| Imagem:Chimpanzé pensativo | 
Séculos de estudo: afinal, os animais são ou não capazes de pensar?
Imagine um animal em situação de perigo. Antes de se aproximar do 
objeto ameaçador, ele apenas observa de longe seus movimentos. Depois, 
vencido pela curiosidade, se aproxima, não sem saltar para trás em 
apreensão – e precaução. Quando considera que não há perigo, ganha 
confiança e volta a agir normalmente.
Esse comportamento certamente parece inteligente. Os humanos poderiam
 muito bem se comportar de forma similar quando se deparassem com algo 
estranho e potencialmente perigoso. Mas o que realmente acontece com os 
animais: um processo de pensamento deliberado ou mero instinto animal?
A questão é antiga. Aristóteles e René Descartes acreditavam que o 
comportamento animal era governado puramente por reflexos. Já Charles 
Darwin e o psicólogo William James argumentaram que os animais deveriam 
ter uma vida mental complicada.
Agora, estamos mais perto do que nunca de resolver esse debate. Uma 
grande quantidade de relatos de comportamentos animais está fazendo 
muitos biólogos acreditarem que certas criaturas realmente têm 
pensamentos rudimentares. 
Enquanto isso, as últimas imagens cerebrais de experimentos estão 
ajudando os cientistas a compreender que tipo de anatomia é necessária 
para um cérebro pensante.Embora seja improvável que as vidas mentais dos animais sejam tão 
complexas quanto a nossa, há muito mais acontecendo em suas cabeças do 
que se pode imaginar.
Na década de 1970, o zoólogo americano Donald Griffin começou a 
esquentar esse debate. Ele foi uma das primeiras pessoas a descobrir a 
“ecolocalização” dos morcegos, e comportamentos tais como a capacidade 
dos castores de cortar pedaços de madeira para encaixar precisamente nos
 furos particulares de suas barragens, bem como a capacidade dos macacos
 de usar suas vozes (chamadas diferentes) para enganar os outros – tudo 
sugeria que os animais podiam pensar.
Os céticos achavam que isso era muito subjetivo. As observações de 
Donald perderam credibilidade por ele achar que todos os animais eram 
conscientes – ele queria provar que, cada vez que qualquer animal fazia 
qualquer coisa com qualquer ingenuidade, tão primitivo quanto um 
vaga-lume brilhando no escuro, ele estava consciente. 
Hoje, no entanto, apesar do valor do trabalho de Donald, a pesquisa 
está mais objetiva e sistemática. Mais popular é a ideia de que as 
experiências mentais de outros animais se encontram em uma espécie de 
espectro, variando de um tipo primitivo de consciência ao fluxo rico e 
complexo de pensamentos da mente humana.
A mosca da fruta é o animal perfeito para explorar uma das 
extremidades desse espectro. Ao longo dos últimos anos, cientistas 
mostraram que esses insetos têm um pré-requisito essencial para a 
consciência: ao invés de responder aleatoriamente a tudo à sua volta, 
eles podem selecionar em que prestam atenção com base em suas memórias. 
Por exemplo, as moscas são mais propensas a explorar novos objetos 
adicionados ao ambiente do que coisas que estiveram lá por um tempo. 
Quando os pesquisadores reduziram a capacidade da mosca da fruta de 
formar memórias, isso prejudicou sua capacidade de atender a novidade, 
de modo que os insetos responderam mais ao acaso.
Atenção flexível existe, provavelmente, até no mais simples cérebro, o
 que significa que muitas criaturas, incluindo peixes, anfíbios e 
répteis, também pode ter esse tipo de consciência. Sendo assim, quais 
animais, se houver algum, mostram sinais mais avançados de experiência 
mental?
Os melhores indícios até agora são de animais que exibem formas 
particularmente complexas de comportamento, como a capacidade de 
planejar o futuro. 
