sexta-feira, 11 de abril de 2014

Como interpretar a frase ' A carne nutre a carne"?!

Kardec



Espiritismo



O assunto relacionado ao consumo humano de carne é, frequentemente, motivo de controvérsias dentro do movimento espírita. Isto ocorre porque, em um primeiro momento, ao ler "O Livro dos Espíritos" (L.E.), parece que os Espíritos aprovam, sem restrição, a alimentação carnívora. Entretanto, as duas respostas de “O Livro dos Espíritos” (L.E.) que abordam o referido assunto deveriam ser estudadas com mais cuidado. 

De fato, a frase "a carne nutre a carne", utilizada pelos Espíritos superiores para responder a uma destas questões não entra no cerne propriamente dito da questão levantada pelo Codificador, pois o principal problema não é a questão nutricional, mas sim o problema moral. É claro que podemos discutir os aspectos positivos e negativos da carne, do ponto de vista nutricional, mas o problema principal não é esse. Kardec poderia questionar se seria lícito fazer uso de bebidas alcoólicas, ou de excesso de algum outro tipo de alimento, e não o fez. O Codificador elege como questão mais relevante a discussão sobre a alimentação carnívora, provavelmente devido à questão moral relacionada à antiquíssima dúvida: é correto ou não matar animais para comer?! 


André Luiz
Obviamente, os mentores espirituais da falange do Espírito de Verdade sabiam disso, ou seja, sabiam das intenções do Codificador e das principais implicações relacionadas à questão levantada por Kardec. Vale, portanto, questionar: Por que não entraram no cerne da questão. Por que não a exploraram com maior profundidade? Por que não exploraram mais o assunto, nem em “O Livro dos Espíritos” (L.E.) e nem nos demais livros do “Pentateuco Espírita”? Na “Revista Espírita”, há uma mensagem muito contundente que sugere que deixemos e/ou minimizemos o hábito de ingerir carne. Tal mensagem estaria em contradição com o L.E.?! Kardec se enganou ao publicá-la na “Revue Spirite”?! Trata-se de uma mistificação que enganou o Codificador? Kardec a publicou porque considerou que o assunto não estava devidamente esclarecido?


É importante ressaltar que é lícito discutir a eficácia nutricional da carne como alimento e se é imprescindível ou não à nossa saúde física, mas a principal questão , sobretudo do ponto de vista filosófico-religioso, diz respeito ao fato de termos de abater os animais. Isso seria eticamente aceitável?! Seria moralmente elevado tal hábito?! 


Em suma, a qualidade da carne como alimento e o nível moral da atitude de se matar animais para alimentação são duas questões importantes, mas a segunda é a mais relevante do ponto de vista espírita. Se admitirmos a hipótese da atitude de se matar animais para a alimentação ser reprovável do ponto de vista moral, a relevância nutricional da carne não serviria de justificativa para contrapor o erro moral do abate dos animais. Esse subterfúgio seria ainda menos aceitável se houverem alternativas nutricionais que possam substituir a carne. 


Criança desnutrida
Muitos poderiam questionar: “Mas existem muitas pessoas que passam fome no mundo. Não seria lícito nesse caso?!” Essa seria uma segunda questão, e não a questão central e inicial. Essa questão seria o mesmo que dizer: “Consideramos eticamente questionável ou negativo o consumo de carne. Mas, e se estivermos passando fome?! Seria aceitável comer carne?!”. É possível que a resposta a essa segunda pergunta seja sim. Entretanto, das pessoas que ingerem carne, quantas estão passando fome?! E quantas não estão acabando com sua saúde por excesso de ingestão de carne?! 


Se os Espíritos da falange do Espírito de Verdade, em L.E., aprovam totalmente o consumo da carne, como alguns confrades sugerem, então Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos, entre outros, erraram completamente. Pois eles realmente têm posicionamentos marcantes sobre o assunto, que não corroboram a interpretação pró-consumo de carne das duas questões de L.E.. André Luiz tem afirmações contundentes a favor de, no mínimo, minimizarmos o consumo de carne tanto em "Os Mensageiros" como em "Missionários da Luz". Emmanuel também tem uma resposta bem explícita a favor da diminuição do consumo carnívoro na obra “O Consolador”. 


Autores espirituais importantes para a Doutrina Espírita como Emmanuel e André Luiz não poderiam errar tantas vezes, e com tamanha ênfase. Então, o que estaria acontecendo?!


