“Esquece, entretanto, que o universo e a Terra não são resultado de 
sua criatividade nem fruto da sua vontade. Ele não assistiu ao seu 
nascimento, nem definiu a seta do tempo, nem inventou as energias 
primordiais que continuam agindo no imenso processo evolucionário e que 
estão atuando em sua própria natureza humana, parte da natureza 
universal. Ele se encontra na retaguarda, como o último a chegar nessa 
imensa festa da criação. Por ser anterior a ele, o universo e a Terra 
não lhe pertencem. Ele, na verdade, pertence à Terra e ao universo. Se a
 Terra não é o centro do universo, como é possível que o ser humano, 
filho e filha da terra, se considere seu centro e sua finalidade?”
Infelizmente o Antropocentrismo: o homem como peça fundamental e 
protagonista desse nosso Planeta, o início, o meio e mais do que 
provável, o fim de tudo, é uma realidade e uma barreira difícil de ser 
vencida. Para o antropocêntrico, nada além do ser humano possui valor 
intrínseco ou qualquer direito ao conceito de alteridade, nada, 
absolutamente nada é mais importante no Planeta do que seu ego. O que 
mais nos chama a atenção nessa palavra tão conhecida , é ver há quantos 
séculos as pessoas exploram os animais e que hoje, em pleno Século 21, 
muitas ainda vivem presas a esse passado tão antigo e violento.
O paradigma Antropocêntrico, essa visão de que tudo que existe ao 
nosso redor nos pertence para que façamos com ele o que quisermos e o 
que bem entendermos, parece já ter surgido durante a concepção do ser 
humano, porém, com toda certeza, não pode mais fazer parte do pensamento
 da humanidade, posto que tal paradigma nos leva a uma visão perigosa, 
tanto para humanos quanto para não humanos:
Tudo pode e deve ser feito em beneficio único e exclusivo dos seres 
humanos, não importando aí o que será destruído em seu benefício o que 
nos leva a exploração total dos recursos da Natureza, o uso brutal dos 
animais nas mais diversas áreas e com as mais absurdas alegações de que:
 Tudo no mundo é para nosso bem estar. A maioria que ainda pensa assim, o
 faz porque não conseguiu se livrar do peso das “mentes antigas” que 
exigiam o comando do conhecimento em todas as áreas: Ciência. Religião. 
Estado.
Esse é um dogma que persegue o homem até os dias atuais, talvez pelo 
simples fato de que alguns temam as mudanças, temam mudar seus valores, 
já que o orgulho os impede de caminhar e os impede de sequer imaginar, 
que um animal que durante muito tempo foi considerado um ser inferior, 
possa ter direito a vida tal como os seres humanos. Se isso acontecer, 
sobre quem o ser humano irá reinar então??? Talvez por esse ângulo seja 
bem mais fácil identificar a resistência ao fim desse paradigma, essa 
irracionalidade em se admitir tal verdade que viria a “ferir” a tola 
vaidade humana.
O motivo pelo qual, muitos alunos em cursos que utilizem animais ou 
não, jamais contrariarem seus mestres, nada mais é do que o medo da 
desaprovação, o medo de parecerem ridículos diante de suas convicções; 
eles não temem, contudo, apenas a reprovação, mas se envergonham em 
admitir perante professores e colegas que os animais possuem direito a 
vida e a liberdade, e que não foram feitos, a não ser dentro da mais 
medíocre mente humana, para servirem aos humanos.
Alguns alunos, talvez a grande maioria, ainda mantém dentro de si o 
Paradigma Antropocêntrico e não o combatem, acreditando que o professor 
sempre tem razão, “Magister dixit1″, quando julgam os animais humanos 
superiores diante dos animais não humanos. Talvez muitos desses alunos 
sequer gostem de animais, outros talvez tenham seus cães e gatos em casa
 e os adulem com mimos e guloseimas, porém, por uma razão que já nos é 
conhecida, não admitem que os animais de laboratório que servirão para 
um falso aprendizado, mereçam o mesmo amor e o mesmo respeito daqueles 
animais que deixaram em suas casas, que podem sentir tanta ou mais dor 
que seus bichinhos, levados a alguns veterinários que fizeram com 
certeza, a mesma opção de se omitir diante disso.