Até recentemente, os cientistas acreditavam que essa característica 
era unicamente humana. No final de 1990, pesquisadores descobriram que o
 pássaro gaio-azul pode usar memórias específicas de acontecimentos do 
passado para fazer planos para os tempos à frente. 
Em 2006, pesquisadores descobriram que essa capacidade se estendia 
aos beija-flores. Eles podem se lembrar da localização de certas flores e
 quão recentemente estiveram em um local, e usar essas informações para 
orientar seu comportamento futuro. 
Desde então, os estudos sugerem que primatas, ratos e polvos mostram alguma aptidão para o planejamento futuro, também.
O problema é se esse comportamento é flexível. Se não, o ato pode ser
 apenas um instinto evoluído, por mais complexo que pareça ser. Por 
exemplo, corvos conseguem usar uma ferramenta “antiga” para um novo uso 
(um galho para verificar objetos potencialmente perigosos foi usado mais
 tarde para pegar comida dentro de um tubo).
Corvídeos podem até ser capazes de adivinhar o comportamento de outra
 ave. Por exemplo, experiências constataram que os corvos tomam medidas 
para proteger alimentos de outros corvos que poderiam tê-los visto 
escondendo-os, mas ficam despreocupados com corvos presos atrás de um 
obstáculo que teriam bloqueado a sua visão (e assim não teriam visto 
onde eles esconderam a comida). Em outras palavras, eles têm uma “teoria
 da mente” básica, que não é possível sem algum tipo de processo de 
pensamento.
Algumas outras criaturas também devem ter essa capacidade; não 
surpreendentemente os primatas estão entre essa elite. Se os chimpanzés 
roubam comida, por exemplo, são extremamente silenciosos se outro membro
 do grupo estiver ao alcance de sua voz. Mais impressionante ainda, eles
 parecem ser capazes de adivinhar como outro pode ter agido no passado. 
Durante uma caça à comida, os chimpanzés tentam adivinhar onde seus 
concorrentes poderiam ter procurado primeiro, para que eles possam 
procurar em locais menos óbvios. Baleias, ursos e cães ainda não 
provaram suas habilidades neste tipo de tarefa, mas não deixam de 
mostrar alguns sinais de empatia que sugerem que eles também devem ter 
uma vida mental relativamente avançada.
No entanto, ainda falta uma característica importante do pensamento 
humano nos animais, chamada de “metacognição”: a habilidade de monitorar
 e controlar memórias e percepções, permitindo-nos pensar, por exemplo, 
“eu sei que eu sei isso” ou “eu não tenho certeza de que estou certo”, 
ou ainda sentir que o nome de alguém está na ponta de sua língua.
A importância disso para o pensamento humano é comparável ao uso da 
linguagem e das ferramentas. Evidência de metacognição em outros 
animais, portanto, seria uma grande prova da existência da mente animal.
Alguns cientistas começaram a explorar o assunto no início de 2000. 
Por exemplo, em um experimento, um grupo de macacos observou uma imagem 
e, depois de um tempo, tiveram que tentar selecionar a imagem de um 
grupo de quatro. Para quem acertasse, o prêmio era um amendoim. 
Em um fluxo de experiências, no entanto, os macacos poderiam perder a
 chance de ganhar o amendoim, em troca de um prêmio garantido – um 
alimento processado de macaco menos desejável. Os cientistas suspeitam 
que os macacos deixavam “passar” essa opção quando não tinham certeza da
 resposta.
Ele estava certo. Macacos que tinham a oportunidade de “passar” para a
 frente desempenharam muito melhor nos testes do que 0s do experimento 
“tudo-ou-nada”. Isto sugere que, quando dada a oportunidade, eles eram 
totalmente capazes de avaliar a sua confiança na tarefa, fornecendo 
evidências convincentes para a metacognição no macaco.