A problemática questão parece envolver o momento histórico da publicação de “O Livro dos Espíritos”. À época, estávamos, por exemplo, muito longe de eliminar a escravidão no Brasil, (mesmo no chamado "Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”). A escravidão acabaria no Brasil somente em torno de 28 anos após a publicação da segunda edição (edição definitiva) de “O Livro dos Espíritos” (em torno de 31 anos após a publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”). Nos Estados Unidos, iria começar a Guerra da Secessão, que também era motivada, entre outros fatores, pela questão da escravidão. Ora, se o ser humano, em países civilizados, ainda escravizava outros seres humanos por causa da cor da epiderme, o que aconteceria se o Espiritismo levantasse, naquele tempo, a bandeira da alimentação sem carne?! A Doutrina Espírita seria ainda mais perseguida do que foi, mais ridicularizada do que foi, pois era uma discussão ainda precoce para a esmagadora maioria dos habitantes da crosta. Portanto, seria um desgaste desnecessário e contraproducente ao desenvolvimento do movimento espírita assumir tal posição naquela época. 


Emmanuel
De fato, muitos companheiros Espíritas da atualidade continuam achando eticamente elevado matar animais para comer.  Mais de 150 anos após a publicação da segunda edição de “O Livro dos Espíritos”. Se é difícil discutir isso atualmente, mesmo dentro do meio espírita, imagine naquele tempo. O ensino precisa chegar até nós no momento que estamos minimamente preparados para a sua assimilação. Em “Nosso Lar”, o Ministro Genésio afirma para André Luiz: “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Em “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos superiores afirmam: “Luz demais ofusca ao invés de clarear (esclarecer)”. De fato, o processo educacional para a mudança de costumes é constante, porém lento e gradual.

Alguns autores, visando simplificar a questão, afirmam que Chico Xavier comia carne. Na verdade, essa informação necessita de maior contextualização sobre os hábitos de vida de Chico Xavier.  Em todo caso, é bastante curioso tal argumento ser utilizado com tão frequência, pois três autores espirituais, dentre os principais que escreviam pela mediunidade de Chico Xavier, induzem a, no mínimo, diminuir tal comportamento. Quem, portanto, está com a razão: Os mentores e autores espirituais da obra de Chico Xavier (que consiste no principal legado de sua vida, pois é obra para ser estudada através dos séculos. Tanto é que Emmanuel dissera em uma famosa reunião de materialização, na qual Chico Xavier era o instrumento mediúnico: “A tarefa do Chico é o livro!”) ou aqueles que afirmam, de forma simplista que Chico Xavier comia carne. Chico Xavier tinha por hábito tentar ser simples e humilde e, na medida do possível, não constranger as pessoas que não tinham a elevação dos seus hábitos e, indiretamente, não criar uma idolatria exagerada sobre a sua pessoa, o que, apesar de seus esforços, acabou, em alguns casos, acontecendo. 


Chico Xavier
Além disso, esse argumento de que Chico Xavier comia carne não modifica em nada o conteúdo das obras que os instrutores espirituais dele trouxeram. Alguns simplificam a questão, o que parece ocorrer simplesmente porque comem carne, o que é um grave erro. Neste caso, estaria havendo uma distorção de um conceito doutrinário porque ainda não podemos vivenciá-lo, o que é um erro crasso visando uma justificação perante a consciência, o que, além de não funcionar, não faz o menor sentido perante a Doutrina Espírita. Quando pregamos Doutrina Espírita, não estamos pregando para os outros, mas para nós mesmo e não estamos afirmando que vivenciando tudo aquilo que nossa consciência já considera errado. “Os são não necessitam de médico”, e o fato de ainda não vivenciar integralmente os postulados espíritas, não nos inviabiliza para iniciarmos o trabalho doutrinário.

Afinal, o primeiro passo é o estudo doutrinário; o segundo é a conscientização do que é correto perante as Leis de Deus; o terceiro é a conscientização da necessidade de modificar para melhor os nossos hábitos, procurando a harmonização com essas Leis; o quarto consiste em traçarmos estratégias e iniciarmos o esforço de transformação efetiva de nossa personalidade; o quinto seria perseveramos no esforço iniciado para efetivarmos a médio ou longo prazo uma efetiva mudança para melhor.

Emmanuel afirma: 

“Começar é fácil; Perseverar é muito difícil; Concluir a tarefa é raríssimo!”



Reflitamos na necessidade de aprofundarmos o estudo doutrinário e o intercâmbio de ideias, sem preconceitos, para que cada vez mais “nos aproximemos da Verdade para que ela nos liberte”.



Leonardo Marmo Moreira, Centro Espírita Caminho da Paz

 

 

Para ler mais:

 

A carne precisa da carne?

Desconhecimentos e Desentendimentos Sobre Vegetarianos

 






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