Ao se negarem a expor seus pensamentos por medo de serem 
ridicularizados, o que geralmente acontece diante de seus colegas, o que
 deixam de perceber é que depende muito mais deles do que propriamente 
de seus professores antropocêntricos, uma mudança ética no ensino.Não 
achem eles que seus professores, alguns muitos mais antropocêntricos do 
que outros, irão lhes dizer que usar animais em aulas didáticas, que 
alimentar-se de animais, ou usar suas peles como roupas, é uma 
desconsideração com os valores da verdadeira ética e da verdadeira 
moral, ou que incluir o tema de expansão da alteridade moral aos 
animais, fará parte do currículo acadêmico dessa ou daquela disciplina. 
Cabe a cada um, a cada aluno, vencer qualquer paradigma a fim de 
demonstrar que o antropocentrismo não eleva o homem, mas que é o 
responsável pelos maiores problemas que a História já presenciou. Um 
aluno não pode permitir que seja tirado dele seu senso de ética e de 
valor da vida, diante do que lhe é transmitido. Não é mais possível que 
hoje, com os conhecimentos que adquirimos no decorrer de anos, ainda nos
 esqueçamos de que os animais sentem medo diante da morte nos 
abatedouros ou que sentem dor durante as aulas de vivissecção. 
“Pertencemos ao Universo, não somos donos dele.” (F. Capra)
E não sendo donos do Universo, não temos o direito de dispor de nada 
que pertença a ele, nada que cause sofrimento ou morte. Os futuros 
doutores de amanhã, precisam mostrar aos seus professores de hoje que 
existem sim métodos alternativos. Os futuros filósofos precisam criar 
sistemas com valores baseados nos conceitos de respeito, compaixão e 
alteridade afim de que seja possível moralizar os indivíduos diante da 
natureza, dos animais e de si mesmos.Os alunos precisam muito mais do 
que apenas frequentar as aulas, precisam buscar conhecimentos fora 
delas, principalmente os conhecimentos que seus professores jamais irão 
lhes mostrar. Principalmente os filósofos precisam se ocupar dessa idéia
 de libertação, de alteridade para com os animais, para que a ética em 
relação a eles mude de tal forma que a fidelidade que antes era 
destinada a apenas uma espécie, passe a ser uma fidelidade pela Vida.
Não somos o centro de tudo, nem tampouco a medida de todas as coisas,
 nem o eixo no qual o Universo gira, não é a razão que nos separa dos 
animais mas o nosso orgulho e a nossa vaidade.
“(…) houve uma vez um planeta no qual os animais inteligentes 
inventaram o conhecimento. Este foi o minuto mais soberbo e mais 
mentiroso da .história universal, mas foi apenas um minuto. Depois de 
alguns suspiros da natureza, o planeta congelou-se e os animais 
inteligentes tiveram de morrer.” (F. Nietzsche)
O antropocêntrico se dispensa da alteridade para com aqueles que 
passa a julgar inferior, se dispensa da ética e de toda moralidade 
quando se coloca acima de qualquer outro ser.
Portanto, essas desconsiderações de valores, apoiadas somente na 
vaidade antropocêntrica dos seres humanos pode, daqui a alguns anos, ser
 apenas uma lembrança de uma raça que abusava dos recursos do meio em 
que vivia para proveito próprio, colocando-se como um ser acima da 
natureza, e não ao lado dela:
“[...] Imagina-se um ponto isolado e único, fora da natureza e acima dela. Arrogantemente se dispensa de respeitá-los.” (L. Boff)
“[...] Imagina-se um ponto isolado e único, fora da natureza e acima dela. Arrogantemente se dispensa de respeitá-los.” (L. Boff)
Podemos imaginar a partir desse ponto, o caos em que o Planeta ainda 
pode se transformar se não ocorrer a mudança desse paradigma para um que
 privilegie a vida, e não somente uma determinada espécie.
Referências Bibliográficas
BOFF, Leonardo – Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres
NIETZSCH – Friedrich – Os Pensadores – Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral
Nota
1 O mestre (o) disse”. É uma frase proverbial , que ficou popular 
pelos estudiosos se Aristóteles, para que a opinião de um mestre não 
admitia, em hipótese alguma, uma réplica.
Simone Nardi
Simone Nardi – criadora deste blog e do antigo Consciência Humana, colunista do site Espírita da Feal (Fundação Espírita
 André Luiz) ; é fundadora do Grupo de Discussão  Espírita Clara Luz
 que 
discute a alma dos animais e o respeito a eles.Graduada em Filosofia e 
Pós-graduada em Filosofia Contemporânea e História pela UMESP.
©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2013 
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente; Sugira; Critique; Trabalhamos a cada dia para melhorar o Blog Irmãos Animais - Consciência Humana