Novas pesquisas sugerem que eles são parte de um conjunto selecionado
 com essa capacidade. Os chimpanzés, como os macacos, demonstraram 
metacognição, mas os macacos-prego, embora inteligentes em outras áreas,
 parecem cair nesse obstáculo. Os resultados para os golfinhos não são 
claros, mas já ficou certo que criaturas como o pombo não estão à altura
 do desafio.
Descobrir se outras espécies inteligentes como os golfinhos e, 
talvez, os corvos, possuem metacognição é crucial para nosso 
entendimento da mente. Os cientistas precisam saber se a metacognição 
desenvolveu apenas uma vez, na linha dos primatas (que leva a macacos e 
humanos), ou se a característica se desenvolveu repetidamente e 
convergentemente, com picos de sofisticação cognitiva, em golfinhos, 
corvos, macacos e pessoas. Se esse for o caso, mudaria toda a nossa 
compreensão da evolução do cérebro dos primatas.
Muitos cientistas, entretanto, continuam achando que os humanos estão
 em um nível completamente diferente e muito maior de pensamento. Os 
chimpanzés, por exemplo, simplesmente não entendem conceitos físicos 
abstratos, como peso, gravidade e transferência de força. 
Tente colocar uma banana perto da gaiola um chimpanzé e fornecer-lhe 
algumas ferramentas para alcançar seu potencial lanche. Ele estará tão 
propenso a tentar usar um material desajeitado e mole quanto um objeto 
rígido para alcançar a banana. 
Ou seja, os chimpanzés podem raciocinar sobre coisas diretamente 
perceptíveis, mas somente os seres humanos têm um nível superior de 
pensamento que não depende apenas de estímulos sensoriais, permitindo-os
 formar conceitos mais abstratos, como gravidade ou força. 
Esses cientistas céticos são minoria, mas continuam achando que os 
animais não têm consciência. Como Descartes, eles chegaram à conclusão 
de que a linguagem é essencial para o pensamento. Isso porque mesmo um 
comportamento engenhoso – que não envolva linguagem – pode ser feito sem
 estar consciente (veja os humanos dirigindo um carro sem nem pensar 
nisso). Os comportamentos que eles não concebem fazer inconscientemente 
são os que envolvem o uso de linguagem.
Um dos problemas nessa área é que os estudos de comportamento só 
podem chegar a um certo ponto: você poderia mostrar um animal como uma 
mosca colocando chapéu e vestindo roupas, e ainda algumas pessoas 
poderiam dizem que é apenas uma série de reflexos.
Por essa razão, alguns pesquisadores estão tentando novas abordagens 
que possam resolver o argumento de uma vez por todas. Imagens do cérebro
 é uma das possibilidades mais promissoras. 
Por exemplo, pesquisadores usaram ressonância magnética funcional 
para estudar assinaturas de consciência do cérebro humano. Eles 
descobriram que existe um padrão similar de atividade neural cada vez 
que nos tornamos conscientes da mesma imagem de uma casa ou de um rosto,
 mas não processamos a informação da imagem inconscientemente. O 
trabalho sugere que o pensamento consciente não depende de qualquer 
região exclusivamente humana do cérebro, ou seja, não há nenhuma razão 
anatômica para dizer que o pensamento é exclusivo das pessoas.
Outro trabalho neurocientífico revelou alguns pré-requisitos 
importantes para a consciência que podem estar presentes em alguns 
animais. Conexões neurais que permitem que o tálamo transmita 
informações de sentidos para o córtex, por exemplo, parecem ser vitais 
para a percepção consciente. Outros mamíferos além de nós possuem tal 
conexão, por isso, eles têm pelo menos substratos para a consciência. 
Provavelmente podemos dizer o mesmo sobre as aves, o que parece se 
encaixar com as conclusões dos estudos comportamentais.
Algumas pessoas nunca vão se convencer do pensamento animal, já que 
acham que não há dados que possam responder a essa pergunta. Já outros 
estão otimistas com a procura dos equivalentes animais ao tálamo e 
córtex para resolver de vez o argumento. 
O que você acha?
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