes.

Algumas crianças de tenra idade, sem jamais terem sido ensinadas sobre o assunto, estão argüindo pais atônitos sobre a prática cruel de despedaçar animais queridos que fazem parte do seu dia a dia nos desenhos animados ou ao vivo no quintal da casa onde nasceram. Não entendem porque não encontram a cabeça do frango no lugar onde deveria estar ou a cabeça do peixe que nasceu junto com ele e se recusam, chorando, a comer os seus amigos, após tentar em vão ressuscita-los.

Deveríamos nos compadecer também, à semelhança destes pequeninos, porque iremos precisar, se ainda não precisamos, que se compadeçam de nós quando estivermos mais desamparados do que estamos, mais sozinhos e mais fracos do que somos, mas principalmente iremos carecer que nos olhem como irmãos, neste “corredor desconhecido” ou que “esquecemos como era” chamado MORTE, onde pediremos que se apiedem de nossa condição inferior, grotesca e primitiva, que não nos machuquem mas sejam misericordiosos e nos auxiliem, sem nos matar de novo.


Sandra Leoni, colaboradora do IACH